O cântaro cheio de novelos de ouro
Há em Vale de Torno [concelho de Vila Flor] muitas fontes de óptima água potável. Entre estas, há uma de boa cantaria lavrada, dentro de um arco, com assentos dos lados, que é legendária(69). Crê o povo que ali habita uma Naiade, que não é mais nem menos do que uma moura encantada, que se ouve tecer, em um tear de marfim, uma teia de ouro, em todas as manhãs do dia de S. João, antes de nascer o sol. Há muitos que têm passado a noite em claro, para terem a ventura de ouvir tecer a moura, mas não o têm conseguido.
É ponto averiguado (e geralmente acreditado na freguesia...) que, indo certa mulher a esta fonte em uma das tais manhãs de S. João, em vez de água trouxe o cântaro cheio de novelos de ouro. A mulher, entusiasmada com tanta riqueza, exclamou:
– Santo nome de Jesus!
Foi a sua desgraça; porque apenas pronunciou o nome de Deus, os novelos de ouro desapareceram.
(69) Esta fonte é conhecida no seio do povo como Fonte de Paijoana (Pintado, 1998: 141) 152
Fonte: LEAL, Pinho – Portugal Antigo e Moderno, vol. 10, Lisboa, Livraria Editora de Mattos Moreira & Companhia, 1882, p. 91.
Na fonte do Lameiro de Cima
Há mouras e tesouros encantados (...) na fonte do Lameiro de Cima, termo de Vilas Boas [concelho de Vila Flor]. Em 1925 foram lá uns homens cavar para desenterrar o tesouro encantado, mas fugiram assustados ao ver o diabo ou a moura feita em horrendo bicho, e uma mulher foi levada pelos ares até cair no Cruzeiro do Prado.
Fonte: ALVES, Francisco M. – Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança, Vol. IX, Porto, 1934, p. 498.
As mouras de Freixiel
Segundo a tradição popular no Castelo [em Freixiel, concelho de Vila Flor] existiu uma povoação dos mouros e em todas as manhãs de S. João ali se ouve uma moura a trabalhar num tear. Outros afirmam que, no mês de Agosto, se vêem mouras a apanhar figos e a estendê-los nas fragas, nos tendais.
Fonte: MORAIS, Cristiano – Estudos Monográficos de Vila Flor: Freixiel, Vila Flor, Câmara Municipal de Vila Flor, 1995, p. 46.
Lenda da Fonte da Crica da Vaca
Esta fonte actualmente só corre desde o Outono até aos finais da Primavera. A água sai de uma abertura num colossal penedo a que, devido à sua forma, o povo chama Crica da Vaca. Segundo a tradição ali passou um cavaleiro, numa manhã de S. João, e tendo sede se baixou para beber, mas, quando o fazia, notando que qualquer coisa lhe entrava pela boca, parou de beber e viu que da fonte saía um grande colar de ouro. Então, muito contente, mas também assustado por pensar que podia ser coisa do diabo, benzeu-se e disse:
– Deus me ajude.
Nesse momento ouviu uma voz triste e distante dizendo-lhe:
– Ah, meu bom cavaleiro, que me desgraçaste, pois acabas de me dobrar o meu encanto!
E assim, diz o povo que ali continua uma bela moura encantada à espera de quem lhe parta o encanto.
Fonte: MORAIS, Cristiano – Estudos Monográficos de Vila Flor: Freixiel, Vila Flor, Câmara Municipal de Vila Flor, 1995, pp. 46-47.
Mil Almas e Covas
No termo de Carvalho de Egas, concelho de Vila Flor, há um sítio chamado Mil Almas e outro as Covas. E por tradição ouvia-se dizer aos velhos que a causa de chamarem Mil Almas e Covas fora porque no tal sítio fora a última batalha que os cristãos tiveram com os mouros quando os extinguiram nestas terras, aonde dizem que os mataram e os enterraram.
Fonte: ALVES, Francisco M. – Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança, Porto, vol. IX, 1934, p. 146.
Mouros Míticos em Trás-os-Montes – contributos para um estudo dos mouros no imaginário rural a partir de textos da literatura popular de tradição oral.
Alexandre Parafita
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