Neste dia de consoada em que se prepara a mesa de Natal, no nordeste transmontano há quem faça roscas. Na quadra natalícia, sucedem-se as festas associadas aos rituais de Inverno, que caracterizam algumas localidades do nordeste transmontano.
A partir do dia de Natal até aos Reis, são várias as aldeias do concelho de Bragança que integram a rosca nas suas festas, quer seja para cumprir os rituais associados à festa dos rapazes, como é o caso de Varge, quer seja para celebrar a festa de Santo Estêvão, sendo disso exemplo Parada, Grijó de Parada e Rio Frio, ou ainda para comemorar o dia Reis, como acontece em Rebordainhos ou Outeiro.
O antropólogo e presidente da Academia Ibérica da Máscara, António Tiza, explica que as roscas são uma forma de expressão do “culto ao pão”. Na aldeia de Pinela, a tradição tem passado de geração em geração e as roscas continuam a fazer-se a tempo de preencherem o “charolo”, uma espécie de andor, para a Missa do Galo.
As roscas são cozidas por estes dias na aldeia de Pinela para compor o “charolo”, que tem de estar pronto antes da missa do galo. As mulheres da aldeia ajudam-se umas as outras para dar continuidade à tradição que outrora se fazia apenas pelas mãos dos mordomos. Glória Afonso, de 83 anos, recorda-se bem desta tradição. “Do meio para baixo era só pão, do meio para cima levava açúcar e chamavam-lhe a rosca doce, depois arrematavam. Também se penduram ramos de rebuçados, bolachas e nozes.
Antigamente, arrematava-se a rosca da ponta que ficava para os casados, ou para os viúvos ou para os solteiros. Depois iam com uns cestos distribuir as roscas, acompanhados de música. Agora divide-se a rosca por todos e faz-se uma festa no salão da aldeia”, descreve a habitante de Pinela.
Já Maria Antónia, de 98 anos não esquece o tempo em que metia as mãos na massa para preparar as roscas. “Antigamente, amassava-se a massa com farinha de trigo e, com a rapadoura da masseira, faziam-se as formas das roscas. Estávamos toda a noite a fazer roscas e às vezes, com a mesma massa, fazíamos bonecos e bonecas, com saia e tudo. Tinha de estar tudo preparado para a Missa do Galo”, conta a idosa.
O valor arrecadado no arremate da rosca reverte a favor da festa em honra de Nossa Senhora do Rosário, que se comemora em Agosto.
Nesta aldeia, ainda se encontram mulheres que sabem fazer a rosca e homens que a arrematam mas, sendo Pinela caracterizada por uma forte comunidade de emigrantes e poucos jovens residentes, os habitantes da aldeia temem que a tradição possa perder-se. Por enquanto, a população vai empenhar-se para ter o “charolo” pronto para a missa do Galo, que este ano está marcada para as 22h30m.
No dia de Natal será a vez de arrematar a rosca.
Escrito por Brigantia
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