(Rui Dias José) |
Mas…
Se a nossa agricultura quase não produz aquilo de que se construíam as «dietas» das diversas regiões, fará sentido pretender continuar a considerar a Gastronomia Portuguesa como nosso Património Cultural. Quando, até para uma simples sopa de grão, só quase o temos… importado da Turquia!
Se os desvarios de políticos que não conhecem o pais (e quase se assumem como meros executores de delirantes traduções de «Regulamentos da Comunidade Europeia») comandam as actuações uma ASAE autoritária que nos pretende vedar o acesso aos sabores de um queijo saído de uma tradicional “rouparia” de Mértola”, proibir formas de fabrico artesanal de uma chouriça transmontana ou de um presunto de Safara…
Se uma legião de «bem pensantes», mais uma serie de «associações» - algumas ditas de utilidade pública (?!!!!) - passaram a pretender decidir por nós aquilo que se pode comer, aquilo que (na teia dos interesses económicos que sustentam as suas actividades) nos manteria sãos como um pêro (devidamente higienizado, asséptico e padronizado), e aquilo que (é o que nos prometem!) nos manteria jovens e bonitos…
Terá algum sentido (na crescente escassez dos nossos produtos e na exponencial diarreia de legislação coerciva e violadora dos nossos direito individuais) continuar a falar de Gastronomia Portuguesa, pretendendo até que ela pode ser cartaz turístico? quando o que vai ser servido – na mais das vezes – já nem sequer tem na base produtos portugueses?
E, (mais grave ainda!) tudo isto… enquanto assistimos (permitimos? determinamos?) à condenação á morte do país rural, única fonte de produção das tais coisas que iriam permitir o estabelecimento das diferenças e a manifestação da identidade?
Porque… se a Gastronomia nada tem a ver com o Território, com os Produtos, com as formas originais que as Populações encontraram para garantir sustento e sobrevivência, se é apenas uma questão de truques e receitas, qualquer restaurante de Nova Iorque, com um bom livro das ditas, poderá intitular-se de Gastronomia Portuguesa. Como já o fazem os chineses em relação aos tapetes de Arraiolos…
E aí, despeçam-se da Gastronomia como Produto Turístico ou como desafio de viagem.
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