Há falta de trutas nos rios do nordeste transmontano. O repovoamento de trutas mudou de paradigma.
Nos anos 90, com o viveiro das trutas de Castrelos e do Prado Novo, em França, em pleno funcionamento, ambos no concelho de Bragança, milhares de trutas eram lançadas regularmente aos rios e pescadas pelas associações de pescadores. Uma realidade que deixa saudades aos pescadores e que os investigadores e biólogos da área consideram que não faz sentido nos dias de hoje.
Orlando Freixo tem 59 anos e é pescador desde criança. Faz parte da Associação Recreativa e Ambientalista de Caça e Pesca de Alfaião.
No passado dia 28, esta associação realizou a última actividade de pesca, no Rio Penacal, em Alfaião. O pescador afirma que foi o que pescou mais peixes mas, mesmo assim, pescou apenas seis trutas. Um número que não agrada a Orlando Freixo que se recorda da abundância de peixes nos rios do distrito. “Conheço bem estes termos, desde pequeno que vinha à pesca com o meu pai, tanto para Alfaião como para a zona de França e Montesinho e têm-se vindo a degradar as condições dos rios. Isto está a piorar, dia após dia. O povo devia acompanhar o repovoamento”, frisa.
Os viveiros de Castrelos e do Prado Novo, ambos no concelho de Bragança, chegaram a produzir milhares de trutas para repovoar os rios do distrito. O viveiro do Prado Novo está abandonado há cerca de 14 anos. Maria Gonçalves, agora com 72 anos, cresceu no viveiro com os pais que trabalhavam lá e manteve-se como funcionária até que se reformou meses antes da infra-estrutura fechar definitivamente.
A habitante de França não tem dúvidas de que o viveiro era uma mais valia para a aldeia. “Às vezes vou lá com a minha irmã, porque fomos lá criadas e choramos sempre. Gostava que os meus netos vissem como é que aquilo estava a funcionar quando eu lá estava”, conta Maria Gonçalves.
Já o Viveiro do Baceiro, em Castrelos foi transformado num Posto Aquícola que pretende ser um mini fluviário, servindo de montra de espécies ameaçadas. O Instituto Politécnico de Bragança, em parceria com ICNF, começou a desenvolver o projecto “SOS-Save Our Species- Peixes e Bivalves Ameaçados do Nordeste”, no valor de 120 mil euros, financiado pelo por fundos comunitários. Amílcar Teixeira, um dos investigadores envolvidos no projecto, espera que o Município de Bragança e o Instituto da Conservação da Natureza e Florestas possam desenvolver uma parceria e potenciar o espaço que já recebeu alguns grupos de crianças. “Podemos evoluir para uma gestão mais sustentável, permitindo por exemplo a vinda de pescadores da Escócia ou Inglaterra que podem usufruir dos nossos rios e do nossa gastronomia, apostando noutro tipo de turismo, permitindo que a região aproveite estas mais valias”, considera o investigador.
O repovoamento dos rios do nordeste transmontano e o estado actual dos viveiros é o tema de uma reportagem que pode ler na edição desta semana do Jornal Nordeste.
Escrito por Brigantia
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