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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

As pronúncias do vento em Trás-os-Montes

   CRÓNICA
Alexandre Parafita
As zonas mais a nordeste de Trás-os-Montes entraram agora num longo período agreste, frio, ventoso, os tais “nove meses de inverno” que sucedem aos “três de inferno”. E ai de quem não tenha uma boa lareira à mão de semear! (“a fome e o frio metem um homem em casa do inimigo”), sendo certo que o povo, esse, está sempre prevenido: “Ande o frio por onde andar, antes do natal cá vem parar”.

E quanto aos ventos? Nada melhor que conhecer-lhes as linguagens. E o povo bem as conhece: “Com o vento de feição não há má navegação”, tal como, “se a aurora está ruiva, ou traz vento ou traz chuva” e “quando o vento vem do mar na noite de S. João, lá se vai verão”. E outras verdades imbatíveis: “Com o vento se limpa o trigo, e os vícios com castigo” ou “amigos de ocasião são como o bom tempo, mudam com o vento”.

A própria direção dos ventos é objeto de sugestivas cautelas e interpretações, pois bem se sabe que “o vento tanto junta a palha como a espalha” e “lugar ventoso, lugar sem repouso”. E se ele vem de todo o lado? “Vento de todo o lado é mandado p’lo diabo”.

Por isso, o povo transmontano distingue os ventos, conforme a sua intensidade e predominância: Vento de Noroeste, Vento de Norte, Vento de Nordeste, Vento de Nascente e Vento de Sudoeste.

O Vento de Noroeste é também conhecido como “Vento de Lomba”, em atenção ao nome da serra de onde provém. Embora não seja o pior de todos, o povo qualifica-o assim: “Vento de Lomba, frio na tromba”.

O Vento de Norte é conhecido por “Vento Galego”. Quando ele predomina, costuma o povo dizer: “Parece que pariu a galega”. É pior que o anterior (“Vento norte, três dias forte”) e é também este que sustenta o famoso provérbio “De Espanha, nem bom vento nem bom casamento”.

O Vento de Nordeste é chamado “Vento Cieiro” por ser muito frio e seco. Vem dos lados de Vinhais, em especial da Serra de Montesinho, que em Janeiro se cobre quase sempre de neve. Diz o povo: “Vento de Janeiro, vento cieiro”. As pessoas quando se expõem demasiado a esse vento ficam com cieiro nos lábios e nas mãos, daí o nome que lhe dão. É mais frio que o Vento de Noroeste, o tal de Lomba, e por isso também há quem diga: “Vento de Lomba, frio na tromba, mas se é de Vinhais ainda é mais”.

Por sua vez, o Vento de Nascente, conhecido igualmente por “Vento de Bragança”, não é menos ruim que os anteriores (“Vento de leste não traz nada que preste”). Queima os renovos por onde passa. Diz o povo: “De Bragança vêm os travessios”.

Quanto ao Vento de Sudoeste, também conhecido por “Vento de Vilartão”, dada a localização geográfica desta aldeia, já não é tão gélido como os outros, mas é mais húmido (“Água de vento traz meio sustento”). Por isso se diz: “Vento de Vilartão, água na mão”, e noutras paragens “Vento suão cria palha e grão”.

Tanta coisa se pode aprender com o povo transmontano. É preciso apenas subir uns degraus para ficar ao seu nível.

(Bibliografia: PARAFITA, A.; et al. – Os Provérbios e a Cultura Popular, V.N.Gaia, Gailivro, 2007)

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