Maria Antónia da Costa |
Se sobravam couves coziam-se com batatas e carne de porco. A Mãe secava casulas.
Vitela nem a conhecia. Os cuscos só se faziam de trigo. Naquele tempo era tudo à miséria, agora é à fartura. De peixe comiam sardinhas e chicharros. Na matança lavavam-se os pernis e as orelhas dos porcos mortos no ano anterior e comiam-se ao almoço. Na manhã da matança figos, nozes e aguardente. Os rojões faziam-se da barbada e do véu do redanho.
No Natal a mãe dava-lhe bonequinhos de pano feitos de farrapinhos. E já era bom.
No Domingo Gordo comia-se a queixada do porco, na Páscoa folar, na festa leitão assado e bolos, na matança o sangue e o bucho do porco eram petiscos muito gostosos.
Pão centeio todos os dias, sopas de alho e unto muitas vezes. O serôdio só se usava para bolos.
Nos dias nomeados comia-se melhor, mesmo nos dias de ajuda como era arrancar as batatas, nesses dias, tínhamos fritas de bacalhau, sardinhas assadas e bocados de carne.
Batatas, feijão, grão-de-bico, ervilhas favas e couves constituíam o essencial do que vinha da horta, cenouras não eram conhecidas até aos anos sessenta do século passado.
O marido era pescador e apanhava barbos, bogas, escalos e trutas, enguias havia poucas. Fritava o peixe, fazia um molho de escabeche, acompanhava pão e vinho.
Produziam vinho, agora há pouco.
Fruta não sobrava, se estava magoada dava-se aos porcos. Compotas naquele tempo, não sabiam o que eram. Fazia-se marmelada. As amoras tiravam-se das silvas e comiam-se logo.
Na campanha da batata comiam-se sardinhas e um lato de batatas cozidas. Nas vindimas o mata-bicho incluía sardinhas assadas ou fritas, presunto e chouriço.
Carta Gastronómica de Bragança
Autor: Armando Fernandes
Foto: É parte integrante da publicação
Publicação da Câmara Municipal de Bragança
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