Elemento escultórico do Marinheiro Aníbal Jardino (2004). Autoria: José António Nobre |
“Por intermédio do exmo. sr. capitão-de-mar-e-guerra, José Manuel Chiotte Lopes da Silva, foi relatada à Câmara Municipal de Bragança na pessoa do Exmo. Sr. Presidente, um facto relevante de heroísmo praticado por um natural deste Município, de seu nome Aníbal dos Santos Fernandes Jardino, que ao serviço da Marinha de Guerra da Armada Portuguesa, na defesa do Estado da Índia Portuguesa, aquando da agressão da União Indiana a este Estado, corrido o dia 18 do mês de dezembro do ano de 1961, é mortalmente atingido após ataque da aviação da União Indiana à lancha de fiscalização Vega, em águas de Diu. O Ministério da Marinha, em 23 de agosto de 1962, concedeu-lhe a título póstumo a medalha de cobre de valor militar, com palma, considerando um ato de ‘extraordinária coragem e invulgar abnegação’. A 5 de abril de 1963 é promovido, por 'distinção’, a título póstumo, a cabo.
Por minha iniciativa, foi feito o convite à Marinha para participar na homenagem ao cabo Artilheiro Aníbal Jardino, tendo sido aceite por esta instituição militar associar-se ao evento. Associada à homenagem inquestionavelmente merecida, entendo que a Câmara deve perpetuar, através de um elemento escultórico que traduzisse este momento trágico mas heróico de tão insigne conterrâneo, tendo solicitado ao mestre escultor José António Nobre, pelo reconhecimento da sua elevada qualidade artística que muito tem contribuído, com alguns elementos escultóricos da sua autoria, para a dignificação e qualificação urbana da sua terra, a elaboração desse elemento escultórico a ser erguido no jardim do topo norte do Parque Eixo Atlântico”.
Elemento escultórico do Marinheiro Aníbal Jardino. Estudos 1 a 4 |
Foi esta uma forma dignificante de homenagear a bravura do jovem marinheiro Aníbal dos Santos Fernandes Jardino. Era natural de Carção, onde nasceu em 25 de novembro de 1935, filho de António Martins Jardino e de Adosinda Laura de Paiva Fernandes. Em 7 de novembro de 1955, foi incorporado com o posto de 2.º grumete recruta. Viria a falecer no mar de Diu, que lhe serviu de sepultura, em 18 de dezembro de 1961, durante o combate travado entre a LFP (lancha de fiscalização pequena) Vega e a aviação indiana.
A descrição da saga da Vega e dos seus homens é verdadeiramente comovente pela coragem com que enfrentaram a morte que sabiam certa. Estando a ser bombardeada a cidade de Diu pelo cruzador New Delhi, a tripulação portuguesa, chefiada pelo 2.º tenente Jorge Manuel Catalão de Oliveira e Carmo, teve um comportamento heróico, tentando atacá-lo. A desproporção de forças era óbvia e a aviação indiana afundou a pequena lancha portuguesa, morrendo o seu comandante e dois marinheiros, sendo um deles Aníbal Jardino. Esta é a figura a que Bragança presta homenagem na simbólica escultura da autoria de José António Nobre.
Foram feitos vários estudos para a obra, estando sempre presentes os elementos ligados ao mar, à lancha, ao ataque e ao marinheiro. Pela análise dos desenhos preparatórios podemos observar que foram várias as soluções contempladas, pontificando desde o início, como linha de força, o ondulado do mar de Diu.
Numa fase seguinte, vemos os dois projetos anteriores à proposta definitiva, onde é representado o rosto de Aníbal Jardino, aparecendo, no primeiro, a silhueta fina das vagas, enquanto no segundo, as ondas são representadas com uma maior volumetria, num plano superior à quilha do barco perfurada pelas balas.
Elemento escultórico do Marinheiro Aníbal Jardino. Estudos 5 a 8 |
A proposta definitiva da obra foi apresentada pelo artista em 15 de setembro de 2004, recomendando para a execução da peça a Fundição Lage que, por sua vez, apresentou a sua proposta em 30 de setembro de 2004.
Este projeto apresenta uma visão muito mais elaborada, sendo escolhida como vertente principal a quilha da lancha, onde são visíveis as marcas das balas, penetrando obliquamente o leito do oceano. O mar de Diu, sempre presente, é apontado igualmente noutro registo, desta vez superior, demarcando-se da massa das ondas o rosto do marinheiro, com os olhos perdidos no horizonte, simultaneamente real e onírico. Escultura maior, não pelas proporções, mas pela representação de uma realidade dramática que, simultaneamente, nos dá uma visão poética de um episódio épico a que esteve ligado um filho de Bragança.
Título: Bragança na Época Contemporânea (1820-2012)
Edição: Câmara Municipal de Bragança
Investigação: CEPESE – Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade
Coordenação: Fernando de Sousa
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