Entrei em novembro por Trás-os-Montes, lá onde dizem que o diabo perdeu as botas mas onde fui encontrar uma realidade que não conhecia e descobrir novas emoções e muitas sensações de felicidade terrena. Talvez até perceba agora melhor o lado lunar de que fala o meu amigo Rui Veloso, depois de ter experimentado o lado quente desta Terra Fria a que Bragança pertence. Dei até comigo a imaginar que foi uma intenção séria de se ligar à terra a boa razão que levou o primeiro-ministro a convidar tanta gente desta zona para o seu novo Governo.
Não tenho conhecimentos suficientes para saber se a maioria das tunas portuguesas são como esta tuna mista de Bragança. Mas espero que sejam. Em pouco mais de 24 horas pude confirmar e voltar a acreditar com mais força que nem tudo está perdido, nem tudo são casos perdidos nas novas gerações. Para os que caem muitas vezes na tentação de tomar a nuvem por Juno e consideram que as tunas são as claques das universidades e escolas politécnicas, recomendo um pequeno estágio junto da RaussTuna para tirarem daí as ideias.
Orgulhosamente sediados e acantonados numa pequena sala cedida pelo IPB (Instituto Politécnico de Bragança), os membros da RaussTuna comemoraram este fim de semana o seu 10.0 aniversário. Dez anos de muita animação, boémia e divertimento, como e muito bem se supõe, mas também dez anos de entreajuda, de respeito pelo outro e pela diferença, de reconhecimento do trabalho, do esforço e do mérito e de gratidão pela vida que levam e pela vida que outros os ajudam a levar. Dez anos sem perder ninguém pelo caminho, mas igualmente sem deixar que outros se percam por outros caminhos. Dez anos a somar vontades, a subtrair tempos livres e a dividir tarefas para poderem multiplicar sucessos.
Quando Paulo de Carvalho cantou "Dez anos é muito tempo" ainda o tempo corria muito devagar, comparado com a corrida contra o tempo que foram estes últimos dez anos. Curiosamente, na RaussTuna , num universo que vai dos 17 aos 30 anos, fui encontrar uma juventude irreverente e inovadora que se inquieta quando falta a inclusão e não fica quieta quando é preciso trabalhar para a capacitação de todos, ou até quando é preciso pôr a mesa ou lavar a louça. E deixa descansar o telemóvel às refeições e reuniões.
A RaussTuna nunca sairá de Bragança e a cidade só tem que agradecer. Mas os seus membros, no ensino, na enfermagem, na informática, na vida artística, nas empresas e nas outras atividades que aqui faltam vão longe, certamente muito longe, mesmo que alguns, como o Fausto ou o Vítor Gonçalves, tenham decidido, e muito bem, que para ir longe na vida e na profissão não é preciso sair de Bragança.
Manuel Serrão
*Empresário
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