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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 4 de julho de 2024

Conhecer o Vale do Côa, de dia... e de noite. Uma experiência inesquecível

 No mês passado tive oportunidade de conhecer um dos lugares mais extraordinários de Portugal - o Vale do Côa. Foi uma experiência muito interessante, mas o que a tornou realmente inesquecível foi a oportunidade de ver a beleza do Vale durante o dia e depois visitar as suas famosas gravuras rupestres durante a noite.

Travellight

Observando de cima, a paisagem é tão linda que nos tira o fôlego... Imagino que há 25.000 anos atrás, já provocasse essa mesma reação aos homens do Paleolítico. Talvez por isso tenham escolhido este vale para se instalarem e para o embelezarem com a sua arte.

É verdade que nunca saberemos exatamente porque os nossos antepassados “grafitavam” a pedra. E teorias não faltam: marcação de território, motivos religiosos, superstições, expressão artística… Possivelmente, seria uma combinação de todos estes motivos, mas eu gosto de pensar que o principal era mesmo a arte e o desejo inerente ao ser humano de partilhar com os outros aquilo que vê e aquilo que vive. Afinal, ainda hoje fazemos isso.

O Museu de Foz Côa

O edifício modernista, de linhas retas, desenhado pelos arquitetos Camilo Rebelo e Tiago Pimentel, foi texturizado para parecer que existe em harmonia com a paisagem circundante de granito e xisto e o efeito foi muito bem conseguido. A sua inserção é notável e em nada diminui a beleza do local. Pelo contrário, acrescenta.

A entrada encontra-se no final de uma estreita passagem que, a principio, não te deixa ver a verdadeira extensão do museu.

créditos: Travellight e H. Borges

Enquanto desces a rampa inclinada, ficas com a impressão que estás a entrar para dentro da terra e que nesse processo estás também a voltar atrás no tempo… Como se de repente descobrisses uma caverna que guarda segredos de um passado longínquo. Passas de uma luz imensa à penumbra e os teus olhos têm de se adaptar ao novo ambiente.

Lá dentro, encontramos réplicas em tamanho real dos exemplares de arte rupestre, coleções de vestígios arqueológicos, dioramas e alguns elementos interativos, que tornam toda a visita mais interessante e divertida.

créditos: Travellight e H. Borges

Uma exposição temporária de obras de João Cutileiro, Gravuras recentes e Outros Riscos, foi uma boa surpresa. E pareceu-me fazer todo sentido estar ali um “herdeiro moderno” da ancestral arte rupestre.

Terminada a visita ao museu, que bom foi poder encontrar, no próprio local, um restaurante que serve a boa gastronomia regional acompanhada por excelentes vinhos do Douro Superior e usufruir da vista extraordinária da Foz do Côa e do amplo terraço sobre o Douro Vinhateiro.

Vila Nova de Foz Côa

A tarde foi reservada para conhecer Vila Nova de Foz Côa, conhecida como a “Capital da Amendoeira”. Uma vila pequena, mas bonita, com uma igreja matriz extraordinária.

A igreja situa-se no centro da vila e foi incluída na primeira lista de imóveis classificados como monumentos nacionais em 1910.

créditos: Travellight e H. Borges

Foi mandada construir pelo rei D. Manuel I, em invocação a Nossa Senhora do Pranto e na sua construção colaboraram mestres biscainhos, franceses e italianos. Destaca-se pela sua fachada decorada com motivos manuelinos, pelo seu teto de madeira pintada cujo elemento central é o escudo real, e pelas suas colunas inclinadas. As colunas estão tão inclinadas, que é surpreendente como ainda conseguem suportar o edifício.

Do outro lado da praça, frente à igreja, fica um bonito Pelourinho de pedra e a Câmara Municipal.

créditos: Travellight e H. Borges

Para além destes monumentos e algumas capelas, Vila Nova de Foz Côa não tem grandes atrações, mas é agradável passear pela sua rua principal, ver a calçada decorada com os desenhos rupestres do Côa, espreitar as lojinhas e parar para beber um café numa das esplanadas.

Castelo Melhor

De Vila Nova de Foz Côa segui para Castelo Melhor, uma pacata aldeia rural, com casario típico de pedra e monumentos interessantes como o Castelo, a Igreja Matriz e a Capela de Santa Bárbara.

A subida até ao Castelo é bastante inclinada, mas a vista lá de cima vale a pena o esforço.

Este é um dos melhores exemplos de fortaleza medieval secundária, erguida numa das zonas mais periféricas dos reinos peninsulares.

créditos: Travellight e H. Borges

A obra original é leonesa e remonta aos inícios do século XIII, altura a que corresponde uma intensa fortificação da linha de Riba-Côa, zona constantemente disputada pelos monarcas português e castelhano. Foi neste contexto que Afonso VII, em 1209 ou 1210, mandou construir a fortaleza, dando-lhe simultaneamente foral, numa tentativa de consolidação populacional e militar, que se veio a revelar de relativa importância nos dois séculos seguintes. Menos de um século depois, com o Tratado de Alcanices (1297), Castelo Melhor passou para a coroa portuguesa.

Hoje o edifício está praticamente em ruínas, mas pelo cartaz colocado na entrada, parece que há planos para começar a sua recuperação.

A aldeia de Castelo Melhor é uma das portas de entrada para o Parque Arqueológico do Vale do Côa e era do seu Centro de Receção que partia a minha visita guiada noturna para o vale.

Tinha pensado jantar por lá, antes da visita, mas não tive sorte. Não encontrei nada aberto, a não ser uma loja de souvenirs (de onde saí com um quilo de amêndoas deliciosas). Havia mais um café (taberna?) aberta, mas a senhora que se aproximou para me atender disse que nem uma sandes de queijo podia arranjar. Fiquei sem perceber se foi má vontade ou se não tinha mesmo nada…

O Vale ao cair da noite

Passava pouco das oito da noite quando saímos da pequena e silenciosa aldeia de Castelo Melhor e o jipe desceu por um caminho acidentado e sinuoso de terra batida, passando por campos plantados com amendoeiras e oliveiras, em direção ao rio Côa.

Senti aquela excitação de quem ia finalmente ver parte de um património que é considerado o maior museu ao ar livre do Paleolítico de todo o Mundo - classificado em 1998 como Património Cultural da Humanidade pela UNESCO.

créditos: Travellight e H. Borges

O sol lançava os seus últimos raios sobre o vale, quando o jipe parou nas margens duma grande praia fluvial na margem direita do rio Côa. A partir dali seguimos a pé até ao sítio de arte rupestre da Penascosa.

A noite foi caindo e as primeiras estrelas começaram a aparecer. Em breve enchiam o céu e aumentavam o meu sentimento de assombro. Estava quente (23º C) e os insetos atacavam-me impiedosamente, mas o incómodo era pouco e passou completamente quando paramos na primeira pedra e o guia apontou o forte feixe de luz da sua lanterna para os desenhos.

Diante dos meus olhos as imagens começaram a ganhar forma. Uns sobre os outros, foram aparecendo nos traços marcados há milhares de anos, cavalos, auroques (bois selvagens, atualmente extintos) e outros animais.

créditos: Travellight e H. Borges

Sem o sol, "sob a luz artificial é mais fácil ver as gravuras" tinha me dito o guia, e realmente tinha razão. Conseguia ver tudo perfeitamente!

Por vezes, era difícil entender exatamente "o que estava a ver", mas bastava o guia apontar para o desenho e tudo ficava claro.

A noite, já se sabe, aumenta a fantasia e esbate a realidade. O caminho escuro, o céu estrelado, o barulho do rio a correr ao longe, os morcegos a sobrevoar… Logo dei por mim a imaginar o mundo paleolítico. Vi uma manada de auroques a descansar na margem e um homem que à luz de uma fogueira contemplava com orgulho a sua obra: um belo cavalo. A nós pode parecer que o animal tem duas cabeças, mas na verdade o artista quis transmitir o movimento que viu o equídeo fazer. Disse o guia que esta foi a primeira cena de cinema da história, e se calhar tem razão…

créditos: Travellight e H. Borges

Pedra a pedra, fomos descobrindo outras cenas de vidas passadas - “palavras” dos nossos antepassados que mostravam como deve ter sido fértil este vale. Havia comida em abundância e água. Parece que eles não se limitavam a caçar, também pescavam. A gravura de um peixe grande prova isso.

Foram duas horas e meia que passaram a correr.... Ficou a experiência e a lembrança de uma noite inesquecível!

The Travellight World

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