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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite, Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues, João Cameira e Rui Rendeiro Sousa.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 22 de novembro de 2025

Bragança, 1º de Dezembro. “Quando os Estudantes Tomavam Conta da Tradição”


 Em Bragança, o frio de dezembro chegava sempre com um presságio diferente. Não era só o início do último mês do ano, era o renascer de uma tradição estudantil que atravessava gerações, unia amigos e cursos e transformava a cidade numa pequena festa de irreverência, memória e identidade académica.

Bragança, Coimbra em miniatura como escreveu Santa Rita Xisto.

O 1º de Dezembro, feriado nacional pela Restauração da Independência, tinha em Bragança um significado profundo. Era nessa data que os estudantes das escolas da cidade, com destaque para o Liceu Nacional de Bragança, saíam às ruas para celebrar a sua própria independência, a de serem jovens, criativos e herdeiros de um ritual que misturava música, teatro, crítica social, comes e bebes e… alguma irreverência.

Tudo começava na véspera, com o silêncio da noite incomodado pelas serenatas. Grupos de estudantes, alguns trajados a rigor, com capas negras e guitarras, percorriam as ruas empedradas da cidade, cantando ao luar. Era um momento de pausa, de beleza e de respeito pelas raízes académicas portuguesas. Mas que ninguém se enganasse, a noite ainda ia ser longa... e que o digam as nossas colegas que habitavam nos colégios femininos da nossa cidade.

Seguia-se o teatro, por norma um espetáculo satírico ou histórico, muitas vezes escrito e encenado pelos próprios alunos, onde se gozava tudo e todos, professores, políticos locais, situações caricatas da vida escolar. Era uma libertação saudável, uma forma de crítica social embebida em humor e cumplicidade. Quem assistia, ria. Quem era gozado, aprendia a rir de si próprio. Estava tudo certo.

No dia seguinte, era a vez da latada, cortejo, onde os caloiros guiados, provocados e protegidos pelos seus padrinhos e madrinhas, desfilavam pela cidade em carros decorados com temas absurdos, piadas visuais e gritos de praxe. A cidade observava, participava, divertia-se. Afinal, em Bragança, o povo e os estudantes ainda se misturavam. Ainda havia rua.

E claro, havia a lenda viva do “roubo da galinha”. Um costume picaresco e cada vez mais simbólico, em que os estudantes tentavam "roubar" (ou representar o roubo) de algumas galinhas, de um quintal qualquer. Era um gesto que remontava à ruralidade envolvente, um eco de tempos em que a comida era escassa e a brincadeira e a alegria valia mais que o ouro.

Não era vandalismo. Era tradição. E como toda tradição, adaptava-se. Muitos desses "roubos" acabavam por ser combinados com os vizinhos, numa espécie de jogo teatral entre a cidade e os seus estudantes. Uma dança de respeito, memória e imaginação.

O que tornava o 1º de Dezembro em Bragança especial não era apenas o que se fazia, mas como se fazia. Com paixão, com identidade, com a certeza de que a escola não era apenas exames e notas. Era também comunidade. Era história viva. Vandalismo era prática desconhecida e a própria palavra talvez ainda nem fizesse parte dos dicionários.

Guitarras a tocar ao frio e gargalhadas a encantar os que tocavam e os que ouviam. Bragança era palco de uma das mais autênticas celebrações do espírito estudantil português.

A partilha do tintol, a altas horas e na Praça da Sé, dos grupos que ali acorriam depois da meia-noite tinha um simbolismo que nos irmanava.

Os estudantes desistiram. Mas hoje ainda há quem tente manter essa memória com um jantar de amigos e que é isso mesmo, um jantar de velhos amigos onde se recordam tempos idos, situações… risos, sorrisos, lugares, alegrias e tristezas. Bebem-se uns copos e recordam-se cantigas e canções! Claro que agora a conversa quase sempre "foge" para os medicamentos que cada um toma, quase como que numa competição. És um amador... a minha cápsula tem mais 60 miligramas que a tua. Estás bem novo. Antes, as competições eram outras mas tão legítimas como as de agora.

Para a minha malta digo em jeito de despedida, por hoje, até dia 30 deste mês, numa aldeia aqui bem perto.

Obs* Já estou a fazer dieta…

HM

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