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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 7 de maio de 2020

Viagem aos bastidores da doença em Bragança

Cumpriram-se, no final da semana passada, 50 dias desde a chegada da pandemia de covid-19 ao Nordeste Transmontano. São 50 dias de luta, em muitos casos sem folgas nem feriados, que o Mensageiro encontrou nos bastidores do combate à doença, no hospital de Bragança.
É aqui que está centralizada a força de combate à doença do momento mas sem esquecer todas as outras, que continuam sem dar tréguas.

As olheiras fundas e a sensibilidade emocional são sinais de que o cansaço já pesa em muitos destes profissionais da Unidade Local de Saúde do Nordeste (ULS), que congrega três hospitais e 14 centros de saúde.

“Tem sido muito desgastante. Há dois meses que não temos folgas ou fins de semana. Mas somos profissionais, acima de tudo”, dizia a Dra. Maria José Montanha, responsável pelo laboratório de patologia, responsável pelas análises em toda a ULS, com 17 funcionários.

É também ali que se tratam todas as amostras recolhidas para testes no distrito de Bragança. Esta semana, deve ser ultrapassada a marca dos dez mil testes. “Há 11 brigadas de saúde pública. Recebemos em Mirandela, Macedo e Bragança e depois são reencaminhadas (para o IPB e o hospital de S. João, para processamento). Preparamos os kits para fazer a colheita. É um trabalho imenso porque são muitas amostras em simultâneo. Há dias de 400”, frisou. 

Antes do processamento, “é preciso inativar o vírus primeiro”. “Os técnicos são as formiguinhas que fazem mexer isto. Sem os técnicos de diagnóstico era impossível”, sublinhou.

Este é o exemplo de um dos serviços que, apesar de estar na linha da frente do combate à covid-19, passa despercebido à maioria. Mas há muitos mais serviços e profissionais que ajudam a manter a máquina em funcionamento, de um total que supera já os 2100 funcionários.

Logo à chegada à urgência, é obrigatório passar pelo novo serviço de triagem, montado à porta do hospital, numa tenda. O encaminhamento é feito pelos seguranças de serviço.

“Tivemos de organizar circuitos diferentes para doentes covid e não covid, num plano que começou a ser organizado em fevereiro e que já foi revisto três vezes. Começámos a formação de profissionais e a requisição de equipamentos em fevereiro”, explica a diretora clínica Eugénia Madureira.

“Há uma zona de hospital que funciona para todos os outros doentes. Notámos que a nossa urgência teve uma redução de cerca de 40 por cento, o que é preocupante”, revelou.

“Há alguns doentes que deveriam vir ao hospital não estão a vir. Por exemplo, tivemos um doente que foi trazido ao serviço de urgência porque teve um AVC e ficou em casa quatro dias. As pessoas têm de perder o medo e têm que vir. É como o que se passa com a vacinação das crianças, em que houve uma diminuição significativa”, disse ainda.

A responsável pela parte médica dos hospitais explica que “qualquer doente passa pela triagem, na tenda”, que tem 21 ‘boxes’. É feito o teste aos casos suspeitos. “Os suspeitos são todos testados e todos aguardam o resultado do primeiro teste na tenda até serem internados”, explicou.

Para montar todo o sistema, foi preciso “um grande esforço”, admitiu. “Fizemos um grande esforço com equipamentos, desdobramento de equipas ou até de extração de ar”, enumerou.

Ainda assim, nem sempre se consegue impedira  existência de contágios. Até ao momento foram 47 profissionais de saúde afetados (alguns já recuperaram e regressaram ao trabalho) e alguns doentes. “Foi transmissão nosocomial (no hospital). Os doentes podem vir, fazer o teste, dar negativo e só passados alguns dias darem positivo”, disse. “Podemos ter um profissional assintomático e estar em fase de transmissão. Pode acontecer a qualquer pessoa”, frisou.

Também a taxa de mortalidade no distrito mereceu uma explicação. “No distrito de Bragança não temos nenhum óbito abaixo dos 60 anos. E era um doente com outras patologias. Tivemos dois doentes na casa dos 70 anos, um deles com doença oncológica e outro com uma grande dependência já. Os restantes eram acima dos 80 anos, com grandes morbilidades”, explicou. Por outro lado, “o distrito de Bragança tem uma taxa de sobrevida das maiores do país, onde as pessoas atingem idades mais avançadas. Isso é positivo”.

E “só um doente de intensivos morreu”. “Já tivemos algumas situações graves mas uma delas já teve altas e outras em hospitalização domiciliária”, esclareceu.

Eugénia Madureira admite que houve “uma fase mais complicada”, que já foi ultrapassada. “Estamos a 60 por cento da capacidade de internamento no serviço de medicina e a 40 por cento nos intensivos quando já foi de 70 por cento. Sobretudo quando os testes iam para o S. João e demoravam mais tempo, mantínhamos casos suspeitos mais tempo. Temos 13 camas disponíveis e podemos ir às 23 camas só covid-19 nos intensivos”, disse.

Mais de cem profissionais contratados

Parte do esforço realizado foi com a contratação de enfermeiros e assistentes operacionais. “Tivemos autorização para admitir cerca de uma centena destes profissionais para reforçar as equipas”, explicou Urbano Rodrigues, o enfermeiro diretor.

“Temos contratado bastante pessoal da terra. Foi preciso duplicar as equipas, mas sempre feito em concordância com os funcionários. Disponibilizaram-se também dois hotéis da cidade para os profissionais que não queiram ir a casa”, revelou.

Nesta altura, são mais de mil enfermeiros e assistentes operacionais. Mas há 460 médicos hospitalares, por exemplo, 132 técnicos de diagnóstico e terapêutica ou 85 técnicos superiores.

Para 2020, a direção clínica pediu já a contratação de mais 50 médicos em várias especialidades.

Consultas por telefone

Outra das alterações a que a covid-19 obrigou foi com as consultas externas. Mantiveram-se apenas as de urologia, ortopedia e as cirúrgicas, apara além das consultas de gravidez. As restantes foram adiadas ou feitas por telefone ou videochamadas. Mas isso obriga a um esforço suplementar a Teresa Pires e Fernanda Afonso.

“Passamos muito mais tempo ao telefone. Ainda agora, no espaço de segundos foram quatro chamadas seguidas”, explicam.
António G. Rodrigues

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