quarta-feira, 15 de julho de 2015

Aldeias de Portugal - Viagem ao país que «não sofreu cirurgia plástica»

O livro «Aldeias de Portugal - Histórias e Tradições» retrata o «Portugal do interior» e oferece ao leitor «uma viagem ao mais autêntico da nossa identidade». À conversa com Paulo Costa, autor da obra, é possível perceber ao longo de 138 páginas «a beleza das nossas gentes, a preservação do património e a qualidade ímpar dos sabores do Portugal profundo».
Paulo Costa, 36 anos, fez o percurso natural de muitos jovens do Interior do país. Cresceu e estudou na sua aldeia natal, a histórica aldeia de Poiares [concelho do Peso da Régua] e aos 18 anos partiu para o Porto, onde fez a vida académica. Depois, seguiu para Lisboa, levado pelo percurso profissional.
Após vários anos longe de Poiares decidiu regressar em 2006. Paulo fixou-se, então, na sua aldeia natal. A ligação às pessoas do meio rural, de quem diz ter recebido os maiores ensinamentos, foi uma das grandes motivações para o trabalho que se seguiu. Durante dois anos e meio dedicou-se a uma investigação intensa em torno da revitalização e preservação da vida nos territórios rurais.

Primeiro, através da página do Facebook Aldeias de Portugal, onde publicou dezenas de fotografias das aldeias transmontanas e durienses. Um trabalho que levou Paulo Costa a apostar no livro «Aldeias de Portugal - Histórias e Tradições», lançado em Poiares em Dezembro de 2012.
Um projecto que o autor caracteriza como «uma missão que visa a valorização da cultura rural e a revitalização deste tipo de territórios».
São 138 páginas que contam o país rural. Para Paulo Costa, o livro «é muito mais que um recorte ou guia de aldeias nacionais, é uma viagem ao mais autêntico da nossa identidade».
«Procuro, na escolha das fotos seleccionadas e dos textos elaborados, transmitir os sentimentos que a vida rural crava na identidade das gentes rurais, uma forma de vida que vai muito além da procura do supérfluo, onde a realidade é algo que se prova, constata e efectiva em gestos contínuos», sublinha.
O autor salienta que o livro «tem mais a ver com o sentimento de ser rural do que propriamente com uma descrição de aldeias típicas de alguma região. É um livro de histórias e tradições transmitidas em forma de sentimento puro».
É um Portugal «autêntico» aquele que nos mostra em «Aldeias de Portugal - Histórias e Tradições», vinca Paulo Costa, adiantando que é também um país que «não sofreu “cirurgia plástica”».
«Um Portugal que durante vários séculos aprendeu a desenvolver uma forma de vida genuína, a cultivar os solos, a estimar as suas raças autóctones, a explorar o mar, a misturar especiarias vindas do Oriente com legumes apanhados na horta, a preservar sabores ímpares descobertos em confecções em potes de ferro com três “patas”, a descobrir mil formas de fazer bacalhau», acrescenta.
E é também um país que tem «um povo de gente boa que ama dizer “bom dia”, que não desvia o olhar dos problemas, que agarra os bois pelos cornos, taxativamente. Este é um livro tão simples quanto a simplicidade da vida rural, e por isso se torna tão forte, pois nesta complexidade social em que hoje nos encontramos é na simplicidade que encontramos a mais pura forma de vida. E na aldeia esta forma de vida torna-se nítida e deslumbrantemente simples».
Paulo Costa fala também das gentes da aldeia que «são a alma da nossa identidade, aquelas que preservam um Portugal maior, na sua história, nas suas estórias. São gentes desprovidas do medo de viver de forma simples e natural, gentes que sorriem sem medo de pagar imposto, gentes solidárias e generosas que agarram cada dia com a frescura de quem acorda com vontade de vencer», afirma.
A esmagadora maioria das fotografias da obra são do fotógrafo Rui Pires, mas o livro contempla dezenas de fotos de outros autores, como do próprio Paulo Costa, e de Domingos Moura, um veterinário que percorre as terras de Barroso no apoio às populações rurais e que vai eternizando vários momentos fotográficos.
«Um livro que mostra o que somos»:
 O livro «mostra o que somos, como somos e como sentimos esta vida pura e rural», refere Paulo Costa e considera que poderá ser importante a diversos níveis, «quer na demonstração do valor da nossa cultura rural e das nossas tradições, na promoção das potencialidades turísticas deste tipo de territórios, quer ainda na informação sobre o apoio que poderia ser fornecido a estas populações que deram e dão tanto ao país e pedem tão pouco em troca».

E adianta que a obra poderá, numa perspectiva mais abrangente, «ser importante na forma como poderá transmitir às novas gerações as potencialidades do meio rural para a obtenção de qualidade de vida, isto numa era em que os meios de comunicação encurtaram distâncias e permitem estar perto de tudo, mesmo a longos quilómetros».
Paulo Costa concorda com a realidade de abandono e desertificação do interior do país. «Infelizmente, temos um país desequilibrado, desertificado, desproporcionado, envelhecido e inclinado. Mas nem tudo o que cresce, permanece. As cidades são hoje mega incubadoras de problemas sociais, graves e, muitas vezes, ocultos, pelo que a preservação dos territórios rurais é uma gigantesca oportunidade para devolver oportunidades de qualidade de vida a milhares de pessoas que vivem asfixiadas na vida citadina», alerta.
Por isso, defende que «é preciso notar e comunicar, sem medo, que ao longo das últimas décadas, numa tendência global, milhares de pessoas deixaram o mundo rural em direcção às grandes cidades atrás de uma ilusão, a ilusão da vida fácil, da qualidade de vida absoluta, do isolamento pessoal, como se isto significasse felicidade».

«Agora, numa era de uma complexidade extrema em termos sociais, a nível global, verificamos que a vida na cidade, aquela sonhada, não passou de uma ilusão, com uma insegurança cada vez mais absurda e incontrolável, com um desperdício de tempo total, passado em filas para tudo e mais alguma coisa, com falta de mobilidade, imagine-se, com problemas de emprego e, mais grave, com a verificação de que mega cidades são, no tempo, insustentáveis», constata Paulo Costa.
A oportunidade no Turismo:
 E se nesta obra é possível perceber «a autenticidade do território rural, a beleza das nossas gentes, a preservação do património e a qualidade ímpar dos sabores que se encontram neste Portugal profundo», o livro é «apenas o ponto de partida de um projecto que terá continuidade».

Em 2014, Paulo Costa tenciona lançar um novo livro com um roteiro sobre «as mais belas aldeias a visitar».
«É de sublinhar que de Norte a Sul, Este a Oeste, dos Açores à Madeira, Portugal tem aldeias que são autênticos contos de encantar, com potencialidade magníficas para o desenvolvimento de um turismo rural particular e singular a nível mundial. Somos um dos mais antigos países do mundo, com uma preservação do nosso património absolutamente fascinante e com gentes que em cada olhar conseguem contar uma estória. Urge promover, preservar e desenvolver o conceito de turismo rural», afirma.
De referir que o livro «Aldeias de Portugal - Histórias e Tradições», com a chancela da Graça Editores, está à venda no site Mundo das Aldeias, sendo que, em breve, estará disponível nas redes de distribuição nacional.
Outros projectos associados à obra estão também quase a sair, informa Paulo Costa. Um deles é a Confraria das Aldeias e Aldeões de Portugal e que terá, nas próximas semanas, a sua primeira entronização.

Texto: Ana Clara; Fotos - Paulo Costa e Rui Pires («Aldeias de Portugal»)
in:cafeportugal.net

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