Os alunos do curso de artes visuais e o professor Manuel Trovisco, do Agrupamento de Escolas Emídio Garcia, decidiram homenagear as vítimas dos incêndios, na sua mais recente obra.
Foge aos padrões dos presépios que estamos habituados a ver, onde a imagem das figuras transmite alegria e acima de tudo serenidade. O presépio construído, este, ano na Escola Emídio Garcia, foge ao tradicional e passa a imagem dura e diferente para mostrar aos mais novos que a vida nem sempre é a felicidade que nos é passada pelos anúncios e melodias que invadem o nosso dia-a-dia nesta altura.
Manuel Trovisco, explica que esta é “uma singela homenagem às vítimas dos incêndios e às pessoas do interior, que geralmente estão esquecidas em pequenas aldeias.”
“Como somos transmontanos e estamos aqui um bocado perdidos no interior, pareceu-me que também teríamos aqui a possibilidade de manifestar alguma revolta, perante esta situação de estarmos aqui isolados e esquecidos comparativamente com as zonas do litoral e aos grandes centros”, acrescenta.
O presépio é feito uma parte com materiais reciclados, cartão, madeira, pasta de papel, e outra parte com pasta de moldar e barro.
O feedback dos alunos que não estão envolvidos no projecto é positivo apesar de acharem “um bocadinho estranho, porque têm aquela ideia do presépio muito bonito, com os bonecos muito bonitos, e neste caso tentamos dar uma imagem diferente onde as figuras têm expressão e algumas não têm expressão de pessoas felizes, mas de pessoas que sofreram e que perderam tudo o que juntaram na vida.”
O professor diz que sendo o objectivo da escola é preparar os alunos para a vida, e por isso também mostrar-lhe que “o Natal não só Iphones de última geração. A ideia é consciencializar para lá daquele mundo que eles imaginam e mostrar que às vezes a vida é complicada.” Numa altura em que o consumismo é um hábito implementado desde tenra idade, a escola quer despertar a atenção para as pessoas que não têm nada, e que mesmo as vezes os pais nem sempre têm possibilidades de comprar tudo o que os filhos pedem. “Nós enquanto escola, além do conhecimento, temos a obrigação de transmitir estas mensagens ”, disse o professor.
Neste projecto do presépio têm estado a trabalhar 20 pessoas ao longo de 20 dias, “as peças pequenas dão bastante trabalho, cada um faz duas ou três, porque os alunos também têm outras aulas e então há pouco tempo para trabalhar neste projecto.”
O professor acrescentou ainda que este é um trabalho onde os alunos podem por em prática uma série de conteúdos que aprenderam no primeiro período lectivo, “nomeadamente, a figura humana, que é um dos conteúdos principais das matérias de desenho”, tudo gira à volta da figura humana, das proporções, da escala, dos ângulos, da relação com as peças de mobiliário, o meio ambiente. “Aqui trabalhamos numa escala difícil, em que partimos de uma peça com 30 centímetros de altura, e depois temos que tentar que tudo à volta fique proporcional”, explicou o docente.
Esta é uma forma de os alunos relacionarem os conteúdos de desenho, com os aprendidos em Religião e Moral, História ou Geografia. Manuel Trovisco acrescenta também que “esta representação do presépio aparece como uma regra do contraste, pois nesta altura, de certa forma celebra-se a alegria e o nascimento, e aqui nós representamos quase o oposto. Pensámos na ideia através do seu contrário e aqui de certa forma está aplicada.”
Escrito por Brigantia
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