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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

MEMÓRIAS ORAIS - António Pires

Já completou 95 anos e o sangue ainda ferve quando fala das injustiças a que assistiu na sua vida. Passou por muito mas nunca teve medo a nada. Nem ao Douro, esse gigante que tantas vezes atravessou a nado para ganhar mais algum.
“Aqui era um miséria, até caiam as lágrimas, de volta deles. Cheguei a passar aqui no Douro, na Matança, passei em muitos sítios mas onde passava mais era no Águeda, era a bau. Um dia levava dez mulheres e homens, e tinha chovido. Tinha um que nos passava no Águeda, e eu estava na Barca, chegou ao pé de mim, [oh ti António olhe que eu não me atrevo a passar o Águeda, que cresceu muito]. Peguei na tralha, abalei, fui lá eu e passei-os, o primeiro agarrado a mim e depois os outros passei-os agarrados uns aos outros, passei-os assim. Era uma calças de pana, uma blusa, era isso que passávamos”. 
A destreza era útil ao negócio e fez com que nunca fosse preso, nem nunca visse os guardas que se confundiam por entre as fragas. Uma ocasião passou sozinho e à corda, 100 kg de amêndoa partida. “Passava-a eu à corda, ele (espanhol) ficava com uma ponta do lado de lá e eu trazia outra para este lado, com uma taresga a rodar para um lado e para outro e era assim, essa noite como eu me vi para passar tanta amêndoa!”.
Emigrou para França “de assalto” à espera que a vida lhe melhorasse. Deu-se bem mas também passou lá muita tristeza confessa. “Passei muito mas lá me desenrasquei. Para onde ia todos me agarravam pela mão”. Quando regressou a Portugal ainda se dedicou à agricultura, comprou uma propriedade, “eram alguns 50 milheiros de vinha, oliveiras e amendoeiras”. 
Os dias por agora são passados na Estalagem onde comprou um quarto para si e para a esposa. Os cinco filhos já estão governados e António Pires pode agora gozar do tempo do descanso.

Texto: Joana Vargas


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