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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

O SR. MONTEIRO


Apesar da grandiosidade semântica, a palavra Augusto será considerada banal no conclave dos nomes atribuíveis aos humanos. Um qualquer Bernardo possui outro pedigree.
Se o venerável Augustus, Augusto, nos dias de hoje, não suscita entusiasmo nos corredores dos registos civis, o imperial César também pouca atenção merece aos progenitores do momento. E, no entanto, Augusto e César são nomes tremendos, poderosos, sinónimos de força, vitória, riqueza, mando e de poder: poderem mudar a história ao sabor de um capricho, desejo e ambição.
Ora, o Sr. Monteiro também era Augusto César.
Apesar de o ser, jamais andou ao sabor dos desejos, nunca ambicionou poder, nem desejou ficar perpetuado em nenhuma história, mesmo pequenina ou alegre. Mas ficou.
Na história risonha, garrida e desenfafada de Bragança.
Eu morava bem próximo da casa dele.
Na minha primeira adolescência iniciava o dia deslocando-me à Igreja da Sé, a fim de participar em actos religiosos. Fazia parte de um grupo iniciado na catequese, debaixo da batuta do então Padre Ruivo.
O Sr. Augusto César gostava de nos ver no Templo, dizia-nos palavras amáveis, secas, apressadas. De resto, não me lembro de o ver em passo repassado e cauteloso, mesmo quando o vento o apanhava na Rua da República e lhe lançava na cara chuva forte e torvelinhos de folhas vindas do jardim do republicano António José.
O Sr. Monteiro possuía um comércio de tudo, sendo muito requesitado pela freguesia e pedintes. 
Ora, num dia de aperto, surge no estabelecimento um beberrão a rogar contributo ao atarefado comerciante. O “abolo” destinava-se a comprar vinho. O Sr. Monteiro negou o pedido, tendo recomendado ao adorador de Baco outra bebida. Uma mistela fedorenta. Ele também a bebia.
A nova espalhou-se num ápice. Toda a cidade entoava: “bebe merda que o Monteiro também a bebe”.
Homem pio, quando viajava não desperdiçava nenhuma oportunidade para visitar e orar em Igrejas, capelas, ermidas e nichos.
Uma viagem rápida de Bragança a Lisboa durava no mínimo uns três dias, para exaspero dos acompanhantes.
No auge da telenovela “Gabriela”, convidou alguns familiares a acompanhá-lo a Zamora, a fim de comprarem primícias alimentares. 
Os convidados colocaram uma condição: “ Sim, vamos a Zamora, caso o regresso se verifique a tempo de vermos a Gabriela”. 
Prometeu chegar a horas de todos verem o folhetim que fazia interromper as reuniões governamentais.
Mas uma coisa foi prometer, outra foi cumprir. Isto, porque o Sr. Monteiro cedo começou o ciclo do pára-anda-pára da devoção.
No regresso de Zamora todos se retorciam nos assentos do automóvel devido ao adiantado da hora. Impávido e sereno, Augusto-venerando, zupa que zupa, continuou a peregrinar sem atender a rogos ou pedidos.
Perdia a oportunidade de ver as peripécias de “seu” Tonico Bastos, de contemplar o farfalhudo bigode de “seu” Nacib e o sorriso esplendoro de Sónia Braga, a prima Julieta não resistiu à tentação de rogar ao primo César: “Já agora, reze um padre-nosso pela Gabriela”!

in:Figuras notáveis e notórias bragançanas
Textos: Armando Fernandes
Aguarelas: Manuel Ferreira

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