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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 17 de maio de 2020

Favas à antiga

De origem incerta e de variedades que vão do verde ao preto, passando pelo branco, vermelho, roxo e castanho, as favas têm vindo a preencher ementas desde a idade da pedra!

 Por estes lados famosa se tornou a história de um certo cavalo que foi, durante algum tempo, alimentado a favas para que, com o seu Senhor, pudesse triunfar na missão de recuperar a bandeira portuguesa aos espanhóis. É prática comum, em determinadas culturas, alimentarem os animais à base desta leguminosa, já que a composição nutricional das favas proporciona ao organismo níveis de energia estáveis durante longos períodos de tempo. Por aqui, este legume de sementes rasas em forma de rim é mais um excelente exemplo de como as nossas gentes, tão sabiamente, durante décadas o têm confecionado desde a vagem à semente!

Ouvindo a tia, que pacientemente me explica o boletim agrário desta leguminosa, penso: “ Ora cá está uma planta boa para mim, que não precisa de ser cavada, nem mondada ou regada a toda a hora!!” É que isto do cavar a horta tem a sua ciência e eu confesso que as gantchas nunca foram um acessório que me agradasse. Vem-me, imediatamente, à ideia a história do milho! Durante umas férias quaisquer da escola, por altura de cavar as hortas, a mãe atribuí-me a simples tarefa de cavar uns regos de milho, numa horta perto de casa. A empreitada, revelou-se demorada e improdutiva, já que se arrastou durante toda a semana. Quando finalmente anunciei em casa que tinha acabado, todos ficaram incrédulos e no dia seguinte lá foi a mãe inspecionar o milho! A minha cavadela não impressionou ninguém! Aparentemente, arranquei umas ervas, que faziam parede meira com o milho, e eram nada mais, nada menos que os erbanços!! O meu cavar ficou por ali e decidimos que empregaríamos o meu tempo noutras lides!

Rodeada por boas cozinheiras, havia sempre algo delicioso para preparar. Durante esta altura comiam-se, então, favas de toda a maneira e feitio. Favas cozidas, arroz de favas, favas guisadas, caldo de favas e, é claro, a minha favorita: favas com presunto! Como passava temporadas com a avó, recordo-me bem da preparação desta receita que ela fazia, e que ainda hoje se faz cá em casa, com uma ou duas alterações!

 Para além dos dois escanos, de uma escaneta e duas tropeças, no lar da avó havia sempre de serviço uma caldeira e dois potes. Para este prato das favas usava-se também a sertã! A preparação impeçava pela lavagem das favas, que está claro era a minha parte! Depois, com a nabalha bem aguçada, cortavam-se as favas ao meio e dividiam-se em pedaços mais pequenos, metiam-se ao pote mal fervesse.  Na sertã a avó botava o azeite e eu, de lágrimas nos olhos, juntava-lhe a cebola já picada. Por baixo, com as estanases tchigava-lhe as brasas, e dali a nada já se ouvia a cebola a rijar no azeite. Desembarrava-se o presunto e cortava-se um cibo que era dividido em pequenos pedaços e se botavam a rijar com a cebola. Quando as favas estavam cozidas, escoavam-se na pia da louça e logo se traziam para o lar, no prato fundo de esmalte, para serem misturadas com a cebola e o presunto. Mexia-se tudo muito bem e juntavam-se-lhe duas ou três colheres de farinha. Dava-se mais uma voltinha com a colher de pau e lançavam-se para uma travessa que seguia para a mesa!

Para guarnição das favas havia batatas cozidas e carne estufada. Às vezes, a avó servia as batatas que tinham sobrado do dia anterior, aquecidas na grelha ao lume!

Da horta, o avô trazia novas da rama das batatas, dos feijões que era preciso repor, da erva na augueira, do amarelum das cebolas. Na cesta de verga, das da avó, vinham ervilhas não muito escorreitas pois tinha-lhe dado a moléstia mas estariam, sem dúvida, no cardápio dos dias seguintes. Bom, mas isso é uma outra história!

Ângela Bruce

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