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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

ZAGATTI, O SEMEADOR DE SONHOS

Por: Antônio Carlos Affonso dos Santos – ACAS
São Paulo (Brasil)
(colaborador do Memórias...e outras coisas)

Houve uma eclosão de meus conceitos literários! Os catadores de materiais recicláveis que trabalham nas ruas são responsáveis por parte do esforço que o ser humano consciente faz para melhorar o nosso habitat no planeta Terra; eles nos ajudam a economizar papéis, ou seja, árvores e oxigênio; ajudam a economizar alumínio, ou seja, deixamos de devastar a natureza e queimar combustível natural para processá-lo; ajudam a economizar derivados de petróleo, como produtos PET, etileno, polipropileno, poliestireno (PE), PVC, ABS e etc. (as siglas são muitas e proferi-las em nada contribuem para o assunto em pauta). Há uma década, havia pessoas que disputavam com os urubus, entre o mau-cheiro de dejetos em decomposição, o botim da luta árdua pela sobrevivência. Dali elas tiravam o sustento, além dos pequenos “confortos”, como comprar uma roupa, um calçado e móveis usados; materiais valiosos, sob seus modos de ver a vida. Normalmente moram em casas improvisadas, de papelão, plásticos e madeira catadas alhures, de cujos materiais faziam suas "casas".
Hoje, espocam em todos os rincões as cooperativas, que de certa forma contribuem para com a cidadania dessas pessoas, pois ao perceberem renda, elas se tornam compradoras e, portanto, fazem parte da sociedade. Em muitas prefeituras, pelo Brasil afora, temos notícias de grupos de pessoas pobres que formam cooperativas e fabricam seu próprio pão, fazem compras em grandes mercados que vendem abaixo dos preços praticados nas cidades e rateiam os víveres e a conta. No entanto, não se iludam com os políticos: a maioria deles, não foge à regra; aproximam-se dessas pessoas com objetivos eleitoreiros. Este comportamento político talvez seja a "Pedra no Caminho" dessa legião de pessoas que trabalham como catadores: a Pedra no Caminho é uma alusão que faço ao lindo poema do poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade que, se nesse tema aqui alavancado não cabia; fi-lo caber: e ponto final!

O Sonhador
Existe um catador de papéis, que construiu com um lençol de sua própria casa, cadeiras velhas, pedaços de filmes de cinema e um velho projetor; tudo encontrado nos lixos das ruas de Taboão da Serra, cidade próxima da capital de São Paulo. Com isso tudo, fez um cinema; o É o Mini Cine Tupy, que funciona aos domingos no quintal de sua casa, onde todas as crianças (inclusive muitos adultos) assistem (ou já assistiram) cinema pela primeira vez em suas vidas. 
São sessões gratuitas, onde não faltam carinho, pipocas e até a distribuição de pequenos brindes, distribuídos por sorteio no final das sessões dominicais. Os brindes não são nada sofisticados, são pequenos brinquedos de origem chinesa, comprados em lojas de miudezas (R$ 1,99 cada). 
José Luis Zagatti (ou simplesmente Zagatti) é este homem sonhador. Eu o conhecia de movimentos culturais em que participávamos, em Taboão da Serra, cidade que faz parte da “Grande São Paulo”; onde ele era catador de materiais recicláveis largados nas ruas e praças. Nas suas palavras, ele era um reciclador, nome que considerava mais nobre. 
Certo dia achou uma máquina de projeção de cinema, no lixo de uma empresa. Apaixonado que era por cinema e sem condições de ir a cinemas (em São Paulo um ingresso de cinema chega a USD $15.00 e o salário mínimo mensal não passava, à época, de USD $200.00 – comparem os valores!); o Zagatti levou um tempo “consertando” o projetor de25 mm, ajustando as peças, trocando fios elétricos, substituindo pequenos parafusos e placas de chapas metálicas muito finas, azeitando as articulações, limpando as lentes e fixando-as da melhor maneira, até fazê-lo funcionar. Em outras oportunidades encontrou pedaços de filmes de cinema, os quais foram devidamente limpados. Recortou-os e colou-os uns aos outros, de maneira não cartesiana. Com esse filme, testou seu projetor; com os dois, montou seu próprio cinema! Um amigo dele, também reciclador, achou vários metros de fotogramas, com os quais presenteou Zagatti. Sabendo onde o filme foi encontrado, Zagatti foi até o local, procurou muito e acabou por encontrar quase um milheiro e meio de fotogramas. No domingo seguinte, começou a fazer a limpeza dos fotogramas que tinha em mão; lavou todos os fotogramas com água e sabão, cortou os trechos rasgados ou com imagens apagadas com canivete e colava as partes nítidas com fita adesiva. Montou assim o “filme” com o qual fez a primeira projeção em família. O filme, que poderia ser chamado de “Frankstein” (posto que fosse formado por pedaços de filmes distintos), era apenas uma grande mistura de imagens: cenas de perseguição policial em ruas de Nova Iorque, cenas bucólicas, imagens de documentários mostrando cidades da América do Norte e da Europa, documentários sobre os indígenas do Brasil, ”westerns” (faroeste) e etc.. As imagens não tinham uma sequência grande; trechos da fita não tinham nada em comum com o trecho anterior; nem do posterior tampouco. Não havia som, nem havia uma ordem: MAS HAVIA UM SONHO! 

Quem é o Zagatti
Segundo pesquisa in loco, feita pelo jornalista Júlio César Caldeira, Zagatti é paulista da cidade de Guariba (SP), região de Ribeirão Preto (Brasil); portanto próxima a Cravinhos, cidade natal deste autor. Zagatti entrou pela primeira vez numa sala de cinema, pelas mãos de uma irmã, quando tinha apenas cinco anos de idade, para assistir um filme de “cowboys” (ou western), mais conhecidos como “faroeste”. Desde então, aquele “retrato dinâmico de imagens” projetadas numa grande tela, nunca mais saiu da sua cabeça. Ele declarou, por diversas vezes de que quando chegou à sua casa, após ter visto um filme de cinema pela primeira vez tentou, sem sucesso, fazer um projetor com caixotes de madeira. Era um caixote grande o suficiente para que ele entrasse e pudesse segurar uma lâmpada incandescente acesa, cujo feixe de luz passava imagens através do furo de cerca de 10 cm de diâmetro que fizera na lateral do caixote. Como não havia nenhuma imagem para interceptar o feixe de luz do projetor, punha os dedos à frente da lâmpada e transmitia a sombra de suas pequenas mãos, tentando formar figuras. Pobre, filho de lavradores, não pode ir ao cinema durante muito tempo, até que a família se mudou para Taboão da Serra à procura de trabalho em São Paulo. Uma das atrações da cidade era o Cine Tupy e que ele, por não ter dinheiro, ficava à porta imaginando-se lá dentro recordando-se da experiência que tivera na sua infância.
Começou a fazer biscates para ajudar a família e, o pouco dinheiro que poupava era gasto para ir ao cinema. No início da década de 1990, Zagatti ficou desempregado; como alternativa, tornou-se sucateiro. Enquanto procurava material para reciclar, começou a encontrar pedaços de rolos de filme, como veremos adiante. Ainda em 1997, comprou um projetor de 16 mm por R$ 80,00 (menos de USD $ 50.00), no centro de São Paulo e, nessa mesma noite, projetou num lençol no meio da rua, trechos de filmes que tinha recuperado. Para sua surpresa, cerca de 50 pessoas, entre crianças e adultos, assistiram à sua primeira projeção. Durante a semana, enquanto recolhia sucata, sempre que encontrava locais com muitas crianças, perguntava se poderia exibir naquele local um filme. Então, punha-se, com a ajuda dos filhos, a levar até os locais, à descoberto (ao relento), seu projetor e um lençol que usaria como “tela”.
Durante muito tempo foi essa a sua paixão, mas a chuva às vezes impedia a projeção e foi dai que veio a ideia de montar um cinema. Como a sua casa era pequena, em 2003 vendeu-a e comprou outra, num bairro próximo e, usando o seu dinheiro e o de algumas doações, construiu uma pequena sala de cinema na própria garagem inacabada, batizando-a de Mini Cine Tupy. A partir desse momento, o seu objetivo era passar um filme inteiro e, depois de muita insistência por parte de Zagatti, Arquimedes Lombardi, da “Associação de Colecionadores de Filmes em 16 mm”, ofereceu-lhe um filme de longa-metragem, o “Cruéis Dominadores”, filme norte-americano, preto e branco, rodado em 1951, que tratava sobre o nazismo. O filme era dirigido por William Cameron Menzies. Dessa forma, a 16 de agosto de 1998 foi realizada a primeira projeção de um filme completo por Zagatti. Meio século depois de haver conhecido o cinema, Zagatti apresenta aos moradores da sua comunidade, em Taboão da Serra, Grande São Paulo, a única ideia que eles têm do cinema. Há quinze anos projeta na frente de sua casa em eterna construção, naquilo que ele pretendia chamar de garagem, em sessões gratuitas com direito até a pipocas; filmes antigos em 25 mm ou em 16 mm; numa máquina que ele mesmo comprou por oitenta reais (menos de USD $ 30.00).
Hoje ele é o "dono" do Mini Cine Tupy, que ele abre gratuitamente às pessoas pobres da periferia onde vive; com destaque para as crianças, sempre em maior número. Além da própria “garagem”, a sala de projeções do Mini Cine Tupy funcionou também em outros endereços; tais como a sala da casa de sua mãe e em um galpão emprestado, tudo isso em Taboão da Serra – SP-Brasil. Nas apresentações que fazia no seu Mini Cine Tupy, os filmes eram emprestados e os bancos eram de cimento, mas a alegria era do público e as pipocas eram patrocinadas por ele próprio.

Como as coisas criaram formas
Além do lirismo dessa história, há um fato importantíssimo por trás da atitude do cinéfilo, uma realidade que ele conhece muito bem: "Não há como as pessoas daqui irem ao cinema!", testemunha Zagatti, que ficou mais de vinte anos sem pisar numa sala de projeção. "É com isso que eu me preocupo bastante. A periferia das grandes cidades é esquecida. Em todos os departamentos é assim, principalmente no da Cultura"!
Zagatti nunca havia procurado ajuda do Estado, ou da Prefeitura, para seguir com seu pequeno cinema ou mesmo ampliar suas instalações.
A única ajuda que recebia, há oito anos, era da Associação Paulista dos Colecionadores de Filmes, que lhe fornecia filmes novos, sempre que podiam. "Conversamos bastante. Não sou como eles; sou humilde, mas sou considerado um colecionador também", conta Zagatti com justificável orgulho! 
No entanto, sua humildade não o impede de enxergar a realidade na qual vivem os moradores da periferia. E a vontade de propiciar uma luz no fim do túnel, aliada à sua paixão pelo cinema, o motivou a começar e o impulsiona a continuar. Zagatti costuma dizer que “Uma ou duas hora que as crianças ficam reunidas em torno de uma tela e de um projetor, já é uma forma de diminuir contato com a marginalidade, o que futuramente poderá evitar problemas para elas e para a sociedade de modo geral". Ele ainda cia uma frase de um livro do educador Paulo Freire:  "Ninguém educa ninguém e ninguém se educa sozinho". 

Origem do nome do “cinema do Zagatti”
Quando chegou a Taboão da Serra, o Zagatti conheceu o único cinema que Taboão da Serra teve por muitos anos: o Cine Tupy; cinema este criado e mantido por uma família tradicional de Taboão da Serra. Para se ter uma ideia, mudei-me para Taboão da Serra na década de 1980 e tal cinema já não mais existia havia uns quinze anos. Eu sei até onde funcionava o Cine Tupy, porém jamais vi ao menos uma foto dele; onde sobraram imagens foi na cabeça do Zagatti. Sempre achei esta homenagem do Zagatti uma das maiores demonstrações de sua alma pura. Portanto, o Mini Cine Tupy é uma homenagem do Zagatti ao antigo cinema de Taboão da Serra. O Mini Cine Tupy funcionou por pouco mais de dez anos.

Mais dados sobre o cinófilo Zagatti 
José Luís Zagatti é apenas um dos vários casos que existem em todo o país, de pessoas que, cansadas de esperar alguma atitude dos órgãos públicos, resolveram arregaçar as mangas e criar um movimento de reação da sociedade. "É uma tendência que vem se espalhando no Brasil desta década", analisa a ensaísta e professora Walnice Nogueira Galvão in ..."Uma iniciativa pessoal que tem por ambição sanar lacunas e falhas do tecido social”.
 Bons exemplos, como o do meu amigo Zagatti, devem ser seguidos. Creio que deva haver centenas de Zagattis, espalhados em todo o mundo. O impacto social de sua ação junto aos necessitados acabou por torná-lo famoso na região, depois por todo o país e alguns lugares do estrangeiro. Seu Mini Cine Tupy acabou por transformar-se numa ONG, já que era difícil sustentar prole enorme e custos com o seu cinema.

Como o Zagatti foi “descoberto” e ficou conhecido
O professor de música e canto orfeônico, Nelson, funcionário da Prefeitura Municipal de Taboão da Serra da Secretaria da Educação e Cultura, foi um dos “descobridores” do cinéfilo Zagatti. A sua existência e sua obra solitária na Vila das Madres, bairro paupérrimo de Taboão da Serra, emocionaram o professor de música. Sua história foi repassada ao Secretário de Educação e Cultura e deste ao Prefeito Municipal. 

Zagatti no “dia seguinte” da fama
Nos últimos oito anos; Zagatti não deixou de ser uma pessoa de vida e hábitos modestos, mas deixou de catar material reciclável nas ruas e becos de Taboão da Serra. A notícia de sua existência e sua obra, repassada pelo serviço de assessoria de imprensa da Prefeitura de Taboão da Serra, tornou-se matéria com fotos do jornal “O Estado de São Paulo”. Depois disso, foi convidado a dar entrevista no programa “Mulheres”, da TV Gazeta, de São Paulo. Sua humildade, seus sonhos, sua preocupação com seus filhos e os filhos dos moradores da periferia, sensibilizaram muitos corações. Ele ainda tem aquela “cara que irradia bondade”; a meu ver o seu maior trunfo. 
A efervescência cultural no início dos anos 2000 me fez conhecer pessoalmente o Zagatti (quando este autor começava a levar mais a sério o propósito de escrever literatura, participando ativamente nos movimentos culturais em Taboão da Serra). Propiciou também ao Zagatti ter contato com o pessoal de teatro (à época Taboão da Serra tinha ao menos cinco grupos de teatro; um deles era mantido, ainda que minimamente, pela prefeitura. Pois foi este grupo que deu ao Zagatti a primeira oportunidade de trabalhar em uma peça de teatro experimental, onde o Zagatti participou como adjuvante. Portando um projetor portátil, transformava a peça experimental num caos ainda maior: projetava imagens por sobre os personagens da peça, onde os atores eram a tela. Eu, ACAS, estive lá e constatei a felicidade que ele tinha em participar do evento.
Em toda sua vida Zagatti só havia visto teatro de circo mambembe, lá na nossa terra, no interior de São Paulo. Uma matéria publicada pelo jornal “O Estado de São Paulo”, repercutiu na França. A partir dela vieram jornalistas e gente da televisão para conhecê-lo e ao seu Mini Cine Tupy. Depois que foi mostrado na França, Zagatti foi convidado a participar de programas de televisão em São Paulo: na REDE TV (em programa de auditório), quando ganhou da apresentadora um telefone celular (ou telemóvel, como os lusos dizem). O sucesso e o impacto que sua figura fizeram neste programa foi tão grande, que passados dezesseis  anos, creio que a audiência do tal programa jamais chegou ao número de telespectadores daquele dia. Os jornais franceses compararam sua história e seu Mini Cine Tupy, com o filme premiado mundialmente, o “Cinema Paradiso”. Zagatti participou também do programa de entrevistas mais famoso do Brasil, o “Programa do Jô”, apresentado pelo multiartista Jô Soares (ator, dramaturgo, escritor, diretor de cinema e teatro, cômico e entrevistador por excelência), na poderosa e conhecida Rede Globo de Televisão. Após sua participação, Zagatti recebeu uma dezena de filmes novos, um novo projetor, caixas de som, uma máquina de fazer pipoca e um saco de milho, para fazer as guloseimas.

Popularidade e Reconhecimento
A história de Zagatti já teve direito a três documentários: “Z.inema”, de Carol Thomésendo; “Mini-Cine Tupy”, de Sérgio Block; e “Zagatti”, de Eduardo Felistoque e Nereu Cerdeira, tendo este documentário ganhado diversos prémios em vários festivais de curtas-metragens, no Brasil bem como o troféu Kikito, considerado o Óscar do cinema brasileiro e recebeu o prémio de seleção oficial no Festival de Sundance (EUA) em 2002,[7] sendo provável a passagem à longa-metragem da vida de Zagatti, levada a cabo pela produtora de cinema ZYD.
Zagatti conseguiu popularidade por méritos e reconhecimento. Sobre ele foi feito um filme “documentário” de curta – metragem, filme este premiado no Festival de Cinema de Curitiba, em 2003, onde o Zagatti foi receber o prêmio e arrebatar a plateia de atores e gente de cinema e empresários.
O Filme “Zagatti”, acima referido, ganhou o prêmio de “melhor filme” no 7º Festival dos Festivais de Cinema de Curitiba. O 7º Festival de Curitiba aconteceu entre os dias 19 e 24 de Maio de 2003. O filme mostra um dia na vida do Zagatti, como “catador”. Porém, ao vê-lo puxando seu “carrinho” e separando papelão, metais e não metais; ouvimos uma declaração sua, demonstrando a importância ecológica de seu trabalho. Ele diz que cada papelão que coleta e que vai ser reciclado, é uma árvore a menos a ser abatida na natureza; a mesma coisa a respeito de materiais recicláveis como alumínio, plásticos, cobre, ferro e etc.; como ficou aqui bem claro até um cinema praticamente “emergiu” do lixo. Zagatti recebeu o Kikito - Prémio Especial do Júri no 30º Festival de Gramado, em 2002, pela sua paixão e dedicação ao cinema no Brasil.
Nos jornais locais, em Taboão da Serra, inclusive n´O Taboanense, onde este autor colaborou por um ano; dá-se como certo a execução de um filme de longa metragem sobre o mesmo tema do “Curta Metragem”, que foi premiado. Segundo divulgado, até o intérprete para o lugar de Zagatti já foi escolhido; trata-se nada mais nada menos que o ator Lima Duarte, sobejamente conhecido pelas novelas nas quais participa pela Rede Globo de Televisão, além de trabalhos no teatro e no cinema, naturalmente! Infelizmente, tal filme nunca foi concretizado até os dias atuais.
A jornalista Adriana Bosco assim escreveu, em fevereiro de 2001: “ ... dizia o Zagatti: a primeira vez que eu entrei em um cinema eu estava no colo da minha irmã. Vi aquela imensa tela branca, aquela luz que saia de um lugar escondido e refletia nela depois de atravessar toda a sala; de imediato me encantei!“.
Concordo com a jornalista Adriana Bosco, quando afirma que há que se construir um Mini Cine Tupy em cada cidade pobre do mundo, em todos os continentes. Se os governantes não resolvem os problemas sociais, a esperança de um Mini Cine Tupy em cada um desses lugares miseráveis do mundo, traria senão a redenção, pelo menos a perspectiva de um mundo melhor, com mais esperança. Talvez a nossa presença neste mundo faça sentido se nos irmanarmos nisso, ou se plantarmos esta semente. 
Segundo o jornalista Júlio César Caldeira, José Luis Zagatti é apenas um dos vários casos que existem no Brasil, de pessoa cidadã por excelência que, cansada de esperar por alguma atitude dos órgãos públicos, resolve arregaçar as mangas e criar um movimento, ou principiar uma ação de reação da sociedade. O Zagatti achou seu próprio modo de criar espaço de lazer para as crianças pobres, como até plantar sementes de brasilidade e de cultura. 

Epílogo da vida de um mito da periferia de São Paulo – Brasil
Este autor se preparava para enviar este texto para o site “Memórias e outras coisas”, e tentou mais uma “carpintaria” (embelezamento) do texto, fazendo mais uma pesquisa sobre o amigo, e personagem principal do texto, quando chegou a meu conhecimento a notícia de que meu amigo Zagatti faleceu em 26 de outubro de 2016, vítima de câncer, contra o qual lutou por um ano e sete meses. Eu não sabia do fato, pois estou fora de Taboão da Serra há dez anos e perdi contato com os artistas e intelectuais da cidade. Minha atual situação financeira fez-me deixar de comparecer a muitos lugares, inclusive a cinemas e teatros. Informo que Zagatti deixou nove filhos, três irmãos e dezesseis netos.
Eu, ACAS, lembro a “parábola do semeador”, do texto bíblico:
...” Saiu o semeador a semear a sua semente. E ao semear, parte da semente caiu à beira do caminho; foi pisada e as aves do céu a comeram. Outra caiu no pedregulho e, tendo nascido, secou, por falta de umidade. Outra caiu entre os espinhos; cresceram com ela os espinhos, e sufocaram-na. Outra, porém, caiu em terra boa; tendo crescido, produziu fruto cem por um”!

Antônio Carlos Affonso dos Santos – ACAS. Nascido em julho de 1946, é natural da zona rural de Cravinhos-SP (Brasil). Nascido e criado numa fazenda de café; vive na cidade de São Paulo (Brasil), desde os 13. Formou-se em Física, trabalhou até recentemente no ramo de engenharia, especialista em equipamentos petroquímicos.  É escritor amador diletante, cronista, poeta, contista e pesquisador do dialeto “Caipirês”. Tem textos publicados em 8 livros, sendo 4 “solos” e quatro em antologias, junto com outros escritores amadores brasileiros. São seus livros: “Pequeno Dicionário de Caipirês (recém reciclado e aguardando interesse de editoras), o livro infantil “A Sementinha”, um livro de contos, poesias e crônicas “Fragmentos” e o romance infanto-juvenil “Y2K: samba lelê”.

2 comentários:

  1. Diagramação e inserção impecáveis!
    Estou contente em divulgar o meu amigo Zanetti ao povo mirandense.
    Sou grato ao Henrique, por tornar possível essa oportunidade. Abraços brasucas.

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  2. Estimado amigo António.

    Eu é que agradeço a sua inestimável e altruísta colaboração.

    Um abraço de Trás-os-Montes para o Brasil

    Henrique Martins

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