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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

O que procurar no Inverno: o teixo

 Chegou o inverno. Com cerca de nove horas de luz solar, o dia mais curto do ano já lá vai.
 
Foto: Yoel Winkler/Unsplash

O Solstício de Inverno é um momento místico celebrado por vários povos antigos como homenagem ao astro rei – o sol, pois simbolizava a vitória da luz sobre a escuridão. E as plantas, o que andarão a fazer durante este período em que os dias são curtos e frios?

O inverno muda radicalmente o comportamento das plantas, pois estas sentem e expressam as mudanças que ocorrem nesta época do ano. Com menos luz disponível, fundamental para a fotossíntese, com as temperaturas mais baixas e até com a possibilidade de ocorrência de geada, algumas entram em repouso vegetativo. Este processo, onde parecem adormecer, permite-lhes poupar e acumular energia suficiente para voltarem a brotar na primavera.  

No entanto, existem plantas que continuam a brindar-nos com a sua beleza ímpar. O Teixo (Taxus baccata), por exemplo, é uma árvore com grande simbolismo nesta época do ano, pois representa o final do ano solar, que culmina com o Solstício de Inverno. 

O Teixo

O teixo é uma espécie perene, de porte arbustivo ou arbóreo, que pode atingir os 20 metros de altura. Com ramos desde a base, tem uma copa densa em forma de pirâmide, por vezes irregular. As suas folhas, em forma de agulha e bastante flexíveis, são de cor verde-escura na página superior, glabra na página inferior e com uma nervura central, saliente, que termina num pequeno mucrão – ponta curta e aguçada.

Foto: Marzena P./Pixabay

É uma espécie de floração dioica, o que quer dizer que tem flores masculinas e femininas, que ocorrem em indivíduos diferentes. As flores masculinas são numerosas, arredondadas, de cor amarelada e surgem solitárias nas axilas das folhas. As flores femininas são menos vistosas, ovóides, de cor verde e surgem aos pares ou isoladas, na extremidade dos ramos. A floração ocorre entre o final do inverno e o início da primavera.

O fruto surge nos exemplares femininos, a partir do final do verão e estendendo-se a sua maturação até ao início do inverno. Na verdade, o teixo produz um falso-fruto, ovóide, constituído por uma estrutura carnuda – o arilo, que envolve a semente. O arilo apresenta cor vermelha ou alaranjada, com um sabor adocicado e muito nutritivo. É bastante vistoso, atrativo e apreciado pelas aves frugívoras, que ao alimentarem-se, ajudam a disseminar as suas sementes.

São estas características morfológicas que dão origem à sua designação científica Taxus baccata. O nome do género Taxus é o nome latim para o teixo, deriva do grego Taxis, que significa “linha” pela disposição das suas folhas. Taxus pela dureza, resistência e flexibilidade da sua madeira para fazer taxon – “arcos”, ou de toxicos – “veneno”. O restritivo específico baccata provém do latim bacca – “baga” em referência ao tipo de fruto.

Espécie relíquia  

De crescimento muito lento e de grande longevidade, o teixo pode viver 2000 anos ou mais. De acordo com alguns registos fósseis, que datam do Miocénico inferior, acredita-se que este seja o género de árvore mais antigo da Europa.

É uma espécie nativa na Europa, Cordilheira do Atlas e Ásia menor. Em Portugal, surge confinada às altas montanhas da Serra da Estrela, Gerês e dos arquipélagos da Madeira e dos Açores. Os povoamentos de teixo são considerados verdadeiras relíquias da floresta portuguesa, por surgirem em vales profundos, encostas íngremes e apertadas, geralmente junto a linhas de água e de difícil acesso. Locais únicos, que parecem saídos de um conto de fadas.

Foto: wal_172619/Pixabay

O teixo prefere zonas de sombra, embora prospere em locais com exposição solar plena. Pode crescer em quase todos os tipos de solos, desde que bem drenados, húmidos e preferencialmente ricos em húmus e com pH baixo. Suporta bem o frio, mas é sensível às geadas, sobretudo se prolongadas. 

Venenosa e medicinal

Pertencente à família das Taxaceae, o teixo é uma espécie altamente venenosa. Todas as partes da planta contêm elevados níveis de toxicidade, excepto o arilo – característica que explica a sua destruição sistemática desde a antiguidade. O flagelo dos incêndios florestais e a procura desta espécie pela madeira são outros motivos que levaram ao seu desaparecimento. De tal forma que se encontra atualmente com estatuto de conservação de espécie em perigo, integrando a lista de espécies com estatuto de proteção especial – Directiva Habitats 92/43/CEE do Conselho, de 21 de Maio de 1992, relativa à preservação dos habitas naturais e de fauna e da flora selvagens.

Foto: Hans Linde/Pixabay

Os níveis de toxicidade do teixo devem-se a um alcalóide produzido por todas as partes verdes da planta – a taxina, que o torna altamente tóxico. No entanto, se a taxina é tóxica para o homem e para os outros animais, esta substância também tem tido um papel muito importante na medicina. Da taxina extraída e usada em laboratório produz-se o taxol, uma substância que tem sido utilizada, de forma eficaz, na luta contra diversos tipos de cancro. Atualmente são inúmeras as investigações e os produtos farmacêuticos obtidos a partir desta planta.  

Além da utilização na medicina, esta espécie é também muito utilizada como ornamental, isolada ou em sebe. A sua madeira avermelhada tem diversas aplicações – incluindo o fabrico de pequenas peças de mobiliário e esculturas, entre outras – pois é dura, resistente e elástica. 

No passado, a madeira de teixo foi muito utilizada pelos egípcios no fabrico de sarcófagos de alguns faraós, na estacaria das fundações de Veneza, no fabrico de instrumentos musicais e na produção de arcos e flechas para a caça e para a guerra. As flechas eram ainda embebidas por uma solução tóxica retirada da própria planta, para aumentar a eficácia.

Foto: andy_ah-Tauro/Pixabay

São muitas as histórias e mitos que envolvem o teixo. Segunda a lenda, o arco de Robin Hood, o mítico herói inglês que roubava aos ricos para dar aos pobres, era feito de madeira de teixo. Na Europa, pela sua longevidade e associação à imortalidade, foi durante muitos anos utilizada para ornamentar cemitérios, como símbolo de morte e de vida. Na história do cristianismo, e de acordo com alguns investigadores, a cruz onde Cristo foi crucificado terá sido feita da madeira de teixo.

Mesmo nos dias mais frios do inverno podemos apreciar o que a natureza nos tem para oferecer. Se estivermos atentos, encontraremos algo diferente em cada caminho que fizermos. Por exemplo, o teixo não vos transporta para esta época natalícia? A mim, o verde-escuro das folhas e o vermelho escarlate dos arilos fazem-me pensar que a natureza também celebra o Natal com a beleza natural desta árvore.

Carine Azevedo

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