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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Carta para um amigo da cidade

POESIA - António Cabral por Alzira Cabral















A vida aqui decorre normalmente.
Nada de novo ou pouco.
O tempo anda na montanha,
circula como um bicho em fruto oco.


Que hei-de eu dizer? Que faltam
braços de homem para o campo
e há quem se ponha a entristecer
com sua inútil razão?


Não sei se entendes. Estamos em Dezembro
e por aqui apanha-se a azeitona.
Como os braços não chegam,

formam-se limos no fundo dos olhos.

É muito natural que não entendas.
Aí na cidade os hábitos são de vidro
e fala-se de nós como quem
espreita a neve detrás da gelosia.


Mas a vida decorre normalmente.
De tarde iludi as férias com duas
horas passadas no olival.
Suei. Provei que tinha músculos.


Sabes como se colhe a azeitona?
Bate-se nos ramos com uma vara comprida
e, sobre uns toldes, como se chovesse,
o ouro, ainda preto, vai caindo.


Estive a ponto de citar Virgílio.
Quase o via ao pé de uma giesta.
Coroado de alegria, de charuto,
botas brancas e ar de conselheiro.


Mas não citei. Impediu-me
uma velha que sofre de reumatismo
e, com esforço, com os dedos tortos,
apanhava a azeitona, sem um gemido.


Que hei-de eu fazer? Bem sabes
que não sou político nem posso.
Vou pensando e escrevendo
com a alma assente nos ossos.


E é tudo. Não me alongo. Estou com sono.
Aqui é meia noite verdadeira.
Ladram os cães. Há lua, com certeza.
Que paz, embora oca, a desta aldeia!


António Cabral, in Os homens cantam a Nordeste
in:http://www.jornal.netbila.net

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