(Colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Hoje, a propósito de por aqui ter trazido o Neolítico e a posterior Arte Esquemática na Serra de Passos, algumas pessoas se manifestaram afirmando que o desconheciam, outras, pelo contrário, demonstrando que já tinham conhecimento da sua existência. Entretanto, recebi mais “ua mensaige”, de uma pessoa que bem conheço, que me transmitia que, embora conhecesse a existência do local, ignorava a sua importância. E escrevia: «Vou acompanhando as tuas publicações e espanto me causa o tanto que, afinal, vocês aí em cima têm». Disse-lhe que, tal como muita gente, «não sabia da missa a metade». Acabaria por me perguntar: «Os vossos governantes têm consciência disso?». Como não sou governante, não sei… Sei, apenas, que me esforço para que os governantes o saibam. Só não sei é se querem saber...
Conversa puxa conversa, dir-me-ia, em tom provocatório: «Não haveis de ter tanto assim!»… E lá fui fazendo desfilar algum do tanto que temos… Tendo-me perguntado: «E o que fazem com esse tanto?»… O que haveria de responder-lhe? Limitei-me a dizer-lhe um «já te respondo logo», acompanhado de um sarcástico sorriso. Porém, ainda não sei que resposta lhe hei-de dar…
Todavia, partilho algumas das coisas que com a pessoa partilhei ao longo da conversa. Para lá de, como venho tentando expor, mais de metade da História de Portugal, como a conhecemos, não teria ocorrido sem «sangue bragançano», dada a quantidade de personalidades históricas que o carregam, ao longo da conversa, num mero exercício «teórico», fui partilhando estas «tristes e pobres» conclusões...
O distrito de Bragança possui mais de duas dezenas de imóveis e sítios classificados como Monumentos Nacionais. O que não é brincadeira… Depois, há umas quantas largas dezenas de outros imóveis classificados como Monumentos de Interesse Público, e alguns locais como Sítios de Interesse Público. Uns serão mais importantes e majestosos do que outros, mas todos detêm uma importância que parecemos não lhes querer dar. Conclusão, temos “ua catrefada” de imóveis ou sítios classificados… “Que mai fai?”...
Lembrar-me-ia que somos um distrito com quatro «selos UNESCO»! O que também não é brincadeira! Na sequência, porque um desses selos se relaciona com a biosfera, também me lembrei que temos dois Parques Naturais, um Parque Natural Regional e uma Paisagem Protegida. Para lá de seis sítios integrados na Rede Natura 2000. Eventualmente, poderei ter-me esquecido de algum, que «fazer contas de cabeça» pode, por vezes, conduzir a omissões não intencionais.
Depois ainda me lembrei de que representamos pouco mais de 1% da população portuguesa, mas temos, «contas por alto», 15% das aldeias integrantes do «selo Aldeias de Portugal». E também temos uma aldeia, e uma praia, e um acepipe, nas «7 Maravilhas de Portugal» (não sei se estarei a esquecer-me de alguma «Maravilha», “pur’i”). Mas temos mais… Como, por exemplo, bem mais de duas dezenas de produtos classificados nas categorias DOP e IGP. Coisa pouca…
E temos Pauliteiros, e “muntus” Caretos, e “tchitcha” da boa, e gente fantástica, especialmente os nossos “belhotes’e”, que tanto me ensinam. E tradições fantásticas, e “binhu du bô”. E também temos a segunda Língua Oficial de Portugal, mais os dialectos derivados derivados do Ásturo-Leonês, mas pouco queremos saber disso, “inté s’aparece que nus imbreguhêmus’e”… E rios e lagos soberbos, e serras e vales fabulosos… E também possuímos sítios de relevo que se enquadram naqueles nomes estranhos que aprendemos na escola: Paleolítico, Neolítico, Calcolítico, Idade do Bronze, Idade do Ferro e outros de cronologias subsequentes…
E temos tanto mais… “Mas tânhu de fitchare a matraca»… E fazemos tão pouco com o tanto que temos…
(Foto «surripiada» aqui das «Memórias»...)
Rui Rendeiro Sousa – Doutorado «em amor à terra», com mestrado «em essência», pós-graduações «em tcharro falar», e licenciatura «em genuinidade». É professor de «inusitada paixão» ao bragançano distrito, em particular, a Macedo de Cavaleiros, terra que o viu nascer e crescer.
Investigador das nossas terras, das suas história, linguística, etnografia, etnologia, genética, e de tudo mais o que houver, há mais de três décadas.
Colabora, há bastantes anos, com jornais e revistas, bem como com canais televisivos, nos quais já participou em diversos programas, sendo autor de alguns, sempre tendo como mote a região bragançana.
É autor de mais de quatro dezenas de livros sobre a história das freguesias do concelho de Macedo de Cavaleiros.
E mais “alguas cousas que num são pr’áqui tchamadas”.

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