Em tempos de pandemia, os emigrantes partem para as campanhas agrícolas na Suíça e França com receios acrescidos e as empresas transportadoras são obrigadas a cumprir limitações à lotação dos autocarros e impuseram o uso de máscara.
As regras mudaram por causa da covid-19. Para atravessarem a fronteira os emigrantes têm de ter um contrato de trabalho e, no autocarro, diminuiu o número permitido de passageiros.
Depois de cinco semanas parada, a Pluma Tour – Viagens e Turismo regressou à estrada.
Jorge Alves, responsável pela empresa, disse hoje à agência Lusa que na terça-feira parte um grupo de 25 pessoas de Vila Real e, para sábado, está agendada mais uma viagem.
O destino é a apanha de morango em França e o trabalho na vinha na Suíça.
O empresário destacou as dificuldades acrescidas para as empresas nesta altura, em que as "despesas aumentam e as receitas diminuem".
Jorge Alves explicou que foram impostas limitações à lotação dentro dos autocarros que chegaram a ser de “um terço” e, no último fim de semana, passaram a ser “de metade”.
Ou seja, num autocarro de 75 lugares podem viajar agora 36 passageiros mais os motoristas. Nas viaturas mais pequenas de 50 lugares, podem ser transportados 23 passageiros e os motoristas.
Continuar parado não era opção até porque, salientou, há mais de 20 anos que tem “os compromissos com as empresas de vinhos na Suíça”, para onde anualmente transporta muitos emigrantes.
Na viagem os cuidados estão a ser reforçados. Jorge Alves disse que os passageiros se sentam em lugares intercalados, são obrigados a usar máscara, foram colocados frascos de álcool gel nas entradas das viaturas, que são desinfetadas após cada transporte, tanto em Portugal como na Suíça.
As paragens foram reduzidas ao máximo e são feitas em zonas de descanso mais isoladas e não em áreas de serviço com mais utilizadores.
“Estamos a tentar parar o mínimo possível para que a viagem se torne rápida e não seja tão cansativa”, frisou.
Jorge Alves referiu ainda que só podem ser transportadas pessoas com contrato de trabalho e lembrou que, antes da crise pandémica, seguiam nestas viaturas outros emigrantes que iam trabalhar para a restauração e hotelaria e ainda turistas.
Manuel Ribeiro foi um dos emigrantes transportado recentemente pela Pluma Tour. Depois de ter feito campanhas na Inglaterra, França, Holanda e Bélgica, decidiu ir, pela primeira vez, trabalhar para as vinhas na Suíça.
Aos 59 anos, este trabalhador embarcou numa aventura que, nesta altura, representa um risco acrescido por causa da covid-19.
“O receio existe sempre, mas temos que ter as nossas precauções”, afirmou.
Contou que na Suíça o trabalho na vinha é feito em patamares, onde é possível cumprir o distanciamento em relação aos outros trabalhadores.
Filipa Gomes, 26 anos, estava sem trabalho e aproveitou a oportunidade de ir uns tempos à Suíça.
Nesta altura de covid-19 reconhece que está com “mais ansiedade”, mas salientou a necessidade de “juntar algum dinheiro”.
A viagem de Denise Cruz, de 20 anos, foi mais curta. Ficou em França para a apanha de morango.
Estava desempregada há cerca de meio ano e, por isso, decidiu aventurar-se porque “é uma forma de ganhar dinheiro e é uma nova experiência”.
“Receio? Não. Que seja o que Deus quiser. Estou ansiosa por ir. O trabalho é pesado, mas temos que lutar, não é?”, afirmou à agência Lusa
A Pluma Tour dedica-se também ao turismo nacional que, segundo Jorge Alves, neste momento, “está parado”.
“Era um ano que tinha muitos serviços. Ia ser um ano em cheio, comprei novas viaturas que recebi em janeiro e que agora estão paradas”, lamentou.
Referiu que a transportadora está a trabalhar a “15, 20%” do que seria normal neste período, mas com “mais despesas” porque teve que “contratar mais motoristas” para cumprir as regras de segurança.
“E as ajudas do Governo? Para já ainda não tive essa sorte”, sublinhou.
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