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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 5 de julho de 2020

O Velho Sendinêz e o Cavalo do Espanhol

Por: José Mário Leite
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)


Fracisco Niebro, no seu livro Belheç relata-nos as reflexões de um velho mirandês, há mais de cinquenta anos, sentado no poial da sua porta de casa, em Sendim. Falava assim o sendinês: “Andan uns tius de baixo pulas arribas a fazer marcaciones para ua presa na Bemposta. Ban a roubar un cacho de las arribas cumo fazírun als de Bilachana e als de por ende arriba. Ls filos de la eiletracidade pássan po riba, mas parqui nada bem. A roubar nien un rico s’aguanta, a quantas mais un probe”.
Igual desabafo poderia ter um velho pastor que na Póvoa, nos dias de hoje, se sentasse numa das muitas fragas sobranceiras ao Sabor, a olhar para o complexo hidroelétrico da Quinta das Laranjeiras.
A eletricidade que vai para Lisboa tem um custo e há que incluir nesse custo a paisagem perdida e a impossibilidade de fruição de momentos que apenas poderão ser revividos nos recônditos da memória. E contudo era necessário fazer a barragem. E contudo foi bom tê-la
feito, mesmo que se perspetive que não houve ainda a capacidade por quem tem o direito e dever, de por tão elevado património fazer pagar, a quem dele beneficia, o justo preço.
Conta-se que um espanhol resolvendo economizar nos custos começou a diminuir a ração que dava ao seu cavalo. O animal começou a estranhar, a queixar-se e a emagrecer, mas o dono achou isso natural e levou-o à conta da necessária habituação ao novo regime. E continuou a reduzir-lhe a porção de comida que lhe dava. Inevitavelmente o equídeo acabou por morrer. “Justo ahora que se había acostumbrado a no comer, va y se muere”. Obviamente que a história é exagerada, como muitas das histórias que pretendem ter uma lição moral, final. Mas pode ser reescrita de forma a aumentar a sua credibilidade e ter, por consequência, uma superior adesão à realidade.
Nesta nova versão o espanhol tem vários cavalos. E, nos tempos de crise que atravessamos, a necessidade de redução de custos é uma triste mas inevitável realidade obrigando a um corte nas despesas com a alimentação da manada. A escolha do ganadeiro pode ser lógica e reduzir por igual a alimentação de todos os animais ou fazer refletir o esforço todo apenas numa das cavalgaduras como fez o desastrado protagonista da história, tantas e tantas vezes repetida, para ilustrar esforços que podendo ser justificados em dose razoável, deixavam de o ser quando são levados ao extremo.
A construção da barragem das Laranjeiras constitui já uma grande participação dos moncorvenses no necessário esforço para reduzir a dependência dos combustíveis fósseis e tornar a produção de energia, mais ecológica e sustentável. Para além do dever de garantir que o benefício que o litoral tem desta contribuição tem tradução numa justa recompensa, cabe às autoridades locais assegurar que este esforço é proporcional, razoável e distribuído.
Se uns contribuem já com o recurso hídrico não será razoável que o eólico seja suportado por outros para que o respetivo custo seja repartido de forma justa e adequada?

José Mário Leite, Nasceu na Junqueira da Vilariça, Torre de Moncorvo, estudou em Bragança e no Porto e casou em Brunhoso, Mogadouro.
Colaborador regular de jornais e revistas do nordeste, (Voz do Nordeste, Mensageiro de Bragança, MAS, Nordeste e CEPIHS) publicou Cravo na Boca (Teatro), Pedra Flor (Poesia) e A Morte de Germano Trancoso (Romance) tendo sido coautor nas seguintes antologias; Terra de Duas Línguas I e II; 40 Poetas Transmontanos de Hoje; Liderança, Desenvolvimento Empresarial; Gestão de Talentos (a editar brevemente).
Foi Administrador Delegado da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana, vereador na Câmara e Presidente da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo.
Foi vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
É Diretor-Adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian, Gestor de Ciência e Consultor do Conselho de Administração na Fundação Champalimaud.
É membro da Direção do PEN Clube Português.

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