Foi vila e sede de concelho entre 1287 e 1855. Era constituído pelas freguesias de Múrias, Vilares, Fradizela, São Pedro Velho, Torre de Dona Chama, Vale de Gouvinhas, Fornos de Ledra, Guide, Meles, Regodeiro, Vale de Prados de Ledra e Lamalonga. Tinha, em 1801, 2 601 habitantes.
Após as primeiras reformas administrativas do liberalismo passou a integrar também as freguesias de Vale de Telhas, Aguieiras, Arcas, Espadanedo, Ferreira, Murçós, Vilarinho de Agrochão, Vilarinho do Monte, Bouça do Nunes, Ala, Agrochão e Ervedosa. Tinha, em 1849, 6 883 habitantes.
Voltou a obter a categoria de vila em 1989.
História.
TORRE DE D. CHAMA é uma Vila, sede da maior freguesia rural de Mirandela, que ocupa uma extensa área.
Dista desta cidade cerca de 24 km. Situa-se na margem esquerda do rio Tuela, a pouco mais de 3 km. É atravessada por diversos ribeiros.
A sua História é riquíssima, e, só por si, não cabia neste apontamento. Contudo, cabe-nos aqui dar algumas indicações importantes sobre esta terra transmontana.
Existindo já antes da Formação de Portugal, este nome de Torre de Dona Chama evidencia claramente a sua indicação de uma "Torre", e uma senhora local "Dona" do lugar, que se chamava "Chama ", proveniente de "Flamula" que deu "Chamôa" e depois "Chama".
Esta ligação de palavras é tão identificativa, que existe uma lenda local que nos mostra a relação dessas palavras com clarividência. O Dicionário Geográfico do Reino de Portugal vol. 37, folhas 73, assim o indica.
Nas chancelarias medievais surge com a designação de: Turris de Domina Flamula.
Já no século XIII, no Foral de D. Dinis, aparece com o nome de Torre de Dona Cliâmoa. Alguns historiadores indicam até uma certa coincidência com a lenda atrás transcrita, que uma nobre dama, Dona Châmoa Rodrigues, que ali teria vivido pelo ano de 960, e por isso consideram-na a fundadora da localidade.
Tem vastos achados arqueológicos, e vestígios que ainda hoje podemos testemunhar no local como o monumento tipo berrão "a Ursa" de pedra junto ao Pelourinho que nos fazem pensar em povoamento muito remoto. No Monte de S. Brás existe uma ermida àquele Santo, cuja capela está rodeada dos restos da muralha de um forte Luso romano.
Pensa-se que o próprio culto de S. Brás tenha sucedido após a ruína de um outro templo pré existente, a outro culto (talvez Santa Maria que é o orago local). É que o S. Brás não era dos favoritos da Alta Idade Média.
Estes muros castrejos sofreram as diferentes passagens de povos, dos romanos, dos mouros e dos cristãos entre outros.
O próprio Pároco local de 1758 é de opinião que aqueles restos de povoado no Monte de S. Brás, teriam sido a primitiva povoação da Torre, que depois se transferiu para o sopé daquele mesmo monte. Vários utensílios de cobre e bronze, além de alguma cerâmica, têm sido até encontrados.
Em Plena Idade Média, Torre de D. Chama começa a ganhar mais importância, inclusive estratégica. Nesse sentido, e para a repovoar, o rei D. Dinis dá lhe Foral em 25 de abril de 1287, renovando-o a 25 de março de 1299.
Mais tarde, D. Manuel I concede-lhe novo Foral a 14 de maio de 1512.
Contudo, a sua tradição municipalista deverá ter começado antes do século XIII. No tempo de D. Fernando, o senhorio da Vila passa para um fidalgo Castelhano, por este considerar o rei de Portugal como seu rei. Só que, com a Regência do Mestre de Avis, Torre de D. Chama passa para um português fiel, Gonçalo Vasques Guedes, ao mesmo tempo senhor de Murça.
Manteve-se nessa família de geração em geração.
A Paróquia, no século XVIII tinha pároco, provido pela Abadia de Guide.
O concelho é extinto em 1855, e era composto por várias freguesias dos actuais concelhos de Vinhais, Macedo de Cavaleiros e Mirandela, como Espadanedo, Ervedosa, Ferreira, Fradizela, Lamalonga, Guide, S. Pedro Velho.
Porém, devido a um bairrismo intenso, e a um desenvolvimento crescente, Torre de D. Chama passa a Vila de novo em 1991.
Mesmo sem ser concelho, como defendia o abade de Baçal e muitos dos seus habitantes, a Vila da Torre impôs se no conjunto das freguesias rurais de Mirandela.
Em 1530, segundo o numeramento dessa época o seu termo tinha 317 moradores distribuídos assim pelas suas aldeias de então: Lama Longa e Argana com 10 cada, Vilar d'Ouro, Ribeirinha com 6, Ferradosa, Mosteiró e Seixo com 7, Vai D'Amieiro 3, Couços, Regadeiro, Vai de Navalho com 9, Vilares 12, S. Pedro Velho 21, Fornos 18, Melles 25,Guide 37, Vale de Gouvinhas 17, Fradizela 26, Vale de Prados 14, Múrias 24 Gandariças 4, Vale Maior 11, Vila Nova 6.
Em 1796 o concelho tinha 1391 homens, 1289 mulheres: 4 barbeiros, 17 eclesiásticos seculares, 3 pessoas literárias, 41 sem ocupação, 6 negociantes, 4 cirurgiões, 2 boticários, 290 lavradores e 140 jornaleiros, 24 alfaiates, 20 sapateiros, 7 carpinteiros, 14 pedreiros, 4 ferreiros, 5 ferradores, 1 chapeleiro, 7 almocreves, 56 criados e 47 criadas.
Já em 1960 podemos indicar na Torre carreiras de camionetes para Bragança e Mirandela, sendo o principal comércio o azeite, cereais, fruta e vinho. Ali estavam instalados vários serviços económico sociais: 1 depósito de adubos, 2 agências bancárias, 1 agência funerária, 1 agência de jornais, 4 agentes de seguros, 4 albardeiros, 7 alfaiates, 1 grupo desportivo e Casa do Povo, 1 garagem de automóveis, 1 lagar de azeite, 1 negociante deste produto, 4 barbeiros, 2 cafés, 1 farmácia, 1 ferrador, 1 filarmónica da Casa do Povo, 1 depósito de gasolina, 4 latoeiros, 1 agente de máquinas agrícolas, 3 médicos, 7 mercearias, 4 fábricas de moagem, 3 pensões, 4 professores, posto de Registo Civil, 3 serralharias civis, 3 talhos, 2 tamanqueiros e três transportes de mercadorias.
Demografia:
Em 1950 tinha 2120 habitantes sendo 1.050 do sexo masculino e 1.070 do feminino.
Em 1960 tinha 1.890 pessoas e em 1991 eram residentes 1.587.
Segundo o censo de 2001 a Vila de Torre de Dona Chama possuía uma População de 1 386 habitantes, sendo 654 do sexo masculino, com uma Densidade de 50,1 hab/km².
População da Freguesia de Torre de Dona Chama (1950 – 2001)
1950 1960 1991 2001
2 120 1 890 1 587 1 386
Actividade Económica:
A freguesia da Vila de Torre de D. Chama tem vastos recursos, e os seus habitantes não se dedicam só à agricultura. Embora esta seja a actividade preponderante, a pecuária, o comércio, o ensino e outros serviços têm prosperado na localidade.
A que certamente não será estranho uma triplicidade de condições: a sua situação geográfica, ficando a 25 km de Mirandela, ou de Macedo de Cavaleiros ou de Valpaços, 50 km de Bragança, no coração da Terra Quente; a sua extensão de território; as suas potencialidades que a dinâmica dos habitantes e residentes sabem aproveitar. A agricultura tem a servi-la um comércio relacionado com as sementes, os enxertos, os adubos, calagem, rações e derivados, alfaias e máquinas etc.
Produz abundantemente azeite, vinho, frutas diversas e cereais.
Feiras:
As duas feiras, a 5 e a 17 de cada mês e as anuais de 5 de Novembro (Santos) e 5 de Janeiro (Reis), dão um ar de feiras francas e romarias, principalmente as duas últimas, atraindo muita gente vendendo ou comprando, e até convivendo.
Cultura:
No aspecto sócio cultural a Torre marca bem a diferença em relação às restantes freguesias rurais do concelho. Tem Casa do Povo e Delegação da Segurança Social com corpo médico, enfermagem e diversos serviços, que inclui ambulância. Agências Bancárias, Estação dos CTT, Posto da GNR, Bombeiros Voluntários fundados a 16 de Março de 1978. Possui uma Associação Cultural que já pretendeu recriar uma Banda de Música. O Grupo Desportivo foi fundado também em 1978.
A Festa dos Caretos a 26 de Dezembro representa a luta entre cristãos e mouros. Deriva das festas pagãs entre o bem e o mal, a luz e as trevas, o sagrado e o profano.
Segundo o povo é esta luta que está na origem da povoação de Torre de D. Chama em que os cristãos tomam o castelo de assalto aos mouros.
As festas típicas e tradicionais são: S. Brás, à volta de 3 de Fevereiro, sendo precedida pela festa de N.a Sr.a das Candeias que tem carácter regional e termina com a partilha das merendas que levam nos farnéis.
Festa do Divino Senhor dos Passos, no 2.° fim de semana de Agosto, é a Festa da Vila, de carácter cultural, recreativo e religioso.
Depois, a 14 de Setembro, há a festa do Divino senhor dos Aflitos com a sua pequena Capela.
A 25 e 26 de Dezembro é a festa de Santo Estêvão e dos Caretos. Esta última ganhou um tipicismo peculiar, embora com algumas alterações ao sabor dos tempos e da organização. Porém, ultimamente consta das seguintes partes: "Deitar os jogos à Praça" no dia 25, sobre a tarde. Ao escurecer é o "roubar dos burros". Depois "a Fogueira".
A 26 "a passagem da cigarrada ", pelas 10 horas é o Carnaval antecipado com rapazes vestidos de raparigas e vice versa. Chamam lhe "as Madannas". Após o almoço é a "bênção do pão" no adro da Igreja. E, finalmente é o "Correr a Mourisca".
Não faltam os reis mouros e cristãos, os caçadores e as mouriscas. É a apoteose da festa, com jogos próprios, gritos, caixas e bombos.
Turismo:
A Torre tem também muitos pontos de atracção turística. Desde a gastronomia ao artesanato, passando pelos lugares típicos, monumentos, romarias e festas e tradições.
Vários pratos relacionados com os enchidos e o presunto; No artesanato a latoaria, albardaria e tecelagem.
A Ponte Romana sobre o rio Tuela, o Monte de S. Brás, o Pelourinho e a sua "ursa" no Largo da Berrôa, a Igreja Matriz, o Santuário do Senhor dos Aflitos.
"Dom Denis pela graça de Deos Rey de Portugal e do Algarve. A todos aqueles que esta carta vyerem faço assaber que eu faço carta de foro pera todo o sempre a todolos pobradores da mha pobra que chamam a Torre da Dona Chamoa assy aos presentes come aos que am de vyr per tal preyto e sotal cindiçom que eles façam hy villa e aiam a tal foro come os da mha pobra de Mirandela saluo que lhys faço esta d'melhoria e de graça e de mercee que mi dem os meyos dos foros prymo dia de oytubro e os outros meyos primo dia de março, e mando que aiam por termho todolos termhos nouos e uelhos que pertencem adita Torre de Dona Chamoa quantos hy ora som conheçudos e os poderem seer achados adeante. E esses pobradores deuem affazer essa villa e muralhala de muro. E se eu hy quiser fazer alcaçeua fazela per mim e fazela guardar per mha custa. E eles deuem meter Juyzes per si que façam justiça e que a compram, e deuo eu hy meter meu Pobrador que pobre a terra. E se poder achar e uencer per dereito algüus meos herdamentos que mi dizem que mi teem enalheados en essa terra, outorgo que seiam seu termho da dita Pobra. E eu dou prazo de mi nom darem foros os que ia hy probarom deste Sam Miguel primeyro que uem da era desta carta ata dous anos conprydos. E dem a mim taes foros come os da dita Pobra da Torre de Dona Chamoa. E todolos outros que hy ueerem pobrar adeante nom mi dem os ditos foros do dia que começarem apobrar e a fazer as casas ata dous anos conprydos. E desy adeante dem amim e atodos meos successores os ditos foros y retenha para mim o Padroado da Eygreia ou Eygreias que hy forem feytas e ata dita villa deuem prouer a eygreia de Crelligo pelos dereitos da Eygreia, e nom lhys deuem hy apousar Ricomem, nem cavaleiro, nem outro homem poderoso que lhys mal faça nem lhys filherem do seu sen seu grado, assy na villa come nas aldeyas so pena dos meus encoutos, salvo se o conprar comunalmente per apreçamento dos Joyzes. E deuem filhar portagem assy como a filham os de Mirandela. E eles nm deuem uender nem en nen hüua maneyra alhear nem dar os ditos herdamentos nem parte deles à Ordem, nem abade, nem a crelligo nem a cavaleiro, nem a dona, nem asccudeiro, nem a nen hüua religiosa se nom a atal pessoa que faça assim e a todos meos successores cada ano o dito foro. En testemoÿo da qual cousa dey ende aeles esta mnha carta seelada do meu seelo de chumbo. Dante en Lixbõa XXV dias de Abril.
Elrrey o mandou.
Domingos Perez afez. Era M.ªCCC.ªXXV.ª"
(Chancel. de D.Denis, Liv.1,fls, 198 e v.)
Tradução
D.Dinis pela graça de Deus Rei de Portugal e do Algarve, a todos aqueles que esta carta virem faço saber que eu faço carta de foral para todo o sempre a todos os povoadores da minha povoação a que chamam Torre de Dona Chama, assim aos presentes como aos que hão-de vir por tal proveito e sob condição que eles façam aí vila e tenham foral como os da minha povoação de Mirandela, excepto que lhe faço aí melhorias graças e mercês que me dêem metade dos tributos no primeiro dia de Outubro e a outra metade no primeiro dia de Março. E mando que tenha por termo todos os termos novos e velhos que pertencem à dita Torre de Dona Chama, aqueles que agora são conhecidos e os que vierem a ser conhecidos posteriormente. E esses povoadores devem fazer essa vila e muralhá-la de muro e se eu aí quiser fazer castelo faço-o por mim e guarda-lo-ei à minha custa. E eles devem nomear juizes por si próprios que façam justiça e que a cumpram e devo eu aí meter povoador para povoar a terra. E se ele puder restituir à coroa algumas das minhas terras que me dizem andarem "desviadas" ordeno que passem a ser termo da dita povoação. E eu dou prazo de me não darem tributos os que já aí moraram desde S.Miguel primeiro que vem da era desta carta até dois anos cumpridos e dêem a mim tais tributos como os da dita povoação da Torre de Dona Chama. E todos os outros que a vierem povoar não me dêem os ditos tributos senão desde o dia que começarem a povoar e a fazer casas até dois anos decorridos, e daí em diante dêem a mim e a todos os meus sucessores os ditos impostos. Retenho para mim o padroado da igreja ou igrejas que aí se fizerem e os dessa vila devem colocar padre na igreja segundo os direitos da Igreja. E não deve aí alojar-se nenhum rico homem, nem cavaleiro, nem outro homem poderoso que lhes faça mal, ou que se apodere do que não é seu sem o seu consentimento, tanto na vila como nas aldeias sob pena das minhas punições, salvo se o comprar de acordo com o valor dos juízes. E devem cobrar portagens como cobram os de Mirandela, e não devem vender, nem de modo algum alhear, nem dar, as ditas terras nem parte dela a ordem, nem abade, nem clérigo, nem cavaleiro, nem dama, nem a escudeiro, nem a nenhuma pessoa religiosa excepto às pessoas que paguem a mim ou aos meus sucessores cada ano os ditos tributos. Para testemunhar o que dei dou-vos esta minha carta selada com o meu selo de chumbo.
Muito bem, caro Henrique. Um grande abraço do Ernesto.
ResponderEliminarOutro abraço para ti caro amigo Ernesto.
ResponderEliminarÉ um prazer "ver-te" por estas bandas.
Ernesto, quem escreve assim sobre a minha terra passa a ser amigo Ernesto e mesmo assim é pouco, gostei do que li, pela primeira vez alguem escreve fora da Queca que a Moura deu com o cristão . Um Abraço
ResponderEliminarVictor Medeiros