Saber ninhos de rola era uma tarefa que, após terminarmos as aulas, nos ocupava dias e dias, com os estômagos vazios e as calças e camisas esgarnachadas, percorríamos o termo até ao garrancho apatanando ali, comendo-se umas azedas ou umas conachas acolá ou umas manápulas de tagolhete.
Ao regressar a casa esperava-me a minha mãe de vergasta ou laços (cordas) em punho dando-me uma sarona e dizendo: - é para te ficar o dia na lembrança!
Na primeira oportunidade, e quando me inculcavam um ninho lá ia eu, sobe sobreiro, desce sobreiro e nada. Nada, não! Muitas vezes, subia-se aos sobreiros despido para não rasgar a camisa, porque os rasgões do peito e da barriga lá se tapavam. O que era importante era safar-nos da data ou de «dançar na corda».
Quando descobria um ninho achava sempre que os rolos ainda estavam pequenos e quando lá voltava, agarrava-os no rastro.
Mas, a gaiola de canas ou pauzinhos, feita pelo Acácio da Estrela (Aniceto) ou pelo João Pedro (Maia), estava sempre à espera e a tarefa de dar trigo aos rolinhos era minha. Arranjava uma manhuça de espigas gradas e esgranhava-as, depois, punha o rolo no meu colo e com a mão esquerda abria-lhe o bico e com os dedos, indicador e «polgar» da direita, deixava-lhe cair os grãos de trigo na gola. A meio da refeição era preciso dar-lhe uma pouca d«’auga» e a seguir apalpar-lhe o papo para ver se já estava cheio.
O dar de comer, pelo bico, aos rolos era uma tarefa arriscada. Se lhes desse pouco grão podiam morrer à fome e se lhes desse «munto» e depois os empanzinasse d’«auga», esta fazia-lhe inchar o papo e rebentavam de fartura. Poucas eram as rolas que se criavam. Ter várias rolas numa gaiola era ser visto com inveja pelo demais rapazio.
Hoje, era incapaz de meter uma ave brava numa gaiola porque acabava por padecer mais que ela.
Por: Jorge Lage
Jornal NetBila
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