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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Gajas Boas

OPINIÃO
 Luís Jales de Oliveira

Junto de minha casa funciona uma Lar de terceira idade. Os utentes, idosos de todo o Concelho, deambulam pelas redondezas com olhos tristes e enevoados. Com olhos de infinito. Como se já tivessem partido mas não conseguissem chegar.
Cruzo-me com eles e se lhes dispenso um cumprimento mais caloroso parecem ressuscitar duma morte anunciada. 
Um deles, estampa notável de longos cabelos de linho, arrebitado bigode de profeta, moleiro de trocas e de maquias, tocador de cavaquinho e animador de bailaricos, quedava-se mudo e alheado a qualquer tentativa de conversação. Fechado na redoma dos poetas, ou como se fosse um falcão que pairasse alto demais. Um dia apanhei-o sorridente e adoçado junto da frontaria envidraçada dum Banco da nossa rua, a sussurrar não sei o quê para um qualquer interlocutor que eu não conseguia visualizar. Aproximei-me curioso e intrigado com aquela invulgar disposição do tocador de cavaquinho. Derretia-se em desafios e impúdicos convites às gajas da publicidade, às estrelas da televisão que vendiam taxas falsificadas e empréstimos enganadores, nos placards da frontaria: - “Anda comigo princesa. Se te ris é porque queres. Dá-me um beijo coração!”
As propostas da publicidade poderiam não estar a passar mas os atributos das modelo faziam passar o moleiro.
Nos dias seguintes continuava mudo e alheado a qualquer tentativa de  conversação, mas sorridente e adoçado com os posters do BPI e agora, ultimamente, com cartazes dos CTT. Com meninas da Telecom, dengosas, oferecidas…
Coitado, pensava eu, é triste perder o tino…
Comecei a mudar de opinião à medida que o reconhecia feliz. Comecei a mudar de opinião à medida que ia descobrindo que, se calhar, a verdadeira felicidade está em se perder o tino e a ditadora noção da nossa cruel realidade. E, então, imaginei uma pequeníssima adenda àquele “Sermão” redentor,  que o Filho do Homem ditou, lá do alto da “Montanha”:
- Bem aventurados falcões que pairam alto demais, poetas desatinados, moleiros da utopia, tocadores de cavaquinho, que vão fintando a partida a “julicar” gajas boas.
(JULICAR – Termo inventado pelo Martim Queimado, mais conhecido por “Martelage”, salteador e bandoleiro, que significa ver, captar, apreciar e engatar).

in:http://www.jornal.netbila.net

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