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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite, Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 12 de abril de 2025

Tartaranhão-caçador: proteger ninhos e ovos trouxe mais 34 crias voadoras a Trás-os-Montes

 Ações de conservação no distrito de Bragança foram essenciais para mais de metade dos juvenis da espécie que sobreviveram até serem autónomos, em 2024. A Wilder falou com a equipa da Palombar e conta-lhe o que aconteceu.

Macho de tartaranhão-caçador. Foto: Filippo Guidantoni/Palombar

Graças à proteção de ninhos e ao resgate de ovos e crias no distrito de Bragança, sobreviveram 34 tartaranhões-caçadores (Circus pygargus) nascidos em 2024, indica um novo relatório da ONG Palombar, a que a Wilder teve acesso. Incluindo as 19 crias que resistiram na natureza e sem qualquer ajuda, no ano passado houve 53 novas crias voadoras nesta parte de Trás-os-Montes, que abarca os concelhos de Bragança e Miranda do Douro, entre outros.

Feitas as contas, as medidas aplicadas em 2024 contribuíram para a sobrevivência de quase duas crias voadoras de tartaranhão-caçador por cada ninho – uma taxa de produtividade anual de 1,96 para esta ave migradora, que se reproduz em Portugal. Estes dados constam de um relatório com a avaliação do último ano do projeto “Searas com Biodiversidade: Salvemos a águia-caçadeira”, iniciado em maio de 2022 e substituído em setembro passado pelo LIFE SOS Pygargus, que é mais abrangente mas continua a incluir ações como estas.

Macho de tartaranhão-caçador (Circus pygargus), em voo. Foto: Filippo Guidantoni

De facto, 2024 foi “um ano bom” para as ações de apoio a esta ave de rapina (também conhecida por águia-caçadeira), considera a equipa da Palombar, que tem coordenado estes projetos. Se aquelas não tivessem sido realizadas, estima-se que a taxa de produtividade anual ter-se-ia reduzido a 0,70 – ou seja, menos de uma cria voadora por cada ninho, bastante abaixo do desejável.

É no Norte que se concentra entre 55 a 60% da população portuguesa desta espécie considerada Em Perigo de extinção pela Lista Vermelha das Aves Nidificantes de Portugal Continental (2022). Nesta região, o tartaranhão-caçador aparenta estar ainda pior do que a nível nacional: o censo nacional da espécie (2022 e 2023) contou aqui entre 66 a 118 casais reprodutores – uma “redução drástica” de 76 a 80% no espaço de 10 anos – enquanto que a área de distribuição caiu para quase metade face à situação em 2015-2021.

“Intervimos unicamente em ninhos que vão ser destruídos”

Entre as maiores ameaças a estas aves estão as alterações climáticas e os predadores – como raposas, milhafres e aves de rapina maiores – mas também as mudanças nas tradições agrícolas. Os ninhos, construídos no meio das searas para ficarem mais escondidos, acabam muitas vezes destruídos durante a fase da colheita, antes de as crias nascerem ou começarem a voar. Para evitar que isso aconteça, e com a concordância dos donos dos terrenos, o projeto colocou no ano passado vedações em volta de sete ninhos de alto risco – quatro dos quais ainda com ovos e outros três já com crias nascidas.

“Intervimos unicamente em ninhos que vão ser destruídos. Maioritariamente, são ninhos colocados em campos cultivados para produção de forragens (feno para alimentar o gado, por exemplo) e cortados ainda em verde, quando os ninhos têm geralmente ainda ovos ou crias muito pequenas”, explicaram Filippo Guidantoni e Luís Ribeiro, da Palombar. “Também temos de intervir quando os ninhos estão localizados em searas para grão – normalmente cortadas mais tarde – cuja ceifa esteja prevista antes da data de voo das crias.”

Ninho de tartaranhão-caçador (Circus pygargus) protegido por uma vedação.
Foto: Filippo Guidantoni/Palombar

Ainda assim, por vezes há contratempos: dois dos ninhos protegidos foram abandonados pelos progenitores durante a ceifa, tornando necessário resgatar os ovos. Dos outros cinco ninhos também vedados, resultaram 14 crias voadoras – também ajudadas por pequenas caixas de madeira, que lhes serviram de abrigo e as protegeram dos ‘picos’ de calor.

Já o resgate de ovos e de crias faz-se apenas quando não há alternativa. “Idealmente, tentamos manter o maior número possível de ninhos no terreno e resgatar apenas como última opção. Regra geral, se houver crias, vedamos; se houver ovos, a decisão sobre resgatar ou vedar depende de vários fatores, como por exemplo o estado de incubação (quantos dias de incubação no momento da ceifa?), a atitude e disponibilidade do agricultor, a reação dos progenitores à instalação da vedação e à perturbação causada pela ceifa”, descreveram os dois responsáveis, numa entrevista por escrito.

Cria resgatada de tartaranhão-caçador (Circus pygargus). Foto: Filippo Guidantoni/Palombar

Destas ações de resgate, que em 2024 abrangeram sete ninhos diferentes – “todos situados em parcelas agrícolas de ceifa iminente ou abandonados plos progenitores durante a ceifa” – resultaram 20 juvenis voadores, libertados depois de passarem algum tempo numa jaula de aclimatação (‘hacking’).

Medidas no terreno entre maio e junho

Por estes dias, faltam poucas semanas para que as medidas de proteção de ninhos e crias regressem ao terreno, antes que comecem as colheitas. “Geralmente, aqui em Trás-os-Montes, nos campos cortados em verde [para produção de forragens], a colheita costuma ocorrer entre meados de maio e as primeiras semanas de junho. No caso das searas para grão, costuma ser cerca de um mês mais tarde (embora aqui sejam poucas as parcelas destinadas a produção de grão)”, explicaram Filippo Guidantoni e Luís Ribeiro. Já as crias criadas em cativeiro costumam ser libertadas na natureza com cerca de 50 a 55 dias, “o que geralmente acontece no final de julho”.

Nos próximos anos, pelo menos até 2030, as medidas de apoio ao nascimento de tartaranhões-caçadores vão continuar no âmbito do novo LIFE SOS Pygargus, tanto em Trás-os-Montes como noutras regiões do país e também de Espanha. Coordenado pela Palombar, inclui outros 17 parceiros portugueses e espanhóis.

“A extinção do tartaranhão-caçador — ou de qualquer outra espécie — representa uma perda irreparável de biodiversidade e património genético. É um empobrecimento do nosso património natural e um grande desequilíbrio nos ecossistemas”, avisam os dois técnicos. “Esta espécie, em particular, desempenha um papel ecológico fundamental no controlo natural de pragas agrícolas, pelo que a sua perda significaria também a perda desses serviços que nos são gratuitamente prestados.”

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