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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite, Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues, João Cameira e Rui Rendeiro Sousa.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 23 de novembro de 2025

Uma reflexão… A promoção da ignorância… Ou os nossos desconhecidos, mas valiosos Património e História

Por: Rui Rendeiro Sousa
(Colaborador do "Memórias...e outras coisas...")


 Ontem, a finalizar a noite, deparei-me com uma publicação do nosso ilustre Henrique Martins, dando destaque a um livro acerca de abrigos com pinturas rupestres em Trás-os-Montes e Alto Douro. Livro esse que respeito diz a três sítios icónicos no âmbito da chamada «arte esquemática», a Pala Pinta (Alijó), o Cachão da Rapa (Carrazeda de Ansiães) e Penas Róias (Mogadouro).

Fiquei mesmo entusiasmado! Acima de tudo, por se tratar de um tema muito pouco explorado, que o nosso mundo académico pouco dado é a deixar fugir o conhecimento para lá dos seus corredores bafientos. Ainda resquícios de outros tempos, provindos das «doutorices», das «mestrices» e das «professorices». Muita gente, provavelmente, o desconhecerá, mas noutros países europeus não existe essa «paranóia», no mundo universitário toda a gente se tratando por «tu», o que muita estranheza, inicialmente, me causou... 

Já agora, por mera curiosidade, esta coisa das «doutorices» é um resquício proveniente dos tempos do «Antigo Regime», no período que antecederia a «Revolução Liberal», que «mataria» o dito «Antigo Regime». Período esse, o da «Monarquia Absoluta», no qual, praticamente, só os privilegiados nobres tinham acesso a estudos superiores. E, por lá, tudo era tratado por «conde», «duque», «marquês», «visconde» e quejandos. Ora, a dita «Revolução Liberal» abriu as portas da Universidade a outros privilegiados que não ostentavam títulos nobiliárquicos. Ora, se não podiam ter o «conde» a preceder o nome, teriam de possuir algo que os distinguisse do Povo. E lá surgiu o «doutor». Curiosidades... Adiante, que já se passaram 200 anos, e persistimos na mesma «saloiice»... 

Regressando aos abrigos com «arte esquemática»… Ontem, publicaria uma imagem que nenhuma relação directa tem com esses abrigos, o «Cavalo de Mazouco». E, qual o meu espanto, ingenuidade minha, julgava ser uma designação do conhecimento geral. Pelos vistos, o que deveria ser uma das imagens de marca do distrito, não o é… E não o será por responsabilidade das pessoas que o desconheciam, mas sim por culpa da ausência das transmissão e promoção do conhecimento pelas entidades que o deveriam fazer, sejam elas de âmbito académico ou governativo. 

Suponho, por esse desconhecimento do incrível «Cavalo de Mazouco», e largando a minha ingenuidade, que poucos alguma vez tenham ouvido falar do «Cachão da Rapa» ou da «Fraga (ou Pena) da Letra», de Penas Róias. Isto retendo-me, apenas, no distrito de Bragança, que o «Abrigo da Pala Pinta» no vizinho distrito se localiza. Muitos, com bastante probabilidade, não o saberão, mas o núcleo de pinturas do «Cachão da Rapa» até está classificado como «Monumento Nacional», veja-se o espanto! Um «Monumento Nacional» do qual já se falava no século XVIII e que acabaria por ser redescoberto na primeira metade do século XX. Centúria na qual seriam descobertas as pinturas da «Fraga da Letra», em Penas Róias, bem como muitas outras, aqui destacando os soberbos sítios localizados na Serra dos Passos, em Mirandela, particularmente o do «Regato das Bouças» ou o magnificente e incrível «Buraco da Pala». Havendo muitos mais… Que cronologicamente são balizados num período que se situa entre os IV e III milénio a.C., ou seja, há cinco ou seis mil anos! “Ós abós dus abós dus nossus abós já les daba p’rá pintura! E p’ra outras cousas’e”!...

Dizem que no «Estado Novo» se promoveu o analfabetismo. O que é uma descarada mentira! Nunca tantas escolas se construíram em Portugal… Mas não «há bela sem senão»! O dito «Estado Novo» colocava as pessoas a ler, mas apenas o que interessava à «doutrina oficial», relegando qualquer espírito crítico para as ameaças de uma incursão aos calabouços. Como tal, em contraponto à «alfabetização», implementada foi a «iliteracia», ou seja, a «promoção da ignorância». Mais de meio século volvido, parecem manter-se esses bolorentos princípios. Isto é, o conhecimento persiste em ser guardado nas gavetas dos privilegiados, ciosos que são das suas teses de doutoramento ou dissertações de mestrado… Discordo completamente dessa postura académica!

Porque considero que o conhecimento não deve ser guardado, mas sim partilhado. Por isso, à medida que surgindo vão alguns temas, lá os trago, humildemente, por aqui. Sabendo que corro o risco de alguns comentários impróprios, compensados que são por outros com os quais muito aprendo. Como este, por exemplo, ontem deixado: «Só amamos o que conhecemos. E quanto mais conhecemos, maior é o nosso amor». 

Comentário deixado por uma digna Senhora, à qual disse que lho ia «roubar». Porque reflecte muito do que me levou (e leva) a despender tanto do meu tempo a tentar compreender uma região incompreendida, bem como a partilhar o pouco que vou acumulando. Porque se trata disso mesmo, quanto mais conheço a minha região, maior é o amor que sinto por ela. Não sei é se esse amor é correspondido… Instância última, que com estas incursões, os meus conterrâneos passem, igualmente, a «amar o que passam a conhecer, e que esse amor incremente à medida que mais vão conhecendo». Será uma conquista e darei o meu tempo por bem empregue… 

Temos tanto, e fazemos tão pouco com o tanto que temos...

(Foto: Primeiro registo, do século XVIII, das pinturas do «Cachão da Rapa», publicadas pelo Pe. Jerónimo Contador de Argote)


Rui Rendeiro Sousa
– Doutorado «em amor à terra», com mestrado «em essência», pós-graduações «em tcharro falar», e licenciatura «em genuinidade». É professor de «inusitada paixão» ao bragançano distrito, em particular, a Macedo de Cavaleiros, terra que o viu nascer e crescer. 
Investigador das nossas terras, das suas história, linguística, etnografia, etnologia, genética, e de tudo mais o que houver, há mais de três décadas. 
Colabora, há bastantes anos, com jornais e revistas, bem como com canais televisivos, nos quais já participou em diversos programas, sendo autor de alguns, sempre tendo como mote a região bragançana. 
É autor de mais de quatro dezenas de livros sobre a história das freguesias do concelho de Macedo de Cavaleiros. 
E mais “alguas cousas que num são pr’áqui tchamadas”.

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