Por: Fernando Calado
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Cumpriu-se o ciclo. E não peço muito à vida. Só quero, em cada ano, ver de novo a minha cerejeira vaidosa de cerejas e as roseiras surgirem do silêncio invernal num cântico de rosas. E isso me basta… Por isso, o ciclo cumpriu-se de novo no milagre de uma infinidades de cerejas e no esplendor de milhares de rosas. Isso me basta…
Depois na minha aldeia ninguém tem grandes certezas e como eu espreitam os astros…rezam aos santos…vão à bruxa…encomendam as almas…fazem penitência e transcendem-se na folia da festa...e desconfio que são felizes…pois, como eu, somente, esperam que os ciclos se cumpram no milagre da batata nova, do morango escarlate, da pêra discreta, do figo temporão, do poema em linguagem de trigo e centeio…no ouro feito azeite…no beijo da fonte de águas cristalinas…e desconfio que são felizes!
Por isso, todos os dias regresso ao paraíso…a cadela dorme tranquila à espera do dono e sorri como a gente…os vizinhos falam das dores do corpo e da alma…mas sem azedume como quem respeita as leis da natureza…e eu, como quem entende a sabedoria milenar, de novo ganho um nome de gente…para além da crueza dos títulos profissionais…
Na minha aldeia somos todos iguais…e acho que ninguém tem grandes certezas…e quando alguém…em tempo de promessas e de sonhos promete mais do que aquilo que pode…nós sorrimos e somente pensamos alto como o Tio Vila Real que era o pobre mais pobre das redondezas: - Quando a esmola é muita desconfia o pobre!
…por isso vou à horta espreitar o renovo…apanho dois cogumelos no sossego do monte…pergunto à tia Angélica se será boa lua para engarrafar o vinho…e depois de comer vou-me deitar…como se todo o mundo fosse uma coisa muito bonita…e certinha…à medida da minha aldeia…por favor deixem-me sonhar...
Fernando Calado nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança.
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.
Número total de visualizações do Blogue
Pesquisar neste blogue
Aderir a este Blogue
Sobre o Blogue
SOBRE O BLOGUE:
Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço.
A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)
(Henrique Martins)
COLABORADORES LITERÁRIOS
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário