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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 17 de outubro de 2017

QUE DEUS E A CHUVA NOS VALHAM

Ontem acordámos em Bragança com cinza a cair-nos sobre a cabeça, um céu cor de brasas mortiças, o ar tomado por um fumo de lume gasto, que nos fazia respirar como nos arrabaldes do inferno.
Outono dentro o país voltou a arder, como só se vira antes, no fim da primavera, ceifando outra vez dezenas de vidas, depois de um verão em que o terror rondou as almas todos os dias, porque se foi sabendo que as estruturas de combate aos incêndios, num ano de estranhos eventos climáticos, eram a expressão ridícula da inépcia e da desordem, impensáveis num país do clube dos desenvolvidos, onde os responsáveis políticos reclamam a condição de verdadeiros estadistas.
Foi-se gemendo e suspirando, contando com o ombro do Presidente da República, sempre disponível para lamentações, enquanto se anunciava um relatório sobre as causas de tão grande devastação e tragédia. Soubera-se, no fim da semana, que tal relatório pusera a nu a inoperância, o descuido, mesmo a displicência de enfatuados “boys”, colocados na estrutura da Protecção Civil, alguns entretanto caídos do pedestal por terem aldrabado as habilitações.
Além disso, não apagava a sensação de que o sistema de comunicações utilizado é uma verdadeira sucata, vendida há anos como suprassumo, num contrato em que o Estado não garantiu penalizações para incumprimentos, nem sequer para refinadas vigarices.
Perante os fogos de cada dia, o sistema falhou repetidamente, mas nada foi feito para garantir uma alternativa credível, nomeadamente a mobilização a sério de estruturas militares e policiais para garantir vigilância mais apertada sobre focos de incêndio e perseguição activa a eventuais lançadores de fogo a soldo de interesses inconfessáveis.
Pelos vistos, esperou-se que a chuva viesse fazer esquecer a tragédia de Pedrógão. A misericórdia divina não faltaria. Desmobilizou-se o aparato de vigilância e de combate a meio de Setembro, até que recrudesceram os incêndios e voltou a ficar à vista o caos. Só então se repuseram os mecanismos, pelo menos formalmente.
Eis que no domingo, o Altíssimo ter-se-à distraído, deixando ao acaso dos caprichos da natureza e da malvadez a sorte de mais uns milhares de cidadãos, que viram queimadas as vidas ou reduzidos a pó os projectos de resistir enraizados na sua terra.
Um sistema que não é capaz de garantir condições pa­ra que os cidadãos se sintam seguros e confiantes, recua aos tempos primordiais, quando os poderes das profundezas moldavam as vidas e só restava aos pobres humanos recorrer a entidades que lhes aliviassem as angústias, evitando miraculosamente as tragédias.
Se continuarmos assim, dispensamos a construção política e ficamo-nos pela esperança de que os deuses nos valham ou, simplesmente, pela melancolia que a vida será só o que Deus quiser, enquanto vamos enchendo as redes sociais de lacinhos pretos e lamentos piedosos, à espera da próxima catástrofe.


Teófilo Vaz
in:jornalnordeste.com

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