O interior de Portugal, especialmente a região de Trás-os-Montes e o concelho e distrito de Bragança, enfrentam há muitas décadas uma tendência persistente de despovoamento e envelhecimento populacional. Esta realidade, embora complexa, reflete um desequilíbrio territorial crescente, com impacto profundo no tecido económico, social e cultural destas regiões.
Bragança é um dos distritos com menor densidade populacional em Portugal. Muitas aldeias encontram-se hoje reduzidas a pequenos núcleos de população envelhecida, com uma presença jovem quase inexistente. O fenómeno não é novo, desde os anos 60 que o interior foi fortemente afetado pela emigração e pela centralização económica no litoral. No entanto, a sua persistência levanta questões estruturais sobre o modelo de desenvolvimento do país.
A falta de oportunidades de emprego qualificado, a ausência de investimento público consistente e a concentração dos serviços essenciais nas cidades maiores criaram um ciclo de abandono. Os jovens partem para estudar e raramente regressam. O acesso limitado a cuidados de saúde, educação, cultura e mobilidade agrava a perceção de isolamento. A desertificação humana transformou-se num ciclo difícil de reverter.
O envelhecimento populacional não afeta apenas a pirâmide etária, compromete a sustentabilidade dos serviços sociais, já conduziu ao encerramento de escolas e unidades de saúde e acentua o abandono do património rural. Em muitas aldeias, é visível o desaparecimento gradual da vida comunitária, do comércio local, dos cafés e das tabernas, e das tradições culturais. A perda de massa crítica compromete também o potencial económico da região.
Apesar das dificuldades, Bragança tem conseguido alguns, se bem que poucos, sinais de vitalidade. O Instituto Politécnico de Bragança (IPB) tem sido um motor de atração de estudantes nacionais e internacionais, promovendo conhecimento e inovação. Algumas aldeias começam a acolher imigrantes ou turistas que investem em casas abandonadas, e há projetos comunitários que procuram valorizar os recursos naturais e os produtos locais, como a castanha, o azeite, o fumeiro ou o vinho.
É urgente pensar o interior não como um espaço perdido, mas como uma oportunidade de futuro. Algumas propostas incluem:
- Incentivos fiscais e habitação acessível para famílias jovens que se fixem no território;
- Apoio ao empreendedorismo rural e valorização dos produtos endógenos;
- Reforço da conetividade digital e física, com redes de transportes e internet de qualidade;
- Integração de imigrantes e nómadas digitais, que podem contribuir para revitalizar comunidades;
- Descentralização administrativa, garantindo maior autonomia às autarquias;
- Promoção do turismo sustentável e da educação ambiental.
Reverter o despovoamento e o envelhecimento populacional em Bragança e noutras regiões do interior exige uma visão estratégica, articulada entre o Estado, as autarquias, as universidades, ou politécnicos e as comunidades locais. Importa preservar memórias, mas tem que se garantir o futuro, regenerar o território, reinventar modos de vida e devolver dignidade e centralidade a quem escolhe viver perto da terra.

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