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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 12 de junho de 2021

O que procurar na Primavera: a dedaleira

 Por estes dias fui surpreendida por uma grande mancha de dedaleiras (Digitalis purpurea), uma planta da minha infância que já não encontrava em flor há muito tempo.


A dedaleira

A dedaleira é uma planta bienal ou perene, da família Plantaginaceae, conhecida também como digital, digitalina, erva-dedal, trocles, trócolos, troques, abeloura, beloura, campainhas, caçapeito, caralhotas, luvas-de-santa-maria, entre outros.

Esta planta arbustiva pode crescer entre 75 e 125 centímetros de altura, possui caules finos, eretos e redondos, cobertos de pelos largos e glandulares, que formam um indumento branco ou cinzento.

Foto: Nevit Dilmen/Wiki Commons

As folhas são grandes e aveludadas. As folhas basais formam rosetas grandes junto à base do caule, têm forma lanceolada ou ovada e possuem uma nervura central muito pronunciada. São ligeiramente rugosas e revestidas de pelos. Possuem um pecíolo – a parte que as liga ao caule – quase tão largo como o limbo, que é a parte principal das folhas.

As folhas superiores dispõem-se alternadamente ao longo do caule, têm forma lanceolada a elíptica e têm um pecíolo mais curto, que vai diminuindo à medida que as folhas vão ocupando posições mais altas no caule, até se tornarem sésseis – desprovidas de pecíolo.

O período de floração da dedaleira é longo. De maio a setembro é possível ver inflorescências simples e longas, compostas de flores vistosas, campanuladas, inclinadas num só eixo, com forma e tamanho aproximado de um dedal, daí o seu nome comum – dedaleira.

As flores, sem aroma, de cor púrpura ou rosa, com manchas de cores diferentes no interior, que servem para atrair os polinizadores para o seu interior, por vezes revestidas de numerosos pelos, florescem de baixo para cima, ao longo da inflorescência, que não deixa de crescer durante as semanas de floração. Se por algum motivo, a planta for impedida de completar o ciclo de vida, através do corte da haste floral, por exemplo, a planta murcha, mas retoma o seu desenvolvimento e florescimento.

Foto: H. Zell/Wiki Commons

O fruto é uma cápsula ovóide, negra, com cerca de 10 a 15 mm de diâmetro, que se abre quando madura, libertando numerosas sementes muito pequenas.

A denominação científica da espécie está relacionada com a forma e a cor das flores. O nome do género Digitalis deriva do latim digitus, que significa “dedo”, devido à forma que as flores apresentam – semelhantes a um dedal – e a designação purpurea refere-se obviamente à cor da flor.

Bela, medicinal e muito tóxica

A dedaleira é uma espécie nativa da Europa Ocidental, Norte de Marrocos e Macaronésia. É uma planta espontânea em Portugal Continental, principalmente no Norte e Centro, e no Arquipélago da Madeira. No Arquipélago dos Açores também é possível ver esta planta, ainda que tenha aí sido introduzida.

É uma planta campestre, ruderal, que cresce em estado selvagem, com preferência por locais com exposição solar plena ou de meia sombra, solos húmidos, frescos e bem drenados. Apesar de tolerar luz solar plena, a dedaleira não tolera altas temperaturas.

É comum encontrar-se esta planta em lugares abertos e rochosos, taludes, orlas e clareiras de bosques e matas, em bermas de caminhos e sebes e próximo de linhas de água.

A dedaleira é um exemplo típico de como a mesma planta pode curar ou matar, ocupando um lugar de destaque entre as plantas com interesse e utilidade medicinal, desde 1000 d.C..

Os principais usos conhecidos foram primeiramente ao nível do tratamento de tosse, epilepsia, cicatrizante de úlceras e de chagas cutâneas e para limpar e cicatrizar feridas, através da preparação de infusões de folhas para aplicação externa sobre as zonas a tratar. 

No final do século XVII, foi reconhecida no tratamento de doenças cardíacas. A presença de digoxina e de digitalina – glicosídeos esteroides e cristalinos – são importantes tónicos cardíacos, que permitem estimular e controlar o ritmo do coração, sendo uma valiosa ferramenta no tratamento de arritmias ou insuficiências cardíacas. Estas substâncias são amplamente utilizadas pela indústria farmacêutica para a produção de muitos medicamentos cardiotónicos.

Foto: Joanna Boisse/Wiki Commons

A dedaleira possui ainda propriedades diuréticas, fortificantes e tonificantes.

Por outro lado, as mesmas substâncias ativas podem provocar graves intoxicações e até levar à morte quando consumidas em doses exageradas; logo, devem ser usadas sob administração médica. A planta inteira é cardiotóxica. 

Além do cultivo pelo interesse medicinal que manifesta, a dedaleira é muito procurada pela beleza das suas flores, sendo muito interessante do ponto de vista ornamental. Existem atualmente inúmeras variedades desta e de outras espécies do género, excelentes para embelezar floreiras, vasos, bordaduras, canteiros e maciços de jardins. 

Do ponto de vista ecológico, é uma espécie essencial para os polinizadores, uma vez que as suas flores são muito apelativas, nomeadamente para as abelhas que procuram o seu néctar.

Digitalis em Portugal 

Em Portugal, podemos encontrar duas subespécies de Digitalis purpurea. A Digitalis purpurea subsp. purpurea, mais comum e frequente por todo o território continental e Arquipélago da Madeira, e a Digitalis purpurea subsp. amandiana, espécie endémica de Portugal Continental. A principal característica que distingue as duas subespécies prende-se com o facto de a segunda possuir caules e folhas praticamente glabros, ou seja, sem pelos.


Além destas subespécies, também é possível encontrar, de forma espontânea, outras duas espécies do género Digitalis, ambas endemismos Ibéricos. 

A Digitalis thapsi é mais frequente no Interior Norte e Centro de Portugal continental e inexistente nas Ilhas. É facilmente confundida com a Digitalis purpurea, no entanto possui a particularidade de ser mais pegajosa em todas as suas partes. 

A Digitalis mariana subsp. heywoodii é mais rara, possui corola branca, por vezes manchada de rosa nas margens, com máculas purpúreas no interior. Segunda a União Internacional para a Conservação da Natureza, esta espécie está na categoria das espécies “Em Perigo” em Portugal Continental.

De acordo com a Farmacopeia Portuguesa, a única espécie reconhecida pelos seus fins medicinais é a Digitalis purpurea L.

Todas as plantas são tóxicas

Em algum grau, todas as plantas apresentam alguma toxicidade. Cerca de 1/3 das espécies vegetais produzem substâncias venenosas, mas nem todas são perigosas.

A denominação de planta tóxica aplica-se geralmente àquelas cuja ingestão ou contacto provoca sintomas de intoxicação. No entanto, está também dependente do tipo e concentração de veneno, da espécie animal que a ingeriu e das condições físicas da vítima.

Pode dizer-se que a toxicidade de uma planta é um problema de dosagem. A margem terapêutica é muito estreita e a dose tóxica está muito próxima da curativa.

Como já dizia Paracelso, médico alquimista e filósofo suíço do século XVI: “Na natureza todas as substâncias são venenos, não existe nada que não o seja. Somente a dose correta diferencia o veneno do remédio.”

Dicionário informal do mundo vegetal:

Lanceolada – folha com forma de lança
Ovada – folha com a forma de um ovo mais larga perto da base
Elíptica – folha com forma que lembra uma elipse, mais larga no meio e com o comprimento duas vezes a largura
Ruderal – vegetação que se desenvolve em meios resultantes da atividade humana (como sejam bermas de caminhos, taludes de vias de comunicação, imediações de lixeiras e entulhos, campos abandonados, etc)
Glabra – sem pelos

Carine Azevedo

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