No seu tempo, havia um casal com um filho que viviam no seu moinho, tinham também um jumento que lhes servia para irem buscar o cereal para moer, levando depois a farinha de volta aos donos. Como tinham já uma certa idade, os pais do rapaz morreram ficando ele e o seu gato. Um dia o rapaz entendeu que o moinho não tinha futuro para ele e resolveu ir-se embora. Tinha assim decidido, quando ao juntar os seus trapinhos o bichano veio chamar-lhe a atenção para não o abandonar:
- Agora és o barão do moinho, deixa-me ir contigo…
O gato insistiu tanto que lá acabou por convencer o seu dono de que iria fazer-lhe muita falta:
- Ainda te hei-de fazer muito feliz.
Seguiram caminho lado a lado, quando ao entrarem numa povoação dirigiram-se ao sapateiro do lugar para fazer uns sapatos ao gato. Os sapatos ficaram muito bem ao gato e este mandou também fazer uma saca de lona. O gato desatou, então, a correr por um arrozal com a saca apanhando logo três perdizes que entregou a um gigante que vivia ali perto num grande casarão:
- Ó senhor gigante!! O senhor barão do moinho manda-lhe este presente.
- E quem é esse barão do moinho?
O gato acalmou-o logo:
- É um senhor muito rico e muito seu amigo.
Ao outro dia o gato repetiu a façanha e apareceu em casa do gigante com três novas perdizes e com o mesmo recado:
- O senhor barão do moinho manda-lhe este presente.
- Sinto-me lisonjeado e não posso acomodar-me sem agradecer tanta bondade ao senhor barão do moinho. Tens de me levar até ele para lhe agradecer pessoalmente.
Logo ali os dois com a cevada do gigante, combinaram ir ver o senhor barão. O gigante mandou, então, aparelhar a sua carroça, mas só ele e a criada foram a cavalo porque o senhor gato pôs-se a andar a seu pé à frente. Pelo caminho fora encontraram várias ceifeiras, ao passar por elas o gato foi recomendando aos grupos de ceifeiras:
- Se vos perguntarem para quem trabalham, digam que andam para o senhor barão do moinho.
As ceifeiras querendo ser simpáticas responderam que sim ao senhor gato.
Por sua vez, o gigante aproxima-se das ceifeiras e pergunta-lhes para quem trabalham, ao responderem todos que trabalham para o barão, o gigante exclama assombrado:
- Deve ser um homem muito importante e rico o senhor barão do moinho!
Como o senhor gato ganhou vantagem no caminho, chegou primeiro junto do barão do moinho com o qual combina o que devem fazer a seguir para impressionar o gigante. Assim, chamou-o para junto do poço (uma espécie de lagoa) e pediu-lhe que se despisse e se atirasse à água. O rapaz obedeceu ao gato esperto, antes que o gigante se apercebesse das manobras, o gato agarrou na roupa suja do rapaz e foi escondê-la, irrompendo, depois, em gritos de socorro quando viu o gigante próximo:
- Ai que se afoga o senhor barão!
Ao ouvir estes gritos o gigante apertou o passo e saltou da carroça para ir em socorro do náufrago. Tirou o rapaz da água facilmente, enquanto o gato andava tonto ás voltas à procura das roupas do seu dono. O gigante, para que o barão não apanhasse um resfriado, acalmou o frenesim do gato:
- Deixa lá, roupa é o que mais há em minha casa. Não percas tempo com o que não encontras. Vamos para minha casa e resolvemos o problema.
Era o que o gato queria ouvir, volveram de volta à casa do gigante com o rapaz bem vestido para serem recebidos como ilustres convidados para uma refeição farta. No final da refeição o gato voltou a desafiar o gigante, pedindo-lhe para lhe mostrar o seu casarão, este acedeu ao pedido, parando, depois, numa grande sala onde o gato lança uma insinuação ao gigante:
- Ouvi dizer, entre outras coisas, que o senhor apesar de ser gigante é capaz de se transformar num leão?!
- Ah! Isso sou, faço-me num leão.
O gigante transformou-se logo em leão, apanhando o gato um susto tamanho que de um só salto cravou as unhas ao tecto, ficando lá pendurado. Depois de refeito do susto, o gato ousou desafiar de novo o gigante:
- Ouvi mais, senhor gigante! Mas nesta custa-me a acreditar, como é que o senhor com os ossos tão grandes consegue-se transformar num rato?
- Parece-te impossível ó bichano gato! Mas olha que sou mesmo capaz de me transformar num pequeno rato!
Logo num estalar de dedos se fez num rato. O esperto do gato não quis ver mais nada, num salto cravou as unhas no rato e logo o ingeriu em duas dentadas, e, assim, se foi o gigante. O gato desceu satisfeito para junto do barão do moinho e da criada do gigante com as seguintes ordens:
- De hoje em diante esta mansão pertence ao senhor barão do moinho. O gigante já não me mete medo engoli-o, por isso tudo isto agora pertence ao senhor barão do moinho.
Deu instruções para que casasse com a criada e tomasse conta do casarão, assim aconteceu vivendo muito felizes com o seu gato.
RECOLHA 2005 SCMB, CASIMIRO PARENTE, Idade: 66.
Localização geográfica: PAÇO DAS MÓS – ORIGEM + 60 anos.
FICHA TÉCNICA:
Título: CANCIONEIRO TRANSMONTANO 2005
Autor do projecto: CHRYS CHRYSTELLO
Fotografia e design: LUÍS CANOTILHO
Pintura: HELENA CANOTILHO (capa e início dos capítulos)
Edição: SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE BRAGANÇA
Recolha de textos 2005: EDUARDO ALVES E SANDRA ROCHA
Recolha de textos 1985: BELARMINO AUGUSTO AFONSO
Na edição de 1985: ilustrações de José Amaro
Edição de 1985: DELEGAÇÃO DA JUNTA CENTRAL DAS CASAS DO POVO DE
BRAGANÇA, ELEUTÉRIO ALVES e NARCISO GOMES
Transcrição musical 1985: ALBERTO ANÍBAL FERREIRA
Iimpressão e acabamento: ROCHA ARTES GRÁFICAS, V. N. GAIA
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Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço.
A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)
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