A fonte da Chuzaria
Andava um homem a lavrar com dois burros num campo, em Larinho, do concelho de Moncorvo. A certa altura, como fazia muito calor, teve sede e foi beber à fonte da Chuzaria. E reparou então num fio de ouro que estava no fundo da água.
Começou a puxar por ele, a puxar, a puxar, e o fio nunca mais acabava. Como já tinha passado muito tempo, o lavrador puxa-o com força e o fio quebrou. Nesse momento, ouviu a voz de uma moura encantada, que disse:
– Ó desgraçado, que me dobraste o encanto! Mas mesmo assim vem cá todos os dias e encontrarás seis vinténs.
O lavrador passou então a ter aquele rendimento, e por isso deu em ir todas as noites para a taberna jogar. A dada altura, começou a perder, sempre a perder, e disse aos colegas:
– Troco e volto a trocar, enquanto a fonte da Chuzaria me der seis vinténs, não deixarei de jogar!
Ao outro dia, voltou ao mesmo local e dinheiro nem vê-lo. Mas, pior que isso, a fonte secou completamente. E assim continua.
Fonte: Inf.: Teresa da Conceição Lopes, 64 anos; rec.: Larinho, Torre de Moncorvo, 2000.
A lenda da Fonte de Carvalho
Dizem os mais antigos que na Fonte de Carvalho, em Torre de Moncorvo, há uma moura encantada que canta maravilhosamente na noite de S. João. E também dizem que tem um novelo de ouro nas suas mãos e que no fim do fio está uma serpente.
Nessa noite, o novelo cai ao tanque da fonte e a moura será desencantada se algum jovem apanhar nesse instante o novelo, o desfizer e deixar-se beijar pela serpente. Consta-se que muitas vezes lá foram tentar a façanha, mas nenhum consegue chegar ao fim com medo ao beijo da serpente. Por isso a moura lá continua encantada.
Fonte: Inf.: Virgínia da Conceição de Castro, 68 anos; rec.: Torre de Moncorvo, 2001.
Lenda da Ferrada
Diz o povo do Larinho, concelho de Torre de Moncorvo, que no lugar da Ferrada o barulhinho que se ouve – pim pim, pim pim, pim pim... – é de uma moura encantada de grande beleza que ali passa os dias a fiar e a chorar por se encontrar presa.
Todos os dias de S. João, à meia noite, vai estender as meadas de linho que fiou durante o ano, esperando que haja então algum cavalheiro que ali vá sozinho quebrar o encanto. Infelizmente os rapazes que lá vão, levam as namoradas, pelo que ainda nenhum lho quebrou.
Fonte: Inf.: Maria da Conceição Ferreira, 61 anos; rec.: Felgar, Torre de Moncorvo, 2001
A moura e o bezerro de ouro
Há no Felgar um lugar chamado Olhadela, situado na margem direita do rio Sabor, onde existem restos de um muro que antigamente tinha três argolas de ferro para os mouros prenderem os cavalos. Também lá existe um grande buraco, a que o povo chama “cisterna”.
Conta a lenda que nessa cisterna há uma moura encantada e um tesouro e que, para os encontrar, é preciso ir lá de noite com o livro de S. Cipriano. Já dois homens do Felgar lá foram a saber do tesouro. Chegaram, desenharam no chão um sino saimão e puseram dentro dele umas pedras para se sentarem enquanto liam o livro. E tudo estava a correr bem, até que, no meio de grandes estrondos, apareceu a moura com o bezerro de ouro.
Um dos homens, ao ouvir tamanhos estrondos, teve tanto medo, que só soube dizer:
– Valha-nos aqui Deus!
Ditas tais palavras tudo desapareceu. E os dois homens foram atirados pelo ar, indo parar muito longe dali: um foi ter à Amarela e o outro à Fonte Salgueiro rumo à aldeia. Nunca mais se atreveram a voltar lá.
Fonte: Inf.: António Felisberto Carrasqueira, 70 anos; rec.: Felgar, Moncorvo, 2001.
in:Mouros Míticos em Trás-os-Montes – contributos para um estudo dos mouros no imaginário rural a partir de textos da literatura popular de tradição oral.
Alexandre Parafita
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