(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
Pela folha da oliveira… pela flor da erva-salva… pelo cardo… pelo rosmaninho em Sexta-feira Santa… pela pedra ametista… pelo sal… pelo vinho e azeite… pelo corvo… pelo mocho… pelas asas do morcego, te faço este responso: a ti, servidor do Povo, para que, quando fores eleito para a Câmara Municipal ou para a Junta de Freguesia, saias mais pobre do que quando entraste… porque puseste os teus teres e haveres ao serviço do Povo… e não enriqueças na tentação de luvas e outros amanhos, que se escondem no descuido das decisões.
...Para que saibas que o poder não é teu, mas do Povo que to empresta, para que o repartas e administres com prudência, justiça e equidade.
.... Te encomendo com o ramo de alecrim, para que saibas que foste eleito para servir a todos e não somente à tua família política; para que não caias na tentação de te perderes na bebedeira dos assessores, secretárias, mordomos e motoristas; para que não façam do teu cargo o teu deleite, mas te ajudem a servir o Povo com humildade e recato.
...Pelas sete chagas, te recomendo a São Cristóvão, para que passes as estradas e as pontes na sobriedade do teu automóvel, instrumento de trabalho, e não na ostentação da tua riqueza que não te pertence, pois é pertença do Povo que anda a pé, na ausência do trabalho que lhe roubaram.
... Pelas sete estrelas… pelas sete virgens… te faço este responso, para que não tenhas medo e não te venham prender ao amanhecer por roubo, abuso de poder ou corrupção. Pela salsa, pela hortelã, que as tuas mãos estejam limpas, os teus olhos claros e o teu desejo parco.
... Pelas chagas de São Roque… pelos 40 dias de jejum no deserto… te faço este responso, para que saibas que és um pobre entre os Pobres e não podes dar o que não é teu, mas repartir o bem público com o desapego do bom administrador, com justiça e respeito.
... Pelos Santos Mártires… pela estrela-d’alva, te faço este responso, para que nunca te agradeçam por teres servido. Nada te pertence… nada é teu… aceitaste, por vontade própria, servir a democracia. Não te sirvas dela, no sorriso matreiro de quem reparte o pedaço maior do pão por aquele que menos precisa. Mas agradece!
Que Santo Agostinho, São Boaventura, Santo Anselmo, Platão e Aristóteles te confiram o dom da sabedoria e da humildade, e que o Povo te respeite.
Ámen!
Fernando Calado nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança.
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.


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