Por: José Mário Leite
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
Nos conturbados tempos que vivemos estamos a ser confrontados com uma alteração acelerada dos códigos tradicionais de convivência societária. Com o passar dos anos e o almejado progresso e melhoria, em todas as vertentes, do nível de vida e das regalias sociais, fomo-nos habituando a uma casa comum onde a coabitação se regia por regras, cada vez mais democráticas, justas, racionais e solidárias.
É verdade que, em várias partes do mundo, continuam ainda a existir (e a surgir, de vez em quando, embora com menor frequência), regimes autoritários, porém, com medidas de cariz democrático, efetivas ou, pelo menos, simuladas. Escorados, estes últimos, na sua maioria, em poderes de base religiosa, hereditária e, quase todos, no controlo e uso, em proveito próprio das forças militares.
A luz ao fundo do túnel aparecia, praticamente sempre, na forma de um golpe revolucionário, na alternância de um poder popular (nos casos em que os arremedos de democracia pudessem permitir a realização de eleições) ou no aparecimento de alguma vaga de fundo nascida do esclarecimento, da cultura e do triunfo da razão.
Porém, o início do novo milénio, concretamente na terceira década deste século, começam a surgir movimentos que, em sociedades maduras, livres e progressistas, sendo autoritários e despóticos que, mesmo usando os mecanismos legais, explorando a mentira, o exagero, a distorção e a bazófia descarada, chegam ao poder e começam a alterar, em seu proveito as regras estabelecidas. A expressão máxima e, igualmente, a mais perigosa tomou os comandos da governação da mais poderosa nação do mundo e isso é, inegavelmente, um risco para toda a humanidade. As notícias vindas dos Estados Unidos da América confirmam a tomada do poder por quem olha para todo o mundo com uma lógica mercantil em que a tradicional diplomacia entre estados autónomos é substituída pela ardileza negocial do mercado. Tanto assim que, com todo o despudor, colocam-se em lugares de poder efetivo, interno e, por essa via, com capacidade de influenciar os poderes externos, pessoas cuja característica mais relevante é a sua desmesurada riqueza.
Obviamente que as grandes fortunas, sempre tiveram de ser levadas na devida conta, pelos governantes, como forças de pressão influenciadoras das políticas públicas, mas nunca como decisores do futuro de cidadãos, sociedades, países e nações. Porém, tal como noutras circunstâncias, o poder adquirido de tal forma, não é inelutável. E, curiosamente, a luta contra tal tirania, nem sequer implica grandes arrojos, perigos ou sacrifícios. O desmesurado poder de Elon Musk, Jeff Bezos e companhia, advém-lhes do seu colossal património mas este não lhes caiu do céu, não o colheram nas árvores, nem tão pouco o exploraram no subsolo. Quem fez deles ricos e por consequência lhes abriu as portas do poder, fomos todos nós. Ora, se tal distorção nos incomoda a solução é simples: boicotemo-los. Deixemos de comprar Teslas de fazer compras na Amazon e, tão simplesmente, passemos a ignorar o X.
José Mário Leite, Nasceu na Junqueira da Vilariça, Torre de Moncorvo, estudou em Bragança e no Porto e casou em Brunhoso, Mogadouro.
Colaborador regular de jornais e revistas do nordeste, (Voz do Nordeste, Mensageiro de Bragança, MAS, Nordeste e CEPIHS) publicou Cravo na Boca (Teatro), Pedra Flor (Poesia), A Morte de Germano Trancoso (Romance) e Canto d'Encantos (Contos), tendo sido coautor nas seguintes antologias; Terra de Duas Línguas I e II; 40 Poetas Transmontanos de Hoje; Liderança, Desenvolvimento Empresarial; Gestão de Talentos (a editar brevemente).
Foi Administrador Delegado da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana, vereador na Câmara e Presidente da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo.
Foi vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
É Diretor-Adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian, Gestor de Ciência e Consultor do Conselho de Administração na Fundação Champalimaud.
É membro da Direção do PEN Clube Português.
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