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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 1 de abril de 2017

Estudantes do Politécnico abriram portas à aceitação de refugiados em Bragança

Bragança acolheu há oito meses o primeiro e único grupo de refugiados que encontrou trabalho, apoio e aceitação da comunidade local facilitada pela convivência da cidade com os estudantes estrangeiros do Instituto Politécnico.
Este é o balanço feito pelos que chegaram à cidade e pela equipa que os acompanha, criada pela Santa Casa da Misericórdia, a instituição que recebeu em julho de 2016 três refugiadas, uma delas grávida, e dois bebés.

Uma das mulheres foi embora, com o filho, para França, poucos meses depois. Duas ficaram e trabalham na lavandaria da Santa Casa, com contrato de trabalho, enquanto os filhos bebés estão no Centro Infantil Cinderela da mesma instituição.

Melat, de 25 anos, fugiu da Eritreia e chegou grávida do primeiro filho, que vai ser batizado, no sábado de Páscoa, na Catedral de Bragança, com a presença do bispo da Diocese, José Cordeiro.

Maria, jovem com “idade incerta”, deixou dois filhos na República Central Africana. O terceiro nasceu em Itália, num campo de refugiados depois de, como Melat, ter fugido por vários países africanos e entrado num barco para chegar à Europa.

Gostam de Bragança, sentem-se seguras e “não há rejeição por parte da comunidade local”, como garantiu à Lusa Catarina Vaz, técnica responsável pela Casa Abrigo onde estão alojadas por conta da Misericórdia.

“Bragança sabe receber e também já está habituada com os estudantes [estrangeiros] do Politécnico que abriram muitas portas”, apontou a técnica, que já chegou a ir com estas mulheres às compras e a ouvir a perguntar-lhes se são alunas.

As residências construídas na zona histórica, numa parceria entre o Politécnico e a Câmara Municipal, facilitaram a convivência entre os estudantes de várias nacionalidades e a população e culturas diferentes, como observou a técnica.

A equipa destaca os donativos da comunidade de Bragança, desde roupas a carrinhos para os bebés, na fase inicial de receção destas famílias.

Mesmo aquele que é o maior obstáculo, o da língua, tem sido ultrapassado com “um novo dialeto”, como lhe chama Ana Saldanha.

Esta jovem trabalhou como voluntária com os refugiados e portugueses em situação precária durante o programa Erasmus na Dinamarca e, quando regressou a Bragança, ofereceu-se para acompanhar os refugiados.

Maria e Melat estão a aprender português desde que chegaram a Bragança, mas ainda não falam a língua de acolhimento, embora entendam. “Falar português é difícil, compreender é fácil”, dizem.

E, como a Lusa constatou que, entre palavras em várias línguas (árabe, tigrinês, francês) e gestos e afetos, a comunicação resulta.

Maria dobra roupa, passa, limpa, gosta do trabalho na lavandaria e gosta também dos idosos com quem convive habitualmente já que o lar é uma das várias respostas sociais da Misericórdia de Bragança.

Não gosta de estar longe da família e quer voltar depois da guerra, como disse à Lusa, enquanto mostrava, no telemóvel, fotografias da família que ficou em África.

Em Bragança, as refugiadas têm casa, água, luz, tudo pago, mas têm ainda dificuldade em perceber o valor monetário das coisas em Portugal, uma dificuldade que a equipa de acompanhamento está a tentar suprir.

Tanto Maria como Melat ganham o ordenado pago pela Misericórdia e apoios financeiros da Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR).

“É muito trabalho e dinheiro pouco”, diz Maria que, tal como Melat, tem de enviar dinheiro para a família.

A maior incógnita vai ser quando o programa de apoio, que dura 18 meses, acabar.

“Como é que estas famílias vão ficar no fim do programa, [altura] em que se acaba o apoio?”, questiona-se a técnica Catarina Vaz, pois sabe que “não é o emprego que garante a permanência.

Todos os refugiados que Portugal recebeu até hoje ainda estão a beneficiar do apoio da PAR. O desafio agora “é tentar programar a fase da autonomia”, já que até aqui são as instituições de acolhimento que suportam a maior parte das necessidades destas famílias.

Mari e Melat contaram à Lusa que estão a tentar “agora poupar, para depois conseguirem viver com menos dinheiro”.

Mas Catarina confessa que o seu maior receio “é um dia chegar à casa e não estarem lá”.

“Falta-lhes a afinidade, os amigos, a família”, observou.

O provedor da Santa Casa da Misericórdia de Bragança, Eleutério Alves, disse à Lusa que não teve mais nenhum contacto das autoridades nacionais para receber mais refugiados, apesar de haver disponibilidade local de acolhimento.

A Misericórdia mantém em aberto também outro programa destinado a refugiados com perfil diferente, nomeadamente agregados familiares que queiram trabalhar nas zonas rurais. Este programa ainda não teve candidatos.

O provedor garantiu que a instituição tem disponibilidade de habitação e de terras para serem trabalhadas.

Agência Lusa

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