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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 21 de junho de 2019

O LAVRADOR, E O FILHO DOUTOR

Por: Humberto Pinho da Silva 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas..."

Quando era moço, muitas vezes ouvi contar a velha história ou anedota, do transmontano, que mandara o filho, estudar, para Coimbra.
Andava, o homem, radiante. Inchado como pavão, e sempre que botava “faladura”, dizia, com a boca cheia de risos: - “ Meu filho estuda em Coimbra, para doutor! …”
Mensalmente, sem falta, mandava-lhe a mesada, e este, também, mensalmente, respondia-lhe contando aventuras coimbrãs.
Certa tarde, após o almoço, estando no soto, a jogar a bisca, com amigos, ergueu o grosso copo de vidro, cheio de vinho carrascão, e disse de semblante sombrio:
- “Estou preocupadíssimo…Meu filho, doutor, deve estar doente…Há meses que não recebo notícias, apesar de lhe enviar sempre a mesada! …”
Um dos amigos, mais astuto, que ouvira suas falas, imediatamente o aconselhou:
- “Queres saber novas do rapaz?! É fácil: escreve-lhe, dizendo: junto seguem cem escudos, para despesas extraordinárias; mas, “ esquece” de os incluir…Verás que a resposta não demorará…”
E assim foi. Em breve chegou missiva afetuosa, esclarecendo, que a nota não chegara…
Ao recordar a história do agricultor, sempre me lembro dos amigos, que ao longo da vida, fui conhecendo.
Nunca têm tempo para me telefonar; mas, quando precisam de alguma coisa, em que lhes posso ser-lhes útil, logo ligam, pedindo isto e aquilo.
Outrora ficava triste, com a ingratidão, mormente, quando recebido o favor, acrescentavam: - “Qualquer dia havemos de tomar café juntos…” Dia, que ficava para as calendas gregas….
Antigamente, a ingratidão, perturbava-me; agora, é motivo de alegria.
Digo: alegria, porque é sinal que se encontram bem, e que não precisam de mim, para nada.
Habituei-me à ingratidão e à indiferença; mas, lembro com tristeza: se viesse, porventura, a precisar, poderia contar, com eles? …
É dúvida que me fica a bailar na mente, cuja resposta não quero conhecer: é sinal, que também, não preciso deles, para nada…

Humberto Pinho da Silva nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG”. e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".

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