A cidade ainda tremia com o confronto da véspera. Cada rua, cada esquina, lembrava aos habitantes que Bragança estava vulnerável. O recomeço agora exigia mais do que reconstrução, exigia estratégia.
Afonso reuniu os líderes de cada bairro na torre principal das muralhas. Lídia trouxe mapas detalhados da cidade e das florestas circundantes. Baltasar, apoiado no bordão, observava cada rosto, atento à determinação e ao medo que se misturavam nas feições dos presentes.
- Precisamos entender, disse Afonso, apontando para os trilhos da floresta, onde é que eles aparecem, como se movem, e quais os caminhos que evitam. Se prepararmos armadilhas e posições defensivas, podemos virar o jogo a nosso favor.
Lídia acrescentou:
- Alguns registos antigos mencionam seres que se escondem na neblina e usam o ambiente para confundir os humanos. Talvez as histórias do Cavaleiro das Sombras possam ensinar-nos algo sobre como lidar com inimigos que se movem nas sombras.
Baltasar bateu o bordão na madeira da mesa.
- Precisaremos de vigias constantes. Cada rua, cada portão deve ter alguém a observar. Não podemos esperar que o perigo nos surpreenda novamente.
Enquanto os planos eram traçados, mensageiros corriam pelas ruas em busca de reforços. Vizinhos e aldeias próximas foram avisados da ameaça. Alguns mercadores e artesãos decidiram permanecer para ajudar a fortificar Bragança. Outros, porém, fugiram, incapazes de enfrentar algo tão desconhecido.
Ao cair da noite, torres de vigia foram erguidas, pequenas armadilhas escondidas entre árvores e becos. Cada casa recebeu instruções para reforçar portas e janelas. E, nas muralhas, Afonso posicionou os arqueiros mais habilidosos, preparando-se para guiar os inimigos para áreas abertas, onde poderiam ser controlados.
Lídia, a caminhar com Afonso sob a luz de tochas, comentou:
- Precisamos de aliados que conheçam a floresta. Os caçadores da região podem ajudar-nos a antecipar os movimentos e encontrar possíveis pontos de entrada que desconhecemos.
- Concordo, respondeu Afonso: - Amanhã sairemos para conversar com eles. Se conseguirmos que os caçadores colaborem com os nossos vigias, teremos uma rede capaz de proteger a cidade e talvez descobrir quem ou o que realmente nos ameaça.
Baltasar, olhando para a neve que começava a cair novamente, murmurou:
- Bragança sobreviveu a mentiras e fantasmas do passado. Agora, precisará sobreviver a inimigos que caminham nas sombras. Mas desta vez, não estaremos sozinhos.
Enquanto a cidade se preparava, algo se movimentava nas profundezas da floresta. Silencioso, observava os movimentos das muralhas, estudava as armadilhas recém-colocadas, e percebeu que enfrentaria uma Bragança diferente daquela que tinha visitado na noite anterior. A caça estava prestes a começar, e a cidade que se reconstruía teria que provar que coragem e inteligência, juntas, podem superar até os inimigos mais misteriosos.
Continua...
N.B.: A narrativa e os personagens fazem parte do mundo da ficção. Qualquer semelhança com acontecimentos ou pessoas reais, não passa de mera coincidência.

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