(Colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Ontem, festejou-se a Restauração da Independência. No entanto, a mesma só seria efectivada mais de 27 anos depois, com a assinatura do Tratado de Lisboa, quando, finalmente, Espanha reconheceu a legitimidade dos direitos da Casa de Bragança à Coroa Portuguesa, dando fim à Guerra da Restauração. Por curiosidade, um tratado no qual, entre os seis signatários, pelo lado português, estavam dois «Bragançãos»: o Duque de Cadaval e o Marquês de Marialva! Como venho afirmando, mais de metade da História de Portugal não seria a mesma sem «sangue bragançano». Não sei é se isso interessa muito…
Na referida Guerra da Restauração, ninguém nos diz isso, também houve muito «sangue bragançano». Nomeadamente o dos incógnitos bragançanos que lutaram pelos direitos da pátria, muitos deles tendo perecido nas refregas permanentes com «nuestros hermanos», que nessa época pouco tinham de «hermanos»… Uma guerra que teve características muito peculiares na região trasmontana, a fazer relembrar os fossados de medievais épocas. Ou seja, ora agora te invadimos nós, destruindo e pilhando aldeias, ora somos nós invadidos, como represália sofrendo semelhantes consequências. Embora também tenha havido uns cercos pelo Pantoja a castelos da região. E lá nasceria um «ódio figadal» para com os tais de «nuestros hermanos», bem ilustrado no «de Espanha, nem bom vento, nem bom casamento»…
Tendo havido duas figuras que se destacaram, de forma particular e no que concerne ao distrito de Bragança, na Guerra da Restauração. Eram irmãos, seriam, em tempos distintos, Governadores das Armas de Trás-os-Montes. E tinham «sangue bragançano»! De alguma forma, já tinha trazido aqui os seus ancestrais, particularmente a bragançana que lhes transmitiu os genes bragançanos: uma digna Senhora da estirpe dos «de Morais». O primeiro deles foi D. Luís Álvares de Távora, Conde de São João da Pesqueira, e que seria o 1º Marquês de Távora. Era descendente dos Senhores de Mogadouro e da tal dama «de Morais». Enquanto nosso Governador das Armas, assumiu papel preponderante nas acções levadas a cabo na região, especialmente pelas incursões agressivas que fazia a território espanhol. A sua fama foi de tal ordem, que até foi criada a expressão «Cala-te, ladrão, que vem aí o Conde de S. João!», especialmente quando as mães pretendiam acalmar os filhos e não queriam que eles chorassem. Coitados dos catraios… O «Conde de São João» era o «Sarronco» dessa época…
No entanto, a incursão mais profunda a território espanhol seria levada a cabo, pouco tempo antes da assinatura do referido Tratado de Lisboa, pelo seu irmão, D. Francisco de Távora, que a partir da nossa região, e a mando do seu irmão, aí tomou mais de uma centena de povoações, tornando-as tributárias do Reino de Portugal! Esta figura, que seria o 1º Conde de Alvor, tendo sido, igualmente, Governador de Angola e Vice-Rei da Índia, antes de ser nomeado, numa fase posterior, Governador das Armas de Trás-os-Montes, e que, tal como o irmão, “azare du caralhitchas’e”, também carregava «genes bragançanos»!
E “prontus’e”… Lá vou trazendo por aqui, ao sabor das circunstâncias, algumas figuras e acontecimentos que a História de Portugal, centrada em Lisboa e no eixo litoral, não nos expõe. Talvez para persistirmos no princípio de que «somos pequeninos», tudo se passou sempre muito longe daqui, «lá para baixo». Todavia, os nossos antepassados também contribuíram, e de que maneira, quer dando o corpo às balas, quer com elevados contributos monetários, para hoje não sermos súbditos de «Su Majestad». O que, sendo discutível, e dado o panorama do ostracismo a que somos votados, não sei se não seria melhor… “Se calha”, tal como a «Puebla», já teríamos «Alta Velocidad»… “C’mu quera, pur’i”…
Pelo que consta nos manuais de História e nos programas de Ensino dessa mesma História, a sensação que fica é que… por terras bragançanas não temos História. Perante o que aqui venho, humildemente, expondo, imaginem lá caso tivéssemos… “Pode sêre q’alguém le pegue”…
(Foros: 1º Marquês de Távora e 1º Conde de Alvor)
Rui Rendeiro Sousa – Doutorado «em amor à terra», com mestrado «em essência», pós-graduações «em tcharro falar», e licenciatura «em genuinidade». É professor de «inusitada paixão» ao bragançano distrito, em particular, a Macedo de Cavaleiros, terra que o viu nascer e crescer.
Investigador das nossas terras, das suas história, linguística, etnografia, etnologia, genética, e de tudo mais o que houver, há mais de três décadas.
Colabora, há bastantes anos, com jornais e revistas, bem como com canais televisivos, nos quais já participou em diversos programas, sendo autor de alguns, sempre tendo como mote a região bragançana.
É autor de mais de quatro dezenas de livros sobre a história das freguesias do concelho de Macedo de Cavaleiros.
E mais “alguas cousas que num são pr’áqui tchamadas”.
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