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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Tua à espera dos comboios

Na região do Tua, o comboio sempre passou ali, aos pés das aldeia. Há anos que os habitantes anseiam pelo seu regresso. Um regresso que vem sendo adiado consecutivamente há meses.
Depois de o Plano de Mobilidade do Tua, apontado para começar no verão passado, ter tido um início falhado, agora a data prevista para o arranque definitivo do projeto é o próximo mês de março.

A responsabilidade de manutenção da linha e o seu custo durante o período de concessão de 25 anos continuam a ser o impasse maior para que o projeto arranque.

A Agência de Desenvolvimento do Vale do Tua e o operador turístico estão, ainda assim, confiantes de que depois dos testes previstos para o dia 19 deste mês (quando o novo comboio será colocado na linha), o processo não tenha retorno.

Mas no interior de Trás-os-Montes já há gente que não acredita que a linha do Tua volte a ter vida - nem como um nem com dois comboios.

"Eu nem acredito num nem no outro. Já era em junho e já estamos noutro ano e ainda nada". O desabafo é de Manuela Laje, habitante de Abreiro. Bem mais confiante está Maria da Glória: "Faz falta para tudo. Há muita gente de idade que não tem meios de transporte e precisa. Eu acho que vem".

O comboio sempre passou ali, aos pés da aldeia. Há anos que anseiam o seu regresso. O tema tem sido conversa diária, principalmente no café Via Rio, à entrada de Abreiro.

Ermelinda Amorim diz que era muito importante o regresso transporte ferroviário e tem esperança que chegue. "Até para trazer mais pessoas para a nossa aldeia e para as aldeias das redondezas", aponta.

João Pinheiro, de 26 anos, dono do café, é uma das poucas exceções de gente nova que quis ficar e fazer vida no interior. Espera agora que os turistas subam o Tua: "A nível de turistas, traz muita gente. Acredito que venha".

Mas cada dia que passa é um a menos para região. As aldeias vão ficando sem gente e a gente que ainda resiste sonha com um futuro semelhante a um passado recente.

António Santos já leva 82 anos de vida. O comboio foi o seu parceiro de infância e juventude. Vive na aldeia do Vieiro. "Passava às 8h00, às 9h00, às 15h00 e às 17h00. Tínhamos o passe, mas pouco valeu apena porque ficámos logo sem comboio. Faz-nos muita falta para ir a Mirandela, às consultas, ou a Bragança. Agora não temos nada".

E, para já, é isso. "Não se passa nada", diz Mário Ferreira, o operador turístico do projeto de Mobilidade do Tua. Não passa, mas tem fé que, depois dos teste de dia 19, o comboio nunca mais pare. "Os testes durarão cerca de duas semanas e esperaremos que, a partir daí, o comboio volte a apitar na linha do Tua, sem parar".

Mário Ferreira esteve na última sexta-feira em Mirandela, onde estão paradas quatro carruagens (três para passageiros e uma de bar, mais a locomotiva). Tudo "novinho em folha". Fala em prejuízos. "Muitos prejuízos. Tivemos um financiamento da EDP para este comboio e para a embarcação, mas nós fizemos mais investimentos e avultados. Tínhamos previsto contratar mais gente, mas com este impasse não contratámos. É uma pena ver este produto turístico inovador apara esta região, parado."

O operador turístico já tinha dito no último verão que previa, apenas em meio ano, trazer ao vele do Tua mais de 100 mil turistas. Gente é o que a região mais precisa, acrescenta, "não só porque neste eixo será uma novidade mas também porque poderá ajudar a desenvolver a indústria local".

E se está tudo preparado para começar, o que falta? "Falta saber a figura do gestor da infraestrutura e quem vai pagar", diz Fernando Barros, que também afirma já existir avanços. "As Infraestruturas de Portugal já assumiram a responsabilidade da manutenção das obras de arte da via".

O presidente da Agência de Desenvolvimento do Vale do Tua diz que depois de todos os avanços das reuniões, com todos os intervenientes no processo, o único impasse é mesmo o dinheiro para a manutenção da linha, porque a própria agência também já assumiu a gestão da mesma durante os 25 anos de concessão.

Quem tem essa responsabilidade "é o Estado", aponta, acrescentando "que as câmaras (Agência de Desenvolvimento) podem ser gestoras da infraestrutura desde que haja dinheiro para o efeito".

Mesmo com essa questão por decidir, Fernando Barros acredita que dentro de um ou dois meses tudo esteja sobre carris. "Sou um homem otimista e gostava de finalizar o meu mandato, que já vai em dois anos, com tudo a funcionar. Era uma boa prenda".

É também por alturas da Páscoa que Mário Ferreira espera ter tudo a funcionar. "A partir da Páscoa poderão já ser feitas reservas para esta bela carruagem".

O plano de mobilidade contempla, para lá de transporte de autocarros do Tua até à barragem, um barco até à localidade da Brunheda e, a partir da aldeia do concelho de Carrazeda de Ansiães até Mirandela, dois comboios (um turístico e outro para a mobilidade quotidiana).

Coincidência ou não, a Páscoa calha, este ano, no dia 1 de abril.

Afonso de Sousa
TSF

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