Por: Paula Freire
(colaboradora do Memórias...e outras coisas...)
Um dia, a voz translúcida de um pássaro falou-me da espessura do tempo que guardei no rosto e nos espelhos da pele, onde os instantes tristes me choraram.
Dos amores que perdi, das vitórias que não brindei, das estrelas que arderam na invenção mais pura do que fui e dos sonhos onde nunca morei, por não existirem. Labirintos desconhecidos que tateei no naufrágio de todos os desencantos.
Mas hoje… Hoje escutei(-me)…
Escutei a eternidade da terra onde a profecia se fez refúgio num sereno vagar deslumbrado.
A paz abraça-me, demorada, como um arroubo de vontades onde estreito a ternura de me querer.
Amanheço no princípio do meu mundo, tão visível como o som de um pensamento inesperado, a tocar os versos mais bonitos do poema em que me descubro.
Hoje, as minhas mãos nas tuas, numa esperança inconfundível com a serenidade a pousar-me no olhar, docemente.
E dizes-me que estou viva em todos os lugares mais próximos do coração, no sentir da saudade onde os poetas desejaram sonhar. Sorrio. Sorrio apenas, singelamente, porque o teu sorriso vive em mim e é-me tudo. Nele, esquecida das sombras, o meu olhar dança entre duas luas de ouro e transparência.
É em ti e no claro majestoso do nosso silêncio que permaneço e me dou à vida. Porque um dia me encontraste.
Porque um dia me encontrei.
Paula Freire - Natural de Lourenço Marques, Moçambique, reside atualmente em Vila Nova de Gaia, Portugal.
Com formação académica em Psicologia e especialização em Psicoterapia, dedicou vários anos do seu percurso profissional à formação de adultos, nas áreas do Desenvolvimento Pessoal e do Autoconhecimento, bem como à prática de clínica privada.
Filha de gentes e terras alentejanas por parte materna e com o coração em Trás-os-Montes pelo elo matrimonial, desde muito cedo desenvolveu o gosto pela leitura e pela escrita, onde se descobre nas vivências sugeridas pelos olhares daqueles com quem se cruza nos caminhos da vida, e onde se arrisca a descobrir mistérios escondidos e silenciosas confissões. Um manancial de emoções e sentimentos tão humanos, que lhe foram permitindo colaborar em meios de comunicação da imprensa local com publicações de textos, crónicas e poesias.
O desenho foi sempre outra das suas paixões, sendo autora das imagens de capa de duas obras lançadas pela Editora Imagem e Publicações em 2021: Cultura sem Fronteiras (coletânea de literatura e artes) e Nunca é Tarde (poesia).
Prefaciadora do romance Amor Pecador, de Tchiza (Mar Morto Editora, Angola, 2021) e da obra poética Pedaços de Mim, de Reis Silva (Editora Imagem e Publicações, 2021).
Autora do livro de poesia Lírio: Flor-de-Lis (Editora Imagem e Publicações, 2022).
Em setembro de 2022, a convite da Casa da Beira Alta, realizou, na cidade do Porto, uma exposição de fotografia sob o título: "Um Outono no Feminino: de Amor e de Ser Mulher".
Atualmente, é colaboradora regular do blogue "Memórias... e outras coisas..."-Bragança, da Revista HeliMagazine e da Revista Vicejar (Brasil).
Há alguns anos, descobriu-se no seu amor pela arte da fotografia onde, de forma autodidata, aprecia retratar, em particular, a beleza feminina e a dimensão artística dos elementos da natureza, sendo administradora da página de poesia e fotografia, Flor De Lyz.
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