segunda-feira, 13 de julho de 2015

Mogadouro - Lenda da Nossa Senhora da Conceição

Local: MOGADOURO, BRAGANÇA


Na egreja do mosteiro d’esta villa, é tida em grande veneração, uma imagem de Nossa Senhora da Conceição.
    Ha d’esta imagem a lenda seguinte.
    Havia n’esta villa um clerigo, muito devoto da Santissima Virgem, que mandou fazer a um esculptor uma imagem de Nossa Senhora, para a collocar na egreja.
    Era tão pobre o esculptor, que nem tinha dinheiro para comprar a madeira, para a imagem, sendo preciso dar-lh’a o clerigo. Este foi vêr a imagem, quando estava apenas desbastada; mas achou-a tão mal principiada que disse ao artista que a não continuasse, por que a não queria.
    O esculptor encostou a imagem para um canto de sua casa, onde esteve por algum tempo, esquecida e abandonada. (Isto foi pelos annos de 1680.)
    Sabendo isto os frades do mosteiro, foram alguns, por mera curiosidade, a casa do esculptor, vêr a imagem regeitada; mas não lhe achavam as imperfeições que o padre lhe attribuia (provavelmente por a vêr por acabar), e a pediram ao padre, para a mandarem concluir, ao que elle logo annuiu.
    Era padroeiro do convento e residia na vida, o marquez de Tavora, a quem os frades foram pedir que mandasse acabar a imagem, ao que elle de boa vontade accedeu.
    Concluiu-se a imagem, e ficou perfeitissima, tanto de esculptura como de pintura; e foi collocada com grande solemnidade no altar lateral, da parte do Evangelho.
    Em 1696, todo o povo da villa decidiu fazer uma grande festa á Senhora, no dia 8 de dezembro d’esse anno. Queriam estes devotos que a imagem apparecesse n’este dia com a sagrada custodia nas mãos, o que não era facil, porque a imagem estava com as mãos postas (como todas as imagens da Virgem, representando o augusto mysterio da sua Conceição).
    Para conseguirem os seus fins, ataram a custodia com fitas; mas não foi preciso, por que a Senhora abriu as mãos, e segurou com ellas a custodia. Foi desde esse dia que a imagem ficou com as mãos abertas. Este milagre foi legalmente authenticado auctoritate ordinarii.

Fonte:PINHO LEAL, Augusto Soares d'Azevedo Barbosa de Portugal Antigo e Moderno Lisboa, Livraria Editora Tavares Cardoso & Irmão, 2006 [1873] , p.Tomo V, p. 356

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