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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Três Lendas do Concelho de Torre de Moncorvo

A moura encantada de Adeganha

No antigo castelo de Adeganha [concelho de Moncorvo] existia uma passagem subterrânea que depois foi tapada. Lá dentro ficou uma jovem moira que os cristãos haviam raptado e ali encerraram. Era tecedeira e tecia fios de ouro. Pelo tempo fora, a moura ali ficou encantada.
Um dia, um pastor andava por ali, guardando as cabras. Subiu ao cimo das ruínas do castelo e espreitou por um buraco. Viu umas escadas e desceu por elas.
Começou a ver ouro, muito ouro. De repente, assustou-se e voltou a subir, cheio de medo. Ouviu então uma voz dizendo:
– Ah, ladrão, que me dobraste o encanto!
Era a voz da moura, lamentosa, que ali continuaria, encantada, pelos tempos fora. O encanto só podia ser quebrado por alguém que ali fosse à meia noite do dia de São João.
E foi o que aconteceu. Um outro pastor, que guardava ovelhas, deixou perder uma delas que entretanto parira. Foi procurá-la de noite. Subiu ao castelo para ver se escutava os balidos da ovelha e da cria. De repente, espreitou pelo buraco. E lá dentro, viu uma toalha branca, de linho, cheia de figos secos. E que apetitosos!...
Desceu, e foi encher os bolsos. Depois foi à procura da ovelha. Encontrou-a junto ao castelo, presa em umas silvas e acariciando o cordeirinho. Então meteu um figo à boca, mas... era de ouro. Os figos eram todos de ouro fino. Ouviu então um barulho leve, como de avezinha, e uma palavra cheia de ternura e felicidade:
– Obrigada!
Era a moura que voava, livre, para junto dos seus. O encantamento havia sido quebrado. Ficou da história uma quadra que o povo de Adeganha continua a cantar:

“Aqui está Adeganha,
Toda ela engalanada!
Ao cimo tem o castelo
Com sua moira encantada!”

Fonte: ANDRADE, Júlio – “Lenda da moira encantada de Adeganha”, in Terra Quente, Mirandela, 1-12-1999.


Lenda do Bezerro de Ouro

Há no termo do Felgar [concelho de Torre de Moncorvo], num sítio adonde é que chamam Olhadela, do lado de cá do rio, o castelo dos mouros. Ainda lá estão restos. E, nesse castelo, dizem que está um bezerro de ouro encantado. Já lá foram vários para tirar aquilo(64), mas aquilo não sai.
Diz que só saía à meia noite, indo lá um gaijo, que seja padre, a dizer missa.
Ora, havia ali um no Felgar, que tinha sido ordenado há pouco tempo, e veio aqui a Carviçais, ao Padre Tavares, a pedir os hábitos de padre, e o Padre Tavares emprestou-lhos.
Depois, uns dez ou doze gaijos juntaram-se e foram lá com ele a dizer a tal dita missa.
Formaram lá um altar e puseram-se então a dizer a missa. Às tantas, começaram a sentir barulho, e um dos fulanos, que lá estava a assistir à missa, disse p'ró gaijo que era padre:
– Ó Cacinho(65), o vitelo já urra!
Conforme ele disse aquelas palavras, alevantou-se tamanha ventaneira... uns
foram ter aqui, outros foram ter ali, outros salvaram o rio, e ninguém ficou lá. Só se
encontraram ao outro dia, um aqui, outro ali, outro além, sem saberem p’ronde é que
vieram nem p’ronde é que não vieram. Nenhum deles soube o caminho que tomou.

(64) Aquilo é uma designação que, na linguagem popular, procura traduzir o inexplicável, o satânico e, em muitos casos, o próprio Diabo – nome que o povo evita pronunciar (Parafita, 2000: 29)
(65) Cacinho é diminutivo de Acácio. Seria, por isso, esse o nome do jovem padre.

Fonte: Inf.: António dos Santos Dias, 65 anos; rec.: Carviçais, Torre de Moncorvo, 1999.


Lenda da Fraga da Pindura

No termo de Felgar, há uma fraga a que chamam a Fraga da Pindura. E então um senhor qualquer sonhou lá com uma moura encantada. E sonhou que ela lhe dava dinheiro. Resolveu, por isso, ir lá, e quando lá chegou apareceu-lhe uma cobra muito grande. O homem hesitou, e ia já a começar a fugir, quando ouve uma voz que lhe diz:
– Não fujas, senão dobras-me o encanto!
Ele enfrentou a cobra, a cobra beijou-o e logo se desfez na figura duma moura.
E diz-lhe então:
– Olha, tu agora não precisas de trabalhar, nem de fazer nada. Quando quiseres dinheiro, vens aqui à Fraga da Pindura, metes a mão aqui nesta fincha(66), e, todas as vezes que cá vieres, sai-te sempre uma moeda, ou duas, ou três.
Não sei já a quantidade que era.
Então o gaijo assim fez. Quando precisava de dinheiro, ia lá e saíam-lhe sempre aquelas moedas que ela lhe tinha dito. E desde então ele fazia ali uma vida de lorde no Felgar. Jogava, comia, bebia, e não trabalhava. A gente estava ali toda abismada. De onde é que lhe viria o dinheiro?
Num dia qualquer, foi p’rá taberna a jogar o chincalhão. Lá bebeu um copito a mais, e, quando estava a perder, os outros disseram-lhe:
– Hoije em vez de ganhares, perdes. Já perdeste aqui umas c’roas boas!
E ele, enraivecido, ao ver sair-lhe um cinco de ouros, disse:
– Troco! Vale seis! Enquanto a Fraga da Pindura o der, não há problemas. Não falta dinheiro!
Ao outro dia, porque tinha perdido e precisava de dinheiro, foi lá à Fraga da Pindura. Meteu lá a mão e já não saiu moeda nenhuma. Como tinha descoberto tudo, nunca mais tirou lá dinheiro nenhum.

(66) Designação popular equivalente a frincha.

Fonte: Inf.: António dos Santos Dias, 65 anos; rec.: Carviçais, Torre de Moncorvo, 1999.

in:Mouros Míticos em Trás-os-Montes – contributos para um estudo dos mouros no imaginário rural a partir de textos da literatura popular de tradição oral

Alexandre Parafita

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