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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite, Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues, João Cameira e Rui Rendeiro Sousa.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 28 de setembro de 2025

A Matança de Outeiro - Capítulo III – Preparativos para a Batalha


 O vento frio do início de manhã percorria Outeiro, trazia consigo o aroma da terra molhada e das lareiras acesas, mas também um presságio de perigo que se espalhava pela aldeia. Todos sabiam que o inimigo se aproximava, e a sensação de urgência era palpável. Cada aldeão parecia sentir o peso do destino nos ombros.

Na praça central, Tomé trabalhava lado a lado com o seu pai, reforçando portas de madeira com barras de ferro e pregando novas tábuas. As suas mãos, já calejadas do martelo, tremiam ligeiramente. Não de medo, mas de responsabilidade. Ele sabia que cada martelada poderia, um dia, salvar uma vida ou evitar a destruição da aldeia.

- Tomé, concentra-te, disse o pai, enxugando o suor da testa. Cada prego bem colocado pode ser a diferença entre a vida e a morte.

Tomé concordou e sentiu um frio misturado com uma estranha excitação. Ele sabia que aquele dia poderia marcar para sempre a sua vida e a de todos à sua volta.

Enquanto isso, Maria percorria a aldeia carregando cestos de ervas e remédios improvisados. Cada passo lembrava-lhe que a batalha não seria apenas de ferro e pedra, mas também de sangue, dor e medo. Ela ensinava os mais jovens a cuidar de alguns ferimentos simples, a reconhecer sinais de choque e desespero.

- João, prepara o grupo para vigiar os caminhos, disse ela ao caçador, que a acompanhava. Precisamos saber se eles vêm de mais do que de uma direção.

- Estou a tratar disso, respondeu João, o seu olhar percorreu a encosta da colina como se pudesse ver o inimigo através da névoa. Mas também precisamos de decidir onde colocar os homens mais fortes e quem ficará nos pontos críticos.

No campo à margem da aldeia, os jovens treinavam sob o olhar atento de Tiago. Alguns manejavam lanças, outros arco e flecha, enquanto os mais corajosos praticavam ataques e defesas improvisadas. O velho mestre gritava instruções, corrigia posturas, encorajava e, quando necessário, repreendia.

- Lembrem-se! Cada movimento conta! Ordenava ele. Um erro, e não é apenas a vossa vida que se perde, mas a de todos à vossa volta!

Tomé juntou-se a João e a alguns jovens mais fortes para estudar o terreno. Cada árvore, cada pedra, cada trilho era analisado. Pensavam em emboscadas, pontos de vantagem, locais onde poderiam atrasar o inimigo ou surpreendê-lo. Cada decisão parecia pequena, mas poderia definir o resultado da batalha.

No meio do trabalho, surgiam pequenas histórias humanas que coloriam o nervosismo.

Um casal jovem discutia, nervoso com a iminência da guerra, mas depois abraçava-se, prometendo proteger-se mutuamente. Uma mulher idosa ensinava os mais jovens a preparar ervas para ferimentos graves. Crianças aprendiam a carregar água e pequenas armas improvisadas, orgulhosas de poderem ajudar.

A noite caiu, e a aldeia permaneceu acordada, trabalhando e planeando. Lareiras acesas iluminavam ruas e praças, enquanto o vento frio sussurrava através das árvores. Tomé sentou-se um instante à sombra do canhão sobre o cavalete, tocou no ferro frio, imaginando os homens que haviam lutado ali séculos antes.

- Eles enfrentaram o medo e venceram, murmurou. E nós teremos de fazer o mesmo.

Maria aproximou-se e colocou a mão sobre a dele:

- Estamos todos juntos, Tomé. Não importa o que aconteça, não vamos falhar.

Enquanto o céu escurecia e a aldeia mergulhava numa noite silenciosa, cada aldeão respirava fundo, preparando-se para o que estava para vir. Amanhã, pensavam, a Matança não seria apenas um nome. Seria um campo vivo de coragem, sacrifício e esperança.

Continua...

N.B.: Este conto tem como base a "Lenda" de Outeiro "A Matança". A narrativa e os personagens fazem parte do mundo da ficção. Qualquer semelhança com acontecimentos ou pessoas reais, não passa de mera coincidência.

HM

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