quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Algumas Lendas do Concelho de Mirandela

A cisterna da Torre de Dona Chama

No castelo da Torre de Dona Chama [concelho de Mirandela] há uma cisterna com uma moura encantada em mulher da cinta para cima e serpente da cinta para baixo. Uma vez passou por ali um homem, e a moura chamou-o e disse-lhe que fosse lá ao outro dia desencantá-la, e que não tivesse medo, porque ela nesse dia apareceria toda serpente, mas o homem ficaria rico.
O homem foi. Quando a serpente ia a subir pelo homem acima, a dar-lhe um beijo na boca, assim que chegou à garganta, este intimidou-se e atirou-lhe com o casaco. A serpente enroscou-se, fugiu e exclamou:
– Ah! Que dobraste o meu encanto!
Ainda assim ela mandou ao homem que a certas horas fosse lá a um lugar, onde acharia uma pedra com doze vinténs, todos os dias. Nessa cisterna, na manhã de S. João, ouve-se um tear a trabalhar.

Fonte: VASCONCELLOS, J. Leite – Contos Populares e Lendas, Coimbra, Acta Universitatis Conimbrigensis, 1969, pp. 762-763.

Milhais

Milhais [é uma povoação do concelho de Mirandela]. A etimologia popular diz que o nome vem de mil ais soltados pelos mouros numa derrota que ali sofreram.

Fonte: ALVES, Francisco M. – Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança, Porto, vol. X, 1934, p. 130.

O tesouro, a moura e o diabo

Nos Eivados, concelho de Mirandela, arrancaram uma oliveira por sonharem com um tesouro debaixo dela. Depois de muito ler no Livro de São Cipriano e de muito cavar, apareceu a moura e também o diabo, que ninguém aguentou pé firme, e por isso todos arrebatados por grande vendaval foram projectados a grandes distâncias, ficando o tesouro encantado como estava.

Fonte: ALVES, Francisco M. – Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança, Porto, vol. IX, 1934, p. 632

Lenda de Mirandela

Há muito, muito tempo, na encosta sobranceira ao rio Tua, viviam os cristãos, cujo rei tinha uma filha muito bonita. E do lado de lá, na serra do Franco, a que também se chama a serra de Orelhão, viviam os mouros. E também lá havia um rei mouro, que tinha um filho.
Quis o destino que um dia os dois príncipes os apaixonassem. Mas como não se podiam casar, nem sequer encontrarem-se, iam todos os dias cada um para a torre do seu castelo, no ponto que fosse mais alto, para poderem ver-se um ao outro.
Até que, certa ocasião, os criados do príncipe mouro começaram a estranhar vê-lo ir todos os dias para o alto do castelo. E perguntavam-lhe o que ia fazer. Então ele, sem se denunciar, mas também sem mentir, respondia-lhes sempre:
– Vou à mira dela!
E tantas vezes lá foi, que esse lugar para onde lançava os olhos, a contar mirar a princesa, passou a chamar-se assim mesmo: Mira dela. É hoje aí a cidade de Mirandela.

Fonte: Inf.: Maria Elisa Belchior, 47 anos; rec:. Mirandela, 1999.

A maldição da serra dos Passos

Conta-se que nos tempos em que os cristãos andavam em guerra com os mouros, estas terras eram governadas por um rei cristão que tinha uma filha. Acontece que ela um dia conheceu um jovem mouro e apaixonou-se por ele. E como essa relação nunca seria abençoada, os dois decidiram fugir.
O rei quando soube foi em sua perseguição e perdeu-os quando os jovens se esconderam na serra dos Passos, que então tinha farta vegetação. Vai daí, resolveu lançar fogo à serra para que morressem queimados.
E por isso diz o povo que a serra está como está, sem vegetação, e onde só se vêem fraguedos, por causa da maldição que o rei cristão lançou aos dois fugitivos.
Nunca mais ali nasceu nada que preste.

Fonte: Inf.: Maria Elisa Belchior, 47 anos; rec:. Mirandela, 1999.

O Monte da Moura

Há na localidade de Suçães, do concelho de Mirandela, um lugar que é chamado "Monte da Moira". Contam os habitantes de Suçães que naquele lugar residiram os mouros e com eles uma princesa que se apaixonou por um soldado cristão.
O pai, ao descobrir as inclinações amorosas da filha, mandou encerrá-la numa torre de um castelo. E assim a princesa nunca mais pôde ver o seu amado. E para matar o tempo passava os dias a tecer. Ainda hoje, as pessoas da aldeia dizem que na noite de S. João, à meia noite, se houve o bater do tear da infeliz princesa moura.

Fonte: Inf.: Maria de Fátima Teixeira Colmeais, 46 anos: rec.: Mirandela, 1999.

O tesouro dos mouros da Freixeda

Há em Freixeda, concelho de Mirandela, um monte com uma fraga, onde dizem que se ouve chorar uma menina nas noites de lua cheia, ao mesmo tento que penteia os seus cabelos com um pente de ouro fino.
Nesse sítio havia antigamente umas minas de ouro, que eram exploradas pelos mouros. Por isso eles tinham muito ouro. E quando se deu a tomada da Península pelos cristãos, esconderam-no todo num poço que existe na dita fraga, com intenção de voltarem mais tarde para o levarem.
Diz-se também que deixaram ainda no local um soldado com a família para montar guarda ao tesouro, mas como os cristãos eram em maior número, o soldado e a família foram mortos, ficando só a donzela moura que se escondeu no poço, onde está encantada, e só aparece em certas ocasiões para chorar a sua triste sorte.
Este menina transforma-se numa feia serpente que durante o dia descansa na entrada do poço. E para lhe quebrar este encanto era preciso ir lá beijar a serpente, só que ninguém ainda teve coragem para tanto.

Fonte: Inf.: Mabilde da Conceição Afonso, 47 anos (que no-la transmitiu tal como a ouviu a pessoas idosas de Freixeda, Mirandela); rec.: Macedo de Cavaleiros, 1999

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