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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

À descoberta das antigas minas

Um pouco da história e do que está a ser feito para reabilitar as explorações de Ervedosa, Agrochão e Murçós.

Longe vão os tempos em que a exploração mineira vivia momentos áureos. Temos de recuar a meados do século XIX, em que a recuperação de minério conheceu um forte impulso, na época das duas Guerras Mundiais, em que Portugal fornecia os dois lados da batalha. Mas mudam-se os tempos, mudam-se as vontades e, neste momento, são poucas as minas que ainda se encontram em funcionamento. O Mensageiro partiu à descoberta daquelas que contam uma história passada, aquelas que já não mais colocam em rodopio as terras que, querendo ou não, distavam a poucos metros. As Minas de Ervedosa e de Agrochão, situadas no concelho de Vinhais, e as Minas de Murçós, já no concelho de Macedo de Cavaleiros, foram as escolhidas, numa viagem colectiva, com peritos e curiosos que quiseram conhecer as especificidades e as características singulares de uma região tão rica, como a transmontana. Num roteiro científico organizado à “medida de todos”, conheceu-se um pouco da história que fizeram destas minas uma referência para as localidades próximas. A Mina de Ervedosa, situada na freguesia com o mesmo nome, é acompanhada pela passagem do rio Tuela. Para atravessar de uma ponta à outra, só quem não tiver problemas de coração ou vertigens. Uma ponte suspensa, de madeira, sobre o rio obriga a uma cautelosa passagem. O grupo estava ansioso por querer explorar a mina, tal como o Mensageiro, mas o ajuntamento de água tornou impossível tal exploração. Gorado o primeiro objectivo, partiu-se para o cimo do monte, ao pé de uma das cortas. O percurso a pé cansa, mesmo o mais treinado, mas a paisagem de que se pode desfrutar compensa o esforço, sobrepondo-se até à tristeza de ver uma zona à beira da desertificação.

“Área mineira desactivada”: o passado...

As Minas de Ervedosa começaram a ser exploradas por volta de 1908, ano em que uma empresa belga começou com um “misto de subterrâneo e a céu aberto”, onde se construiu uma lavaria, na zona direita do rio. No entanto, nove anos volvidos, a exploração fora abandonada, sendo retomada em 1920 por uma empresa inglesa. Os trabalhos recomeçaram com a construção de uma outra lavaria, na margem esquerda, sendo, logo de seguida, novamente encerrada. Só a partir de 1928 que a exploração mineira conheceu novo fôlego, com o seu reinício através de antigos funcionários. Entre 1938 e 1965, as Minas de Ervedosa conheceram outro auge, tendo sido retirados, de acordo com a docente da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Elisa Preto Gomes, cerca de “seis mil toneladas de estanho e idêntica quantidade de óxido de arsénio”. “Esta mina de Ervedosa é uma mina onde se explorou o estanho e o arsénio, e onde existe uma mineralogia muito específica, como sejam o zinco, o cobre e o ferro. Desde 1969 que a mina está encerrada. “As explorações subterrâneas acarretam muitos mais custos e problemas, por isso começou-se a entrar numa fase de falência quase técnica, à qual a gestão financeira não ajudou”, avançou o geólogo, Nuno Figueiredo. Percorridos mais alguns quilómetros, entre poeira e estradas esburacadas, visitaram-se as Minas de Monte Agrochão e de Murçós.
Com presença maioritária de estanho e volfrâmio, a primeira mina, de acordo com documentação existente, situa-se na encosta Sul do monte, abençoado com a presença do santuário do Senhor da Piedade que, por coincidência ou não, está também em “situação de abandono”. “Aqui, há várias antigas minas, com uma minerologia complexa, desde minerais portadores de volfrâmio, que tiveram picos de exploração associados à guerra”, esclareceu a também responsável pela acção, Elisa Preto Gomes. Já a segunda mina, a de Murçós, possui uma beleza fora do comum, com três lagoas com água, cuja cor verde capta, num segundo, a atenção dos visitantes. “Existem ainda pequenas zonas que já estão camufladas na paisagem, como a antiga lavaria ou a zona oeste das cortas”, reforçou a docente.

... o presente

Actualmente, as antigas minas estão a ser alvo de uma “campanha de prospecção e pesquisa”, desde 27 de Maio de 2007. A empresa americana Mining Technology Investiments (MTI) é a responsável pelos “trabalhos de projecção mineira”, cujo objectivo centra-se na sua reactivação. “Dentro do grupo existem duas empresas. A MTI Mineira de Vinhais é a que detém a concessão Rebordelo-Murçós”, adiantou o geólogo responsável, Nuno Figueiredo. O estado em que se encontravam os acessos às minas foi um entrave ao início dos trabalhos. “Quando chegámos estava tudo abandonado, pelo que tivemos de reabilitar caminhos e determinar entradas a todas as cortas”, sustentou. A empresa concessionária começou por, numa primeira instância, fazer uma “leitura bibliográfica” de todas as obras e documentos sobre o assunto para, depois, poder avançar com os trabalhos. “Prosseguimos com uma campanha de geoquímica táctica, em que cobrimos toda a zona com uma malha de solos para sabermos quais os elementos que existem.” Assim que a equipa tiver a certeza que consegue implementar o projecto a longo prazo, para que se evitem cenários como os do passado, a empresa avançará para a sua reactivação. Nuno Figueiredo frisou, no entanto, que este tipo de trabalho “vive de ciclos que duram entre dez a 15 anos”.
A quantidade de arsénio presente nas minas poderá também ser um entrave. “É proibido utilizar este produto, pelo que, se começarmos a explorar, vamos ter alguns problemas, mas nada que não se resolva com cuidado ambiental”, realçou. “Os antigos exploradores não tiveram essa preocupação, pois colocaram as escombreiras a drenar directamente para as linhas de água.” Agora, os trabalhos estão em “stand-by”, mas está prevista a realização de “galerias técnicas” para determinar a “mineralização e os teores”.

Exploração: boa ou má?

A vontade do grupo de trabalho é “reactivar a mina”, porque acreditam que trará “mais-valias”. “Queremos explorá-la, dar um pouco de desenvolvimento a uma região que está tão esquecida, aborrecida e envelhecida.” Também a professora da UTAD vê com bons olhos a sua possível reabertura. “Numa zona com poucos recursos e despovoada, como são as do Interior, qualquer exploração mineira seria uma mais-valia, em termos de emprego e rendimento. E hoje, com as regras ambientais, a exploração deve garantir o mínimo de impacto ambiental.” Nuno Figueiredo não ignora “alguns problemas” que ainda estão associados às minas, nem a conotação negativa patente na sociedade. “Não se pode ignorar as pessoas que morreram com problemas relacionados com a mina. Muitos padeceram de silicose e outros por causa de explosões ou abatimentos.” Mas o geólogo asseverou ainda que o chamado “bairro das minas”, apesar de incluído na aldeia de Nuzedo de Baixo, “foi construído graças às minas”. “Estas não são assim tão más quanto isso, basta também relembrar que esta foi a primeira população a ter energia eléctrica e água canalizada num raio de bastantes quilómetros. As minas também trazem desenvolvimento, embora também tragam alguns problemas, mas estes têm que ser e serão todos minimizados.”

Actividades de Verão

Numa organização da Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica – Ciência Viva -, estas iniciativas apresentam-se como uma alternativa pedagógica e de lazer, para todos os públicos. “A Ciência Viva lança o repto às instituições universitárias para organizar as visitas e, neste caso, escolhemos este percurso para mostrar os diferentes tipos de minas, para realçar a importância que tiveram no passado e o que está a ser feito no presente”, avançou a docente Elisa Preto Gomes. Com uma adesão de cerca duas dezenas de pessoas, este evento tem cativado o interesse, porque a “maioria das visitas tem esgotado pouco tempo depois de abertas as inscrições”.
Por: Ana Teixeira

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