António Bagão Félix |
Gigantes com pés de barro, por esse mundo fora e também aqui. Consequência directa ou indirecta do primado financeiro que domina a economia e a sociedade, da falta de escrúpulos e de ética empresarial, da visão excessiva do curto-prazo que beneficia os espertos e arrivistas, da incompetência de funcionários transformados em banqueiros e de banqueiros alcandorados a senhores do poder quase absoluto, perante os quais as autoridades democráticas se curvam em constantes salamaleques.
Não escrevo ainda sobre os detalhes da situação do BANIF, da incapacidade preventiva do Banco de Portugal, BCE, CMVM, auditores, raters e revisores, nem das manobras políticas para esconder a podridão. Vou aguardar por mais detalhes para além do que se sabe pelo comunicado somítico do Banco de Portugal e pela declaração selectiva do Primeiro-ministro. Estranhamente tudo num banco que, há 3 anos, tem tido o Estado como detentor da maioria do capital, até com administradores nomeados pelo governo.
Tudo vai à conta dos portugueses. Sempre se invoca o risco sistémico para nacionalizar erros, danos, prejuízos e desfalques privados, assim se gerando outro risco sistémico: o benefício do infractor. Sempre beneficiando do privilégio bancário da intervenção pública pela circunstância de os bancos terem como credores os depositantes. Mas, claro está, alguém já ganhou ou vai ganhar.
Muitos dos responsáveis desta calamidade passam entre os pingos da chuva. Alguns são reciclados para outras prebendas e pavoneiam-se na praça dos interesses. Continuam a achar-se grandes gestores pagos a preço de ouro. Outros vieram encartados pela política para servirem, promiscuamente, interesses estranhos à actividade. Todos se especializaram em capitalistas de passivos. Triste e degradante miséria, num país em que 20% da população é pobre ou em risco de severa pobreza, e o desemprego atinge transversalmente a esperança de muitas vidas.
Jornal Público
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