Chumbo da construção de uma infraestrutura rodoviária que ligaria Bragança a Puebla de Sanabria, Vimioso e Vinhais, bem como a conclusão do IC5 até Espanha e ainda a expansão do aeroporto regional de Trás-os-Montes Programa Nacional de Investimento 2030 revolta presidente da Câmara de Bragança.
O presidente da Câmara Municipal de Bragança lamenta que o autal Governo continue a “pregar uma coisa e fazer outra”. Hernâni Dias afirma que “décadas de discursos sobre o interior não conduziram a nenhuma estratégia para a sua valorização”, numa alusão crítica a propósito da não inclusão da infraestrutura rodoviária que ligaria Bragança a Puebla de Sanabria, a Vimioso e a Vinhais, bem como da conclusão do IC5 até Espanha, da ligação ferroviária Porto-Zamora e ainda do aeroporto regional de Trás-os-Montes no Programa Nacional de Política de Ordenamento do Território de Portugal (PNPOT).
“Ou seja, o Governo decidiu não integrar qualquer investimento da região no PNPOT. Ou melhor, previu uma continuação do IC5 até à proximidade de Miranda do Douro e incluiu o financiamento de uma extensão de um IC para a zona industrial em Mogadouro, que o próprio município já executou e pagou”, adiantou ao Expresso o autarca eleito pelo PSD, que declara que o Programa Nacional de Investimento 2030 para o interior é “uma anedota”.
Hernâni Dias refere que o PNPOT é o documento orientador de toda a estratégia do desenvolvimento territorial para os próximos anos, mas a região de Bragança foi excluída. “As acessibilidades de proximidade dos centros urbanos a territórios mais carenciados e as regiões transfronteiriças ficaram fora da estratégia, o que significa as populações do interior ficaram de fora”, diz o autarca.
O presidente da Câmara de Bragança antecipa que na próxima década as diferenças entre o litoral e o interior irão acentuar-se cada vez mais, concluindo que o país se arrisca a ficar reduzido, em 2030, “a uma língua de terra costeira e o resto será definitiva e literalmente paisagem”. Para o autarca, Portugal é pequeno demais para se “dar ao luxo de desperdiçar dois terços do seu território”, além de considerar um erro estratégico o desenvolvimento económico do país.
“A não inclusão destas estruturas nucleares no PNI 2030 vai acentuar as diferenças entre as duas realidades do país, interior e litoral, pois serão precisas décadas para que estes projetos vejam a luz do dia”, assegura Hernâni Dias, concluindo que o despovoamento acelerado da região transmontana será uma consequência “óbvia da má decisão”.
O autarca avisa, contudo, que não é apenas Bragança a lutar pela anulação das assimetrias que se adivinham, uma vez que as referidas infraestruturas “foram identificadas como estruturantes” pelos restantes municípios da Comunidade Intermunicipal das Terras de Trás-os-Montes (CIM-TT). Hernâni Dias destaca como “fundamental” a expansão do aeródromo de Bragança em aeroporto, cuja não construção, afiança, “atingirá toda a região, quer por via do despovoamento quer por via do previsível decréscimo económico”.
Hernâni Dias, apoiante convicto do movimento de autarcas do norte pró-regionalização, defende que num país cada vez governado a olhar para a capital a alternativa para um território de norte e a sul mais sustentável passa “claramente pela criação de regiões”, dirigidas por quem as conhece e às suas prioridades. “Só quem aqui vive percebe o quanto um aeroporto é importante para Trás-os-Montes, até como pano alternativa ao aeroporto Francisco Sá Carneiro”, diz, adiantando que o aeroporto de Bragança seria uma porta de entrada transfronteiriça que serviria todo o nordeste transmontano e ainda a região de Castela e Leão.
“É uma infraestrutura prioritária para o desenvolvimento económico e turístico do Douro”, frisa o autarca.
Isabel Paulo
(Jornalista)
Licenciada em Relações Internacionais pela Universidade do Minho. Jornalista do Expresso desde 1989.
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