Votos de Feliz Natal para todos os bragançanos … e brigantinos.

Por: César Urbino Rodrigues
(Colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

 Os que nascemos, na década de 40 ou 50, numa das aldeias do nosso Trás-os-Montes, dificilmente passaremos uma época natalícia sem recordarmos o Natal da nossa infância. No meu caso, com um misto de saudade e de tristeza pela distância que já me separa desses tempos, mas também de felicidade pela alegria espontânea e infantil então vivida, não passo um Natal sem me recordar da Ceia de Consoada, da Missa do Galo e da Fogueira do Galo, na minha aldeia de Peredo dos Castelhanos, concelho de Moncorvo.

Era em casa dos meus avós maternos que nos reuníamos todos os membros da família para saborear os petiscos inconfundíveis da Ceia natalícia, em que não podiam faltar os pastéis de bacalhau e o arroz doce. E nunca mais comi arroz doce tão doce e tão saboroso como o da minha avó. Por tudo isso, quando, na década de sessenta, eu vivia em Macau, a época de mais saudades era, sem dúvida, a época natalícia. 

A Missa do Galo, na igreja da aldeia, era também um momento único pela afluência da quase totalidade dos residentes da aldeia e pelos cânticos típicos da época natalícia, que se faziam eco da fraternidade cristã do Menino-Deus feito homem, com a sua mensagem do amor entre todos, independentemente da sua condição social, acima de todos os valores materiais e temporais.

A Fogueira do Galo, no Largo da Santa Cruz que ficava praticamente a meio da povoação, era também um espaço único, para os homens, ali se juntando durante quase toda a noite até ao alvorecer, cantando e rindo, muitas vezes em desgarradas que faziam esquecer as agruras do trabalho diário no campo.

Esta página, que o Henrique teve a ousadia e a coragem de criar e tem tido a inteligência de a tornar num espaço único de partilha de conhecimentos, de sentimentos e de valores focados nas terras bragançanas, tem o condão de me transportar até esses tempos distantes e de me fazer revivê-los numa postura interior de abertura a todos os que partilham, como eu, este território do distrito de Bragança e este espaço de convívio social e cultural, que é a página «Memórias … e outras coisas – Bragança». Para o Henrique, para todos os membros desta página e para todos os bragançanos, vivam em Bragança ou se encontrem espalhados pelos 4 cantos do mundo, os mais profundos votos dum Feliz Natal, independentemente das diferenças que possamos ter em termos políticos, religiosos, futebolísticos ou de qualquer outra natureza.

César Urbino Rodrigues, natural da aldeia de Peredo dos Castelhanos, concelho de Moncorvo, estudou 9 anos no Seminário de Macau, fez a licenciatura em Filosofia na Universidade do Porto, o Mestrado em Filosofia da Educação na Universidade do Minho, com uma tese sobre «As Coordenadas fundamentais da Educação no Estado Novo», e o doutoramento na Universidade de Valhadolid, em Teoria e História da Educação, com uma tese sobre a «Representação do Outro No Estado Novo. Foi professor no ensino secundário, na Escola do Magistério Primário de Bragança, no ISLA de Bragança, no Instituto Piaget de Mirandela e DAPP na Escola Superior de Educação de Bragança.