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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 24 de outubro de 2017

CONTO DO VIGÁRIO

Por: Humberto Pinho da Silva 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas..."
Das numerosas histórias, que meu pai narrava, sobre a nossa família, havia uma, que nunca esqueci.
Não tanto, por a ter escutado várias vezes, mas por versar tema, que me impressionava:
Sofia era tia-avó de meu pai. Jovem, alegre, bonita e brincalhona. Casou cedo – como era costume, nas moças do seu tempo.
Meses após o matrimónio, o marido, resolveu embarcar. Embarcar para o Brasil, terra prometedora, onde era fácil juntar fortuna.
Vendeu os poucos bens que possuía, e abalou, na companhia da jovem mulher, para Santos. Dai tomou comboio para São Paulo, onde o esperava, português, amigo de infância.
Decorrido meses, estabeleceu-se; e tanta sorte tiveram (ele e o amigo,) que o negócio progredia a olhos vistos. Podia-se dizer: estavam ricos, ou pelo menos bem lançados na vida.
Andava a Sofiinha metida num sino. Ao visitar a amiga Júlia de Castro, não se conteve, e confessa-lhe: “ que nunca pensou levar vida tão folgada”….
Mas a sorte, tanto anda, como desanda. O marido adoeceu. Por recomendação médica, mudou-se para Campos de Jordão, mas pouco lhe adiantou: faleceu.
Meses depois do funeral, ao receber a parte, que tinha direito, o sócio, levando-a para o escritório da firma, disse-lhe, em voz de pesar e conselheira:
- “ Sofiinha: você sabe como era amigo do falecido. A Sofiinha esteja descansada, receberá sempre o que lhe é devido dos lucros da padaria. Mas, por que não regressa a Portugal? Sempre estava na sua terra… na companhia dos seus. Sabe como é: viúva, em terra grande…nunca está segura.”
Sofiinha pensou, tornou a pensar, e concluiu: que o sócio tinha razão.
Assentou, então, aceitar o parecer do amigo.
Passou procuração. Fez as malas. Despediu-se das poucas amigas, e partiu para Santos, na companhia da família do sócio.
Regressada à casa paterna, aguardou o envio do dinheiro, conforme combinara. Como tardasse, escreveu…Não obteve resposta.
Receosa, consultou advogado, contando-lhe o sucedido.
Decorrido meses, soube o seguinte:
O sócio, obtida a assinatura na procuração, passou a padaria para seu nome.
Tinha caído no conto do vigário.
Concluía, assim, meu pai: “ Não se pode acreditar em ninguém! Muito cuidado a passar procurações e assinar folhas em branco ou parcialmente preenchidas, porque não falta quem dizendo-se muito honrado e amigo – nos tire o que é nosso, e ainda temos que agradecer, se não nos deixar dividas! …”
Eu, que já muito vivi, garanto-vos que todo o cuidado é pouco, principalmente, quando nos cercam com palavras mansas e bocas cheias de risos…


Humberto Pinho da Silva nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG”. e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".

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